Classificado pela organização como um “gesto de luta” em prol dos realizadores mais jovens, num contexto tão adverso a eventos públicos, o Ymotion 2020 já rola em Famalicão. Em competição, estão, até quinta-feira (5), 45 filmes, divididos por seis sessões, de realizadores com idades entre os 12 e os 35 anos.  Esta edição do Festival de Cinema Jovem de Famalicão vai contar também com a presença da realizadora Ana Rocha de Sousa, que arrecadou seis prémios no Festival de Veneza deste ano pelo filme “Listen” e que vai exibir, na sexta-feira (6), uma curta-metragem da sua autoria. A programação deste ano inclui ainda uma homenagem ao ator brasileiro Rodrigo Santoro e um tributo ao ator português Diogo Morgado. O festival termina no sábado com a sessão de entrega de prémios, na qual o ator Nuno Lopes irá receber o Prémio Carreira.

Este ano, o número de participações manteve-se, apesar da crise pandémica que vivemos, segundo a organização. A seleção foi, contudo, mais reduzida – em 2019 estiveram 180 curtas-metragens a concurso – e a organização do Ymotion teve de repensar o festival, por forma a incluir o máximo de gente e, ao mesmo tempo, cumprir as normas determinadas pelo Governo e pela DGS.

Rui Pedro Tendinha, comissário do Ymotion, confirmou em conversa com o JPN que “este ano, o festival tem um pendor online. Tudo o que vai acontecer em Famalicão vai poder ser visto em casa das pessoas através do site”. Haverá transmissões em direto, através da plataforma Zoom, de todas as conversas e dinâmicas do festival. Para ter acesso ao link, basta estar atento aos sites do Ymotion e da Câmara Municipal de Famalicão. Presencialmente, o festival terá lugar na Casa da Juventude, no Centro de Estudos Camilianos e na Fundação Castro Alves, com uma lotação muito reduzida.

Jovens “não estão esquecidos”

A nova normalidade trouxe consigo novas responsabilidades. Para o Ymotion, uma delas é apoiar a cultura, um dos setores mais atingidos pela crise pandémica. “Congratulo-me com a decisão do município de Famalicão de fazer questão de manter o festival”, sublinha Rui Pedro Tendinha. “O Ymotion premeia com dinheiro as produções dos jovens, e acho que nesta altura não há melhor incentivo do que realizar um festival que diga aos jovens realizadores ‘vocês não estão esquecidos’”.

“Júlia” de Filipa Silva integra também a competição. Foto: D.R.

Na sexta-feira, a Mostra do Novíssimo Cinema Português irá ter uma conversa dinamizada por Rui Pedro Tendinha em torno do acting” no nosso país: “Creio que, muitas vezes, em festivais estrangeiros e em Portugal, a figura do realizador é como se fosse um ‘todo supremo’, um ‘todo poderoso’ e, por vezes, esquece-se do papel do ator, que é uma das peças mais fundamentais do resultado de um filme”. Tendinha destaca a importância de os realizadores da nova geração terem a noção do que é isso do ‘bicho’ do ator e, nesse sentido, estarão presentes as atrizes Sara Barradas e Catarina Wallenstein para falar sobre o assunto e inspirar jovens atores.

No que respeita às produções cinematográficas em competição no festival, Rui Pedro Tendinha deixa uma nota positiva: “Esta geração está a fazer um cinema português diferente, mais direto, com uma criatividade que desafia convenções e que não precisa de grandes orçamentos, e essa é que é se calhar a surpresa: estamos a conseguir encontrar curtas-metragens de low-budget que parecem grandes produções”.

Ainda assim, e falando de um modo mais abrangente, há ainda vários aspetos a melhorar relativamente aos incentivos ao cinema jovem em Portugal. “Nas escolas secundárias, por exemplo, tem que se encontrar nas várias disciplinas uma maneira de se mostrar que o cinema não é apenas um modo de entretenimento. É uma arte, tão legítima como a literatura ou a música”, aponta Rui Pedro Tendinha. “Tem que haver um reforço na educação no sentido de se poder dar alguma teoria sobre esse assunto e tentar explicar que o cinema não é só filmes de ação da Netflix. E este é um trabalho que em Portugal não está a ser feito”.

O festival Ymotion acaba por ser, este ano, um “um gesto de luta”, marcado pelo simbolismo de estar a acontecer, ainda que a uma escala muito reduzida, numa altura em que tudo é incerto, diz-nos o comissário do festival. Não obstante, a organização considera que o programa desta edição está muito apelativo e acredita que vai conseguir chegar a muitos jovens, sobretudo por meio das transmissões online em direto.

O argumentista Tiago R. Santos está encarregue da presidência do júri, a quem cabe a decisão de atribuir o Grande Prémio Joaquim de Almeida, no valor de 2500 euros. A equipa de júris, composta por Patrícia Vasconcelos (diretora de casting), Luísa Sequeira (realizadora), Tiago Alves (jornalista), Samuel Silva (jornalista) e Pedro Cabeleira (realizador), está também responsável pela atribuição dos prémios Escolas Secundárias e Melhor Documentário, ambos no valor de 750 euros, o Prémio Melhor Curta de Animação no valor de 600 euros e os Prémios de Melhor Representação, Melhor Argumento e Melhor Direção de Fotografia, todos no valor pecuniário de 250 euros. O público também poderá votar no seu filme preferido, que receberá 350 euros.

Artigo editado por Filipa Silva