O tempo não corre de feição ao comércio local, mas o facto não impediu a “Music&Riots” de arriscar. Criada em 2015, a publicação online independente tem desde 14 de setembro uma morada física na loja 23 do Centro Comercial Bombarda, no Porto. Um espaço que lhes serve agora de escritório, local para partilha de ideias e, claro, para a venda de discos. O vinil é indubitavelmente a estrela, no entanto, é também possível encontrar CD e cassetes.

“Não há nada melhor do que uma loja física. Uma loja física continua a ter o poder de vir a ser um pilar na comunidade, influenciar pessoas, obrigar pessoas a descobrir coisas novas. O toque com o material é fundamental”, declara ao JPN Fausto Casais, fundador, editor e designer da “Music&Riots” e agora co-proprietário da loja homónima, a par de Rui Correia. Orientar escolhas e “partilhar paixões” são vantagens óbvias para Fausto Casais no confronto entre a venda física e a online.

A oferta em loja é abrangente, sendo possível encontrar à venda trabalhos assinados por bandas como Amenra, Bikini Kill, Code Orange, Touché Amoré, Nails, Converge, L7, Sleep, Metz, Chelsea Wolfe, Green River e Fugazi, entre muitos outros, tocando géneros que variam do doom metal até ao hardcore punk, sem deixar para trás o folk, a eletrónica ou até mesmo o hip-hop. Isto significa trabalhar com uma lista de editoras especialmente aclamadas, por exemplo, a Sargent House, a Southern Lord Records, a Sub Pop e a Relapse Records.

A loja abriu portas no Centro Comercial Bombarda, no Porto. Foto: Ana Torres

Para Fausto Casais, uma das estratégias mais interessantes que um fã de música pode seguir é expandir os seus gostos baseando-se não em géneros musicais específicos, mas antes na descoberta de uma determinada editora e explorar os trabalhos dos seus artistas.

Na “Music&Riots” os preços dos vinis variam sensivelmente entre os 15 e os 30 euros, sendo que por norma discos de editoras independentes como a Sargent House tendem a ser dos mais dispendiosos: neste tipo de editoras a receita é gerada na sua maioria através de concertos e tours, que devido à pandemia têm sofrido uma onda de cancelamentos e adiamentos, refletindo-se este corte nos ganhos com a venda de merchandise e discos a um preço mais elevado.

Revista em papel ainda “este ano”

Inteiramente escrito em inglês, o site da “Music&Riots” dedica-se à divulgação do universo da música. Playlists com curadoria de artistas, lançamentos, críticas e entrevistas são apenas alguns exemplos dos conteúdos que por lá podemos encontrar. Existe ainda uma secção dedicada ao cinema, que conta, também ela, com críticas e recomendações.

Além de informação de atualização permanente, o site é também casa de uma revista já com 26 números editados online. A última, de março de 2020, não contou com qualquer tipo de publicidade, mas excecionalmente e “por opção”. Fausto Casais justifica a decisão com a vontade de dar primazia ao conteúdo e ao statement daquela edição. Uma revista física está prometida para “sair este ano”.

Fausto Casais é o fundador da “Music&Riots” Foto: Ana Torres

A personalidade DIY e extremamente politizada da marca não é segredo nenhum, declarando-se publicamente antifascista e apoiante de variadas causas. Por exemplo, na publicação no Instagram, onde é mostrado apoio ao movimento “Black Lives Matter”.

Inspirada pela cena do harcore punk dos anos 80, este tipo de visão e a importância dada à consciencialização social não são surpresa: um dos mais importantes bastiões desse movimento é o apoio à cena local, ou seja, a bandas, salas de espetáculos, promotores e tudo o que gravita nesse universo. Apesar disto, as paredes da “Music&Riots” estão cobertas na sua grande maioria com trabalhos de artistas estrangeiros.

Para Fausto Casais, apoiar a cena local presume a existência de uma, quando, na sua visão, “a local scene não existe no Porto.” “Não existe cena do punk, não existe cena hardcore…. Existe uma cena de metal”, atira, sublinhando, ainda assim, que “há muitas bandas com qualidade”, dando os Gaerea como um exemplo. Mais do que o som, diz, interessa-lhe a mensagem na curadoria que faz: “cada vez mais a arte tem o poder de mudar e de educar, politicamente, socialmente, e não só”, defende.

Para o futuro, a “Music&Riots” promete crescer com “mais stock” na loja, mais merchandise próprio e “mais escolhas de risco” com apostas em estilos diferentes. A vontade de arriscar e aventurar-se por caminhos inexplorados está bem presente, com o intuito de criar uma comunidade e aproximar os fãs da loja e dos artistas, o que deverá passar também pela organização de eventos próprios. Nas palavras do co-proprietário do mais recente ponto de encontro para amantes da música, “há muita coisa para fazer”.

A “Music&Riots” tem as portas abertas de segunda-feira a sábado no Centro Comercial Bombarda. Entre os dias 14 e 21 de novembro, o centro comercial terá o horário reduzido, de forma a cumprir as medidas do novo estado de emergência, funcionando de segunda a sexta entre as 10h00 e as 19h00 e aos sábados das 10h00 às 12h30, encontrando-se encerrado aos domingos.

Artigo editado por Filipa Silva