Cientistas colocaram microorganismos extremófilos em amostras do meteorito “Black Beauty”, ejetado da superfície de Marte, há dois mil milhões de anos, e que viajou até à Terra. Os resultados, divulgados a 19 de fevereiro, indicam que os micróbios da espécie Metallosphaera Sedula, que se alimentam de metais, conseguiram obter fontes de energia, desenvolver-se e até mesmo criar colónias nos pedaços de rocha marciana.

Enquanto o rover Perseverance, recentemente enviado e instalado na cratera Jezero, procura biomarcadores no solo enferrujado de Marte, pesquisadores na Terra “cultivaram” micróbios em amostras do meteorito NWA 7034, mais conhecido como “Black Beauty”, uma pequena rocha marciana, que pesa apenas 320 gramas, encontrada no deserto marroquino em 2011.

Análise ultraestrutural elementar de M. sedula cultivada em NWA 7034

O Metallosphaera Sedula trata-se de um microorganismo procarionte, sem um núcleo organizado, capaz de se alimentar de minerais presentes nas rochas, onde são escassos os nutrientes necessários para sustentar a vida tal como a conhecemos.

As observações verificaram que estes micróbios, classificados como quimiolitotróficos, prosperaram e até se multiplicaram mais rapidamente nas amostras marcianas do que em outros ambientes terrestres, de acordo com o estudo publicado na revista científica “Nature Communications Earth and Environment”.

Podemos supor que formas de vida semelhantes aos quimiolitotróficos existiram nos primórdios do Planeta Vermelho”, explica a astrobióloga Tetyana Milojevic, coordenadora desta investigação experimental, realizada com o objetivo de encontrar “impressões digitais microbianas” existentes nos meteoritos. “Os micróbios, cultivados no material da crosta marciana, formaram uma cápsula mineral robusta, feita de fosfato de ferro, magnésio e alumínio”, refere a autora do estudo.

Possíveis formas de vida ancestrais em Marte podem ter sido capazes de usar os recursos disponíveis no Planeta Vermelho para obter energia a partir de fontes minerais inorgânicas e transformar dióxido de carbono em biomassa”, defende a equipa de investigadores.