De alunos para alunos, a BRASA foi fundada em 2014 por um conjunto de cinco jovens brasileiros que estudavam nos Estados Unidos da América. Longe do Brasil, sentiram a necessidade de criar uma “comunidade” de pessoas que estavam a estudar fora do Brasil para se apoiarem mutuamente, e “para criar eventos, ter uma rede de networking, para  comunicar”, começa por contar Victor Petisco ao JPN. Victor estuda na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) enquanto ocupa o cargo de CEO da zona Europa da associação e explica que, desde aí, o projeto “foi expandindo”.

Neste momento, já contam com uma vasta rede que engloba cerca de nove mil estudantes presentes em 90 universidades espalhadas pelo mundo. Em Portugal, têm comunidades no Porto, Aveiro, Coimbra e Lisboa.

O mote é “empoderar a próxima geração de líderes brasileiros”. Mas o que a organização deseja é ser reconhecida como uma “entidade que é formadora de lideranças tanto para o Brasil como para o ambiente em que as pessoas vão estar inseridas”, sublinha Victor. A BRASA organiza conferências internacionais, tem programas de mentoria e oferece bolsas de estudo a alunos de excelência com baixos rendimentos.

Programas da BRASA

De forma a facilitar o acesso dos estudantes a educação superior fora do Brasil, a BRASA promove iniciativas que juntam pré-universitários e graduados a alunos que já estudam no exterior. O objetivo é que os estudantes tenham um mentor com o percurso mais semelhante possível ao que desejam seguir: “nós selecionamos alguns estudantes que estão no Brasil e realizamos o pareamento com estudantes que já estão aqui fora nas universidades para onde as pessoas querem ir”, explica Victor.

O processo começa antes da candidatura e o mentor auxilia o estudante na preparação para a vida universitária, “tanto em termos de estudo como em termos de documentação”. Depois da chegada ao país de destino, o ideal é que esta ligação se mantenha, para que o mentor possa “também ser uma ponte para quando o estudante chegar já ter alguém que conhece, que está familiarizado e permitir que ele se insira no ambiente universitário um pouco melhor”, sublinha.

A organização ainda não colocou nenhum estudante no Porto através desta iniciativa – a organização é ainda recente na Invicta -, mas o JPN esteve à conversa com dois jovens que continuaram os seus estudos em Portugal este ano. Para Paula Vargas de Lima, que integra o mestrado de Gestão, Empreendedorismo e Inovação na Universidade do Algarve, o programa foi uma grande ajuda na mudança de país: “qualquer dúvida que eu tinha, alguém, em algum lugar do mundo, de alguma universidade, ia ter passado por aquilo e ia esclarecer a minha dúvida”, descreve. Em Portugal há dois anos, a estudante planeia regressar ao Brasil no futuro, mas admite que mesmo que isso não aconteça, fica conquistado “um perfil de liderança” para ajudar “pessoas que estão buscando esse teu caminho”.

Rafael Brotherhood, estudante da Universidade de Lisboa no mestrado de Relações Internacionais, explica que não conseguiu estabelecer uma relação muito próxima com a sua mentora, mas isso não o impediu de seguir o seu percurso. Tendo como objetivo trabalhar na Organização das Nações Unidas (ONU), o estudante deseja “retribuir tudo” o que o Brasil já lhe deu “nos organismos internacionais”. Apesar de não ter tido a melhor experiência no programa, Rafael tem nos seus planos vir a integrar a equipa para “auxiliar outros brasileiros a crescerem da mesma forma” que acredita estar a crescer.

A associação oferece ainda apoio a alunos com dificuldades económicas, assumindo custos de candidatura ou de exames de melhoria, indica Victor Petisco. Recentemente lançaram um projeto de bolsas de estudo para alunos de excelência sem capacidade monetária para estudar nas melhores universidades internacionais. Para já, contam com 12 bolseiros em três continentes diferentes.

Para gerir a afluência de candidaturas, Victor explica que procuram “alunos com excelência académica porque não é simples, não é trivial entrar numa universidade fora”, sublinha. Mas o critério com mais peso é o “comprometimento dessas pessoas com o Brasil”. A BRASA preocupa-se com a intencionalidade dos estudantes em deixar o país para estudar e com a forma como o conhecimento a adquirir será aplicado. A maior questão é, então, se o jovem “vai estar estudando fora para fazer alguma coisa no Brasil, para desenvolver algum projeto para impactar as pessoas”, explica Victor.

Gerida por estudantes em regime voluntário, a BRASA obtém lucro por meio de doações espontâneas de instituições e personalidades brasileiras, bem como através de parcerias com empresas privadas. “O grande valor que a BRASA tem para oferecer para as empresas, a nossa moeda de troca, é basicamente servir como uma fonte de recrutamento”, explica Victor. As empresas recorrem à organização para que esta “conecte com talentos que estão no exterior”, tendo em vista um possível recurtamento. Os jovens que acabam a formação têm ofertas de trabalho no Brasil e as empresas ganham acesso exclusivo a trabalhadores qualificados. “Então, tudo é reinvestido em bolsas de estudo ou para realizar as conferências”, sublinha o estudante.

A BRASA Porto foi fundada em 2019.

A BRASA Porto foi fundada em 2019. Foto: BRASA Porto

No Porto

Quando João Macedo chegou a Portugal para estudar na FEP, em setembro de 2019, a BRASA não tinha expressão na cidade do Porto. Hoje é diretor da BRASA Porto, “um braço da organização global”, que se foca exclusivamente na comunidade de estudantes brasileiros na cidade.

“O Porto é uma cidade com tantos estudantes brasileiros”, exclama João em entrevista ao JPN. A verdade é que, no ano letivo 2019/2020 a Universidade do Porto acolheu mais alunos oriundos do Brasil (2.866) do que nos últimos cinco anos. Estes números traduziram-se na necessidade de criar uma rede de apoio aos estudantes.

“O nosso objetivo mesmo é fortalecer a comunidade, fortalecer o networking de estudantes brasileiros aqui”, explica João. Para isso, promovem “desde um evento amistoso num bar até um workshop, até uma palestra com alguém tratando de um tópico mais sério”, exemplifica.

Uma das iniciativas passa por criar “parcerias corporativas com empreendimentos locais” que envolvem os estudantes com comerciantes da cidade. Se apresentarem o cartão BRASA ID, os jovens podem usufruir de descontos em vários estabelecimentos no Porto e em todas as cidades onde a organização está presente: “é uma carteirinha universal para todos os estudantes brasileiros que estudam no exterior”, afirma.

Há um ano em funcionamento na cidade, a BRASA Porto não funciona em regime de membros associados, mas João Macedo estima que cerca de 700 estudantes façam já parte da comunidade.

Artigo editado por Filipa Silva