O maior museu arqueológico do mundo, conhecido pela sua estética, grandeza exterior e por acolher uma coleção de antiguidades que marcaram a história do Egipto, poderá, finalmente, abrir portas em 2021.
De acordo com informação disponibilizada em fevereiro pelo ministro adjunto para o Turismo e Antiguidades no Grande Museu Egípcio, Al Tayeb Abbas, 98% da construção da estrutura está completa. Mais recentemente, foi o próprio ministro do setor a visitar o espaço que vai acolher a coleção completa do rei Tutankhamon, que inclui cerca de duas mil peças nunca mostradas ao público. A data concreta da abertura não foi avançada, mas a expectativa é que a inauguração seja feita ainda este ano.
O Grande Museu Egípcio representa um investimento de mil milhões de euros e vai acolher cerca de cem mil peças, estando disposto numa área de 50 hectares. A estrutura está localizada no planalto de Gizé, onde se encontram as lendárias pirâmides de Queóps (uma das sete maravilhas do mundo), Quéferen, Miquerinos e a estátua de Esfinge.
O projeto quase finalizado, demorou cerca de 20 anos e, durante um percurso atribulado, a estrutura resistiu a vários incidentes e obrigou à mobilização de meios excessionais.
Revitalizar o Egito
A ideia da construção do edifício deve-se a Farouk Hosni, ministro da Cultura do Egito durante mais de 20 anos (1987-2011), que considerava o antigo Museu Egípcio da praça Tahrir já desatualizado e sem vitalidade. O objetivo principal era o de construir o maior museu do mundo, de forma a relançar o turismo do país, que atravessava uma crise política e era alvo de ataques terroristas.
Em declarações ao JPN, o egiptólogo português Telo Ferreira Canhão explica que “o Museu Egípcio do Cairo, o velho museu [que está] na Praça Tahrir desde 1900, há muito que é mais um armazém do que propriamente um museu.”
No ano de 2000, o antigo presidente do Egipto, Hosni Mubarak (1928-2020) deu luz verde à criação do museu e, em 2002, foi aberto o concurso público internacional para a construção do edifício, que contou com cerca de 1.557 projetos de um total de 83 países, analisados ao longo de três anos de seleção. O vencedor do concurso acabou por ser um gabinete com sede em Dublin, representado pelo arquiteto Shih-Fu Peng e Roisin Heneghan. A característica do projeto que os destacou, foi o elo de ligação que estabeleceram entre as pirâmides e as galerias, sem que um se destacasse mais do que outro. A estrutura do museu é em forma de triângulo e as paredes norte e sul estão diretamente alinhadas com as pirâmides de Queóps e Miquerinos.
As obras foram iniciadas em 2005 e os primeiros anos de construção foram atribulados. A principal dificuldade foi estabilizar o solo. Segundo um documentário exibido pela RTP em março, “O Grande Museu Egípcio“, a obra contou com mais de 5 mil operários que trabalharam, incessantemente, durante 24 horas. Ao longo dos anos, vários impedimentos de natureza ambiental, financeira e política afetaram o desenvolvimento do projeto.
A riqueza arqueológica numa nova “casa”
Uma das principais atrações do Grande Museu Egípcio vai ser a coleção de Tutankhamon. As peças descobertas pelo arqueólogo Howard Carter, em 1922, vão estar expostas no grande museu, bem como o enorme santuário, os sarcófagos, vasos e inúmeros objetos desentarrados junto ao faraó. Numa sala particular, ficará a máscara mortuária de ouro maciço e os sarcófagos externos. A múmia de Tutankhamon foi restaurada nos laboratórios especiais do museu e ficará abrigada no salão principal.
Outros artefatos serão exibidos, desde os tempos pré-históricos até os muitos milhares de anos da civilização faraónica do Egito, quer sejam os dos períodos grego ou romano.
“Serão expostos para além de objetos do antigo museu, muitos mais que, até agora, se encontravam fechados nas reservas, ou noutros locais, e se mantiveram longe dos olhares do grande público”, resume o especialista Telo Ferreira Canhão.
Outra das principais atrações do museu é a colossal estátua de Ramsés II, que ocupa o átrio principal da galeria. A figura de 83 toneladas encontrava-se junto à estação central do Cairo, mas, em 2006, acabou por ser transportada para o Grande Museu Egípcio, naquele que foi um episódio que marcou a história egípcia, não só pela curiosidade da população em acompanhar o processo – o transporte durou dez horas, a estátua foi embrulhada e coberta com espuma de borracha – mas também pelos meios excecionais envolvidos e pelas críticas ao procedimento, devido aos custos e à preocupação com a poluição na localidade de Gizé.
“O Grande Museu Egípcio é uma obra arquitectónica brilhante, cheia de um passado deslumbrante e implantado numa das zonas mais carismáticas do Egito, que prevê triplicar o seu público diário”, conclui Telo Ferreira Canhão, investigador do Centro de História da Universidade de Lisboa.
Duas décadas de peripécias
Ao longo dos 20 anos do projeto, a construção do edifício ultrapassou alguns obstáculos. Após a “Revolução” que em 2011 levou à queda de Hosni Mubarak, em plena “Primavera Árabe“, as obras ficaram suspensas durante um ano. Anos depois, uma das fachadas do museu foi consumida pelas chamas, mas o fogo conseguiu ser extinto. Em 2019, atentados próximos às pirâmides colocaram em causa o avanço da obra e, em 2020, a crise sanitária da Covid-19 atrasou o recomeço das operações.
A área onde está localizado o edifício é vista como “uma cidade dentro da cidade”, uma vez que contará com 28 lojas; um centro de conferências, onde vão poder decorrer palestras, seminários, workshops, filmes e atividades voltadas para a educação; um cinema, três jardins, um museu infantil, que permite a crianças terem a oportunidade de aprender através de jogos, atividades práticas e educativas, galerias virtuais e laboratórios; e ainda, um centro de conservação próprio do museu, que já é reconhecido internacionalmente como um dos mais promissores no que toca à restauração dos artefatos históricos.
O Grande Museu Egípcio é apenas um dos vários museus que o país espera inaugurar este ano.
Artigo editado por Filipa Silva