Adelino Leite Moreira recolheu 104 votos de docentes e investigadores nas eleições desta semana e tornou-se, assim, o candidato mais votado entre os 12 eleitos para representar os docentes e investigadores da Universidade do Porto (UP) no Conselho Geral. O subfinanciamento, o envelhecimento do quadro docente e a promoção por mérito estão no centro das preocupações do professor catedrático da Faculdade de Medicina (FMUP).
A candidatura surgiu da necessidade de dar o seu “contributo numa fase em que as universidades atravessam desafios importantes”. Como membro eleito do Conselho Geral, o docente compromete-se a “defender os interesses da universidade”, sem “esquecer as origens da [sua] unidade orgânica”, declarou ao JPN.
Para o professor, o resultado simboliza, por um lado, o reconhecimento da “dedicação” e do “serviço às causas e instituições”. Por outro lado, “aumenta ainda mais o sentido de responsabilidade”. “Há um conjunto de pessoas que votaram em nós e têm expectativas e estarão seguramente atentas àquilo que vamos fazer no mandato”, acrescentou o professor.
Na perspetiva do docente, há um conjunto de desafios e dificuldades que são “crónicas” nas universidades públicas: “a questão do subfinanciamento, os estrangulamentos à sua autonomia, a dificuldade na renovação geracional e no recrutamento de recursos humanos”.
A promoção por mérito é, também, central nas prioridades do candidato eleito, que defende que se devem implementar “avaliações independentes e transparentes, que se traduzam na distribuição de financiamento para as diferentes unidades orgânicas”, tendo em conta a “produtividade e prestação” das instituições.
Além disso, o representante dos docentes e investigadores alega que esta questão se deve estender ao recrutamento e promoção de recursos humanos. “Não podemos permitir que as pessoas sejam promovidas, muitas vezes, não pelo mérito, mas por um outro conjunto de circunstâncias”, afirma Adelino Leite Moreira
Quanto à possível divergência de ideias e propósitos entre os membros eleitos pelas diferentes listas, defende que “as metodologias podem ser diferentes, mas as preocupações são transversais”. A expectativa do docente “é que, passada esta eleição, todos os elementos eleitos se unam na defesa dos interesses da universidade”.
Não podemos permitir que as pessoas sejam promovidas, muitas vezes, não pelo mérito, mas por um outro conjunto de circunstâncias.
De um modo geral, o professor reconhece que “as universidades têm crescido e conseguido adaptar-se a um conjunto de dificuldades”. Não obstante, ainda vê, na UP, “alguma dispersão, que, apesar de tudo, se tem vindo a atenuar”. Reconhece a necessidade de “estabelecer mais pontes entre unidades orgânicas” e observa “uma universidade envelhecida, com alguma dificuldade em renovar-se”. “O que eu quero é que esta universidade, nas poucas oportunidades que tem para recrutar novas pessoas e para se renovar, escolha os melhores com base em critérios consensuais de mérito e de qualidade”, defende o docente da FMUP.
Não docentes reclamam “aumento” da representatividade
Hugo Castro Mendonça teve 436 votos e foi eleito representante dos não docentes e não investigadores com 100 votos de diferença. O técnico superior da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) refere que a candidatura ao Conselho Geral “surge de muitas conversas entre um grupo de colegas que pensa a Universidade do Porto” e que tem “coisas a acrescentar”.
Para o representante dos não docentes, que prefere focar a sua atenção nas soluções, ao invés dos problemas, “há um descontentamento geral no que diz respeito aos colaboradores. Parte deste descontentamento vem da falta de comunicação, diálogo e troca de ideias”.
“A lista A vem no sentido de ouvir e transmitir as ideias de todos”, afirma Hugo Castro Mendonça, que reconhece as dificuldades de ser o único representante dos não docentes e não investigadores. “Vai ser difícil. O colega anterior iniciou uma luta para o aumento dos representantes, luta essa que tem de ser continuada até à exaustão. Não faz sentido nós representarmos 34% dos funcionários da UP e só termos um representante, quando os docentes representam 58% e têm 12. Tem de haver pelo menos mais um. É o que faz sentido e o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) permite esse alargamento. Nós somos 23 e o RJIES permite até 35. Tem que haver um aumento proporcional em todas as áreas”.
O facto de o pessoal não docente ser representado por apenas um membro do Conselho faz com que, para o candidato eleito, “as intervenções tenham de ser pontuais, mas muito assertivas, na altura certa e nas lutas que realmente valem a pena.”
No entanto, apesar das dificuldades decorrentes da falta de representação, Hugo Castro Mendonça assume a responsabilidade que lhe foi confiada e define como primeira prioridade “estabelecer comunicação, num canal aberto de diálogo, com todos os colegas, independentemente dos órgãos que ocupam”. “Só assim é que terei as informações todas para que os diferentes assuntos que surgem no Conselho Geral possam ser discutidos e debatidos”, refere o técnico superior.
Não faz sentido nós representarmos 34% dos funcionários da UP e só termos um representante, quando os docentes representam 58% e têm 12.
A prioridade máxima é, para o candidato eleito, o aumento da representação dos técnicos da universidade no Conselho. Há, contudo, uma outra proposta relevante no contexto das prioridades para o mandato, que se estende até 2025: “pretendemos a criação de uma bolsa de formação para que todos os técnicos possam usufruir de uma formação superior, seja ela de licenciatura, mestrado ou doutoramento”. “A verdade é que a grande maioria dos técnicos não tem condições financeiras para progredir e as pessoas não têm noção de que nós não ganhamos assim tanto quanto isso”, afirma o técnico da FADEUP.
Artigo editado por Filipa Silva