Um perigo para o ambiente e para a população, a vespa velutina – conhecida de forma comum como vespa asiática – fixou-se em 2011 no Norte de Portugal. Entretanto, já se espalhou por grande parte do país, com os órgãos de poder local incumbidos de reduzir a sua presença.

Em 2021, a Câmara Municipal do Porto (CMP) levou a cabo mais uma ação anual de mitigação da espécie oriunda da Ásia. Em conjunto com a Proteção Civil, foram destruídos, anuncia a autarquia em comunicado, 474 ninhos de vespa asiática, mais 175 ninhos do que em 2020. Em 2019, foram destruídos 136.

Estes números, são suficientes para eliminar a espécie?

Não, nem de perto. A resposta é imediata por parte de João Valente, presidente da Associação de Apicultores do Norte de Portugal (AANP). “Este problema continua muito presente e com estas intervenções não vai melhorar nem piorar, vai continuar assim”, explica ao JPN.

“O problema das vespas velutinas tem solução”, diz, estando estas soluções a cargo dos municípios, atuando localmente. No entanto, através dos métodos atuais, fica quase impossível mitigar o problema na totalidade: “é mais económico para os municípios ir destruindo assim os ninhos, aqueles que se encontram, mas a solução fica mais cara do que esta de ir resolvendo de ano a ano”.

O presidente da AANP explica que “há várias coisas que foram estudadas e outras que estão a ser estudadas para resolver o problema. Outras opções que funcionem implicam o acompanhamento mais cuidado do assunto e a intervenção de mais pessoas e de mais equipamentos e por isso é que ficarão mais caras. Mas o preço compensa”.

Quais os principais perigos de não enfrentar o problema na totalidade?

De acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS), a vespa asiática sobrevive nas áreas urbanas, sendo a zona Norte e a Grande Lisboa os territórios mais afetados pela espécie.

O principal perigo é para com outros insetos, especialmente a abelha comum. “Estas vespas, como todas as outras” – refere-se à vespa comum, espécie de vespa mais conhecida e mais pequena; e à vespa crabro, mais rara em Portugal – “são carnívoras, mas estas comem tudo o que é polinizador, mesmo que sejam insetos muito maiores que elas”, refere João Valente.

Os ataques, que decorrem especialmente no verão e no outono, causam impacto na sustentabilidade da apicultura em Portugal. Este é um problema “que se vai notando a longo prazo” e que pode ter consequências graves a nível ambiental e ecológico. “Há menos abelhas, menos insetos. Se não há polinização – porque há insetos a que não prestamos atenção, mas que têm o seu efeito positivo no ambiente – o impacto é geral no meio ambiente”, explica, apresentando riscos comprovados para a biodiversidade, ao pôr em causa os processos de polinização natural.

Afeta, também, ao nível social. A atitude predatória destes insetos é fatal para as abelhas comuns, algo que está a deixar a indústria preocupada e sem meios para agir: “os pequenos apicultores estão e vão desaparecer, só os grandes conseguem resistir”.

Foto: Wikimedia Commons Foto: Wikimedia Commons

Há perigo para as pessoas?

Sim, dependendo da situação. Como o presidente da Associação de Apicultores do Norte de Portugal explica ao JPN, esta vespa tem “uma quantidade de veneno quatro vezes superior à vespa comum”, mas não ataca a não ser que se sinta atacada. Ao contrário do que acontece com a vespa crabro, no caso da vespa velutina, se alguém incomodar o ninho, elas “saem todas e perseguem a pessoa”.

O perigo é maior porque atacam em massa, saídas de ninhos com cerca de duas mil vespas e 150 fundadoras: a concentração de veneno pode ser tão grande ao ponto de causar uma alergia ou, em casos extremos, ser fatal.

O que está a ser feito para mitigar a espécie?

Para controlar a presença da vespa asiática no território português, foi desenvolvido o “Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal”, criado pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) em conjunto com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Em caso de avistamento de uma vespa asiática ou de um ninho, pode reportar através da plataforma Stop Vespa, do SOS Vespa – que monitoriza e mostra a localização reportada destes insetos -, contactar a linha SOS Ambiente (808 200 520) ou pedir ajuda da câmara municipal ou junta freguesia da área de deteção.

Para as distinguir das vespas portuguesas é preciso ter atenção à cor do inseto, com o tórax negro, asas escuras e patas pretas e amarelas, e o tamanho maior, podendo atingir os três centímetros e meio.

Artigo editado por Filipa Silva