Figura de grande importância no ensino e investigação da História Moderna e da História Luso-brasileira, Eugénio dos Santos faleceu no sábado, aos 84 anos. Helena Lima recorda-o como um "cidadão do mundo" e um intelectual "brilhante".
Eugénio dos Santos estava ainda ligado aos ISCET como professor e provedor do estudante. Tinha 84 anos. Foto: ISCET
O professor catedrático jubilado do Departamento de História, Estudos Políticos e Internacionais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Eugénio Francisco dos Santos, faleceu este sábado (5), aos 84 anos.
Nascido em 1937, em Santa Maria da Feira, fez parte dos primeiros licenciados em História pela FLUP, cedo se revelando uma das principais figuras do departamento desta área científica da instituição.
Fez, também na FLUP, o doutoramento em História Moderna e Contemporânea em 1977. Três anos depois, chegou a professor catedrático da Universidade do Porto. Foi jubilado em 2007.
Ao longo da carreira académica na FLUP, onde chegou a presidir ao Conselho Científico e ao Conselho Pedagógico, lecionou diversas disciplinas do curso de História, incluindo História do Brasil, que ensinou por mais de uma década.
Foi no âmbito dessa disciplina que Helena Lima, antiga aluna de Eugénio dos Santos na FLUP, o conheceu: “Sendo um homem da História, era um homem de cultura brilhante, muito entusiasmado com novos projetos. A primeira aula que tive com ele foi de História do Brasil. Amava o Brasil como amava Portugal, mas era um cidadão do mundo, viajou muito, estudou em França e em Florença. Era um homem multifacetado, com uma larga experiência e um grande conhecedor da vida”, recorda em declarações ao JPN.
Foi professor em várias instituições de ensino superior nacionais – no continente e nos Açores – e estrangeiras. Lecionou no Brasil, em Espanha, nos Países Baixos.
A ele deve-se ainda um papel decisivo no processo que conduziu à criação do pioneiro curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto em 2000. Eugénio dos Santos foi o primeiro diretor do curso, cargo que manteve até a sua jubilação em 2007.
Na viragem do século, o professor liderava a direção da Escola Superior de Jornalismo e entendeu que o curso de Jornalismo precisava de “um enquadramento académico e cientifico melhor”, conta ainda Helena Lima, professora da FLUP, que acompanhou, já como docente, todo o processo: “Começou por tentar alterar o estatuto da Escola. Depois, na sequência desse processo, acabou por se criar de raiz um curso novo na Universidade do Porto. Foi, então, pensado um protocolo entre quatro faculdades [FLUP, FBAUP, FEUP e FEP] para que o novo curso fosse verdadeiramente inovador e era na altura, com uma dimensão multidisciplinar muito acentuada. O professor foi incansável na busca de contactos e acredito que o projeto correu muito bem. A equipa inicial do projeto aderiu à ideia com muito entusiasmo.”
Autor de extensa e premiada bibliografia, orientou mais de duas dezenas de teses de mestrado e três dezenas de doutoramento tanto em Portugal como no Brasil. Eugénio dos Santos foi ainda membro da Academia Portuguesa de História, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Associação de Historiadores Latino-Americanistas europeus, da qual foi presidente de 1995 a 1998.
Em 2007, foi, reconhecido com a atribuição da Medalha de Ouro da Faculdade de Letras. Atualmente, desempenhava funções como docente, provedor do estudante e membro do Conselho Técnico-Científico no Instituto Superior de Ciências Empresariais e Turismo (ISCET), no Porto.
Para Helena Lima, o contributo do docente vai muito para além do âmbito académico: “Além do legado intelectual, era uma pessoa incrível. Foi uma das melhores pessoas que já conheci, ajudava todos sem nenhuma espera de recompensa, tinha sempre uma boa palavra para toda gente.”
O funeral de Eugénio dos Santos foi realizado este domingo em Santa Maria da Feira, tendo sido reservado aos seus familiares. Esta semana, em dia e hora a anunciar, será celebrada uma missa de sétimo dia, na Igreja dos Congregados, no Porto.
Artigo editado por Filipa Silva
