Leonor Medon, estudante de sociologia na Universidade do Porto, visitou o Quénia com o objetivo de observar em primeira mão os efeitos das alterações climáticas neste país. A viagem foi organizada através do programa #ClimateOfChange, promovida pelas organizações WeWorld e Terra Madre.

Leonor Medon em visita a uma comunidade queniana. Foto: D.R.

Leonor Medon, de 21 anos, estuda Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e foi uma das vencedoras do Torneio de Debates Pan-Europeu, que se realizou em novembro, em Bruxelas, sobre as Alterações Climáticas, Migração, Juventude e Economia. 

A vitória valeu à estudante uma ida ao Quénia para observar e documentar a realidade deste país. Ao longo dos últimos anos, o Quénia tem vindo a enfrentar vários conflitos e deslocações forçadas devido à falta de água e segurança alimentar

Leonor confessa ao JPN que contactar com a realidade do terreno é bastante mais impactante do que estudar números e relatórios na faculdade: “Ir ao terreno deu um rosto humano [ao problema] e criamos empatia com estas pessoas e os problemas também acabam por ficar com uma face sentimental e humanizada. É muito diferente ler números sobre os efeitos da seca no Quénia ou estar numa comunidade e dizerem-me que, por causa da seca, tiveram que reduzir o número de três refeições diárias para apenas uma. Claro que podemos estudar números através da academia, mas ver isto no terreno é completamente diferente”, reflete.

A visita decorreu de 5 a 13 de abril deste ano e foi promovida pelas organizações WeWorld e Terra Madre, no âmbito da campanha #ClimateOfChange, com jovens finalistas do Torneio de Debates Pan-Europeu e jovens ativistas como a portuguesa Joana Guerra Tadeu. São 12 estudantes universitários de 12 países europeus e três ativistas ambientais. 

“O objetivo da visita era mesmo ficarmos a conhecer as comunidades e depois fazer também uma publicitação através das nossas redes sociais, do estilo de vida deles e dos produtos, nomeadamente o mel, que é uma produção que várias comunidades utilizam. Fomos para percebermos como é que as alterações climáticas os têm afetado no dia a dia e aquilo que os quenianos têm feito para as combater”, conta a jovem. 

Como embaixadora do clima, Leonor Medon, quer ampliar a voz dos quenianos e as preocupações de quem está a sofrer com os impactos das alterações climáticas. O objetivo é sensibilizar, em particular os jovens, para serem agentes de mudança perante uma ameaça global cada vez mais local e garantir a justiça climática para todos. “A ação dos jovens surge como um motor para a promoção tanto dos problemas como das soluções e linhas orientadoras para uma transição ecológica e climática”, afirma Leonor.

Durante a sua visita a África, Leonor teve a possibilidade de conhecer inúmeras iniciativas de adaptação e mitigação face às alterações climáticas, como projetos familiares de economia circular em Baringo, no Quénia, e trocar ideias com alguns jovens ativistas quenianos. “Foi interessante perceber o estilo de vida, como é que funciona a escola, a alimentação, o que fazem nos tempos livres. No fundo, perceber um pouco o estilo de vida de um jovem da nossa idade noutro país”, disse. 

#ClimateOfChange é uma campanha de sensibilização pan-europeia liderada pela ONG italiana WeWorld e co-financiada pela Comissão Europeia, no âmbito do programa DEAR e está ativa desde 2020. Um programa que visa desenvolver a consciência dos jovens cidadãos da União Europeia sobre a ligação entre as alterações climáticas e a migração e envolvê-los na criação de um movimento ativo para mudar o seu estilo de vida e apoiar a justiça climática global

Leonor Medon acredita que a melhor forma de “criar consciencialização dos outros jovens no sentido de nos tornarmos mais críticos e reflexivos no mundo que nos rodeia, para conseguirmos agir de acordo com a mudança” é através das redes sociais e do uso da tecnologia. Por outro lado, a estudante diz estar também a utilizar os debates do Núcleo de Alunos de Sociologia do Porto (NASP) para causar impacto e partilhar testemunhos que marcaram a sua vida: “o importante é nós criarmos consciencialização, falarmos e trazermos também para a academia estes assuntos de forma a criarmos a capacidade de reação”, sublinha a aluna. 

“Não existem respostas simples para o tratamento das alterações climáticas e um contributo individual não vai ser a solução. Passa também por processos mais políticos e estatais no sentido de uma construção mais crítica”, afirma ainda Leonor.

A embaixadora do clima tem como objetivo alertar principalmente os jovens para a mudança e para terem sentido crítico, na esperança de um futuro melhor: “Gostava de pensar que com a minha força consigo coletivamente criar algo grande e que juntos possamos efetivamente construir algo diferente”, concluiu.

Artigo editado por Filipa Silva