Em noite de consagração, o campeão nacional dominou do princípio ao fim, venceu e garantiu mais um recorde na era Conceição. Autogolo de Joãozinho e golo de Fernando Andrade resolveram a partida.

Ao jogo, seguiu-se a festa pela conquista do campeonato noite dentro, primeiro no Dragão e depois nos Aliados. Foto: FC Porto/Facebook

Para os portistas, este sábado era dia de festa. Depois da confirmação do título nacional frente ao Sport Lisboa e Benfica, na casa do rival, no último sábado, o FC Porto recebeu o Estoril Praia na última jornada do campeonato. Perante um Estádio do Dragão lotado, onde ninguém quis faltar à festa, os azuis e brancos responderam em bom nível e fecharam o campeonato com uma exibição dominante e vitória por 2-0.

O FC Porto, embora com o primeiro lugar assegurado, procurava garantir a vitória para chegar aos 91 pontos e, assim, bater o recorde de pontos somados em campeonatos jogados a 34 jornadas. Do lado estorilista, a vitória pouco poderia mudar no desfecho deste campeonato. A equipa treinada por Bruno Pinheiro já tinha visto ser posta de parte a hipótese do lugar europeu e sobrava-lhe, à entrada para este jogo, a oportunidade de subir um lugar e terminar a época na oitava posição.

Sérgio Conceição assumiu a missão de bater o recorde pontual e apresentou poucas novidades na ficha de jogo. Cláudio Ramos foi o único nome novo a entrar no onze e, no banco de suplentes, Francisco Meixedo, Rúben Semedo e Fernando Andrade foram as novidades. Quatro jogadores que, por não se terem ainda estreado nesta edição do campeonato, esperavam uma oportunidade de entrar para se sagrarem campeões nacionais.

Do lado do Estoril, registou-se apenas uma alteração em relação ao último jogo. Nahuel Ferraresi entrou para o centro da defesa para defrontar a sua antiga equipa e ocupou o lugar do suspenso Bernardo Vital.

Logo a partir dos primeiros minutos ficou evidente a superioridade portista. Através da conjugação da típica intensidade da equipa de Sérgio Conceição com a leveza de entrar em campo com o título garantido, o FC Porto anulou o jogo do Estoril e fez antecipar uma noite de consagração sem grandes sobressaltos.

Vinte minutos tinham passado no cronómetro e o Estoril praticamente não tinha tido a bola nos pés. Ainda assim, a equipa da casa, apesar do controlo do ritmo do jogo, não aproveitou a superioridade na posse para criar oportunidades e adiantar-se no marcador. De parte a parte, eram ainda inexistentes os remates à baliza.

A consagração dos campeões nacionais exigia algo mais e os jogadores responderam à altura. À passagem do minuto 20, o FC Porto protagonizou, no espaço de segundos, duas oportunidades flagrantes.

Primeiro, Taremi. Depois de um passe brilhante saído do calcanhar de Otávio, o avançado iraniano viu-se sozinho frente a frente com o guarda-redes, mas acertou mal e a bola acabou por passar ao lado da baliza.

Depois, foi a vez de Evanilson. O companheiro de ataque de Taremi, recebeu a bola no flanco direito, perto da linha de fundo, e tentou entregar para o iraniano finalizar, mas a defesa do Estoril cortou a bola à boca da baliza.

Fora do relvado, a história do jogo também se escreveu. Ao minuto 28, fez-se silêncio nos cânticos da curva dos Super Dragões e levantou-se uma tarja, sob forte chuva de aplausos, a lembrar Igor Silva, adepto portista assassinado na noite dos festejos. Lia-se na faixa: “Igor, como nós, um de nós”.

Até ao intervalo, pouco mais a apontar a não ser a única boa oportunidade dos canarinhos. A dois minutos do fim da primeira parte, Ferraresi, defesa central do Estoril, cabeceou com relativo perigo por cima da baliza protegida por Cláudio Ramos. Ainda assustou os adeptos da casa, mas a situação parecia estar sob o controlo do guarda-redes portista. Tudo na mesma no marcador ao fim dos primeiros 45 minutos.

Uma segunda parte de golos e protagonistas improváveis

O FC Porto foi para o balneário muito por cima no jogo e, por isso, adivinhava-se o arranque da segunda parte. Após uma boa jogada coletiva a poucos toques, Zaidu recebeu do lado esquerdo e cruzou para o interior da área onde estava Evanilson pronto a finalizar. Para azar do Estoril Praia, Joãozinho, de modo a evitar o golo portista, acabou, ele mesmo, por colocar a bola dentro da própria baliza e inaugurar o marcador no Dragão. Estava feito o 1-0.

Se a superioridade portista já era grande, a partir daqui atingiu novos patamares e não pararam de chover oportunidades de enorme perigo para a baliza protegida por Thiago Rodrigues, guardião canarinho.

À semelhança do que acontecera na primeira parte, duas flagrantes ocasiões em poucos segundos deixaram os adeptos da casa com o grito de “golo” preso na garganta.

Ao minuto 64, Taremi, o suspeito do costume, cabeceou à trave após um cruzamento perfeito de Otávio. Poucos segundos depois, já no minuto 65, Francisco Conceição, recém-entrado no jogo para o lugar de Vitinha, foi protagonista de uma grande incursão individual que terminou num remate em jeito, ainda fora da área, que obrigou o guarda-redes do Estoril a uma grande defesa.

Quatro minutos depois, novamente o FC Porto a ameaçar. Fábio Vieira concluiu uma boa jogada com um remate em direção à baliza, mas Thiago Rodrigues voltou a evitar o pior para os visitantes.

Depois de tanto sufoco, os estorilistas conseguiram, já com 23 minutos jogados na segunda parte, fazer suar Cláudio Ramos. Jordi Mbula recebeu a bola sozinho dentro da área após bom cruzamento vindo do lado esquerdo, mas o guarda-redes português respondeu com uma grande intervenção para canto e arrancou muitos aplausos das bancadas do Dragão.

Com 85 minutos jogados, Sérgio Conceição fez entrar em campo Rúben Semedo e Fernando Andrade que não tinham somado ainda um único minuto no campeonato esta época para os lugares de Pepe e João Mário.

A saída do capitão do FC Porto provocou um dos momentos mais intensos de toda a partida. Pepe saiu pela linha final e, na caminhada desde a parte de trás da baliza até ao banco de suplentes, cantou-se em uníssono o nome do internacional português de 39 anos. Momento que o atleta fez questão de retribuir com longos aplausos em direção à bancada.

A dois minutos dos 90, foi a vez de um dos recém-consagrados campeões brilhar e fechar o marcador. Fernando Andrade recebeu a bola dos pés de Fábio Vieira e, frente a frente com o guarda-redes, não perdoou e fez o 2-0. Um momento arrepiante no Dragão! As bancadas ficaram ao rubro, os jogadores saltaram do banco de suplentes para festejar com o jogador e o avançado brasileiro acabou a chorar abraçado a Sérgio Conceição.

Antes do apito final, houve tempo ainda para a entrada de mais um campeão. Francisco Meixedo, guarda-redes de 20 anos, entrou para o lugar de Cláudio Ramos à passagem do minuto 90 e estreou-se no campeonato a tempo de receber a medalha de campeão nacional. Dois minutos de compensação depois, o árbitro António Nobre apitou para o final da partida e para o final do campeonato dos azuis e brancos.

O FC Porto entrou com o título no bolso, mas tinha de garantir um bom espetáculo na noite de consagração perante os seus adeptos. E assim foi. Esteve por cima do princípio ao fim e a bancada respondeu com um belo ambiente de festa até ao apito final. 2-0 foi o resultado final e a equipa de Sérgio Conceição fecha, assim, a época com o melhor registo pontual da história do campeonato, 91 pontos, e o melhor ataque e melhor defesa desta edição, 86 golos marcados e 22 sofridos.

Na flash interview, Sérgio Conceição afirmou ter alinhado “o 11 que dava mais garantias” e lembrou a “alegria” nos festejos do golo de Fernando Andrade como “espelho” do bom ambiente que se vive no balneário. Por fim, dedicou o título à família e recordou os pais. “Fisicamente não estão cá, mas estão sempre comigo”, concluiu.

Do lado estorilista, Bruno Pinheiro referiu a “sensação de dever cumprido” e elogiou os seus jogadores: “tive muito prazer a assistir ao jogo, a ver a equipa jogar”. Sobre a época, o técnico lamentou o decréscimo dos resultados na segunda volta, mas mostrou-se satisfeito com as exibições. “Nem sempre os resultados acompanharam as exibições. Fica um amargo de boca. Mas que não apaga em nada a tranquilidade da época. Fomos uma equipa que esteve sempre do meio da tabela para cima”, rematou.

Minutos depois do fim do jogo, os jogadores foram chamados um a um para receberem as medalhas das mãos de Pedro Proença, presidente da Liga Portuguesa de Futebol. No final, já juntos na estrutura montada para o propósito, levantarem o troféu de campeões nacionais, pela mão do capitão Pepe e embalados por fogo de artifício e cânticos de uma casa cheia que não arredou pé após o apito final.

Depois da consagração no estádio, a comitiva do FC Porto foi recebida na Câmara Municipal do Porto para, como manda a tradição, ser ovacionada por milhares de adeptos em êxtase na mítica Avenida dos Aliados.

Para o Estoril Praia, a época terminou este sábado, mas para o FC Porto ainda resta jogar uma final. No próximo dia 22, os dragões vão até ao Jamor para enfrentar o Tondela – um dos despromovidos à segunda liga, juntamente com o B-SAD – na final da edição 2021/22 da Taça de Portugal e tentar a dobradinha.

Artigo editado por Filipa Silva