Ao longo de 12 dias, os britânicos prestaram homenagem à sua rainha. De passagem por Londres, uma estudante portuguesa relata o que testemunhou durante os dois dias em que acompanhou algumas das exéquias fúnebres da Rainha Isabel II.

O dia 8 de setembro de 2022 fica marcado na história como o dia da morte da Rainha Isabel II (1926-2022), a monarca com o mais longo reinado da história: 70 anos e 214 dias.

O anúncio desencadeou um extenso protocolo fúnebre que passou por vários locais do Reino Unido, tendo o Palácio de Buckingham concentrado as principais homenagens.

Próximos dos portões, homens e mulheres, crianças e idosos, quiseram prestar a sua homenagem. Fazer parte do acontecimento, e registá-lo para a posteridade. As pessoas chegavam, deixavam flores e cartas, algumas choravam, outras rezavam e, muitas, movidas pela emoção, deixavam o local sem dizer uma palavra. Outras falavam sobre a adoração à Rainha e recordavam os principais momentos do seu reinado, erguendo orgulhosamente bandeiras do Reino Unido, como sinal de união num momento difícil.

Thank you foi a mensagem mais repetida nos milhares de bilhetes deixados nos ramos de flores.

Sobre o futuro, poucas palavras. A altura era de assimilar o presente e relembrar o passado.

A polícia empenhou esforços para fazer cumprir o protocolo há muito preparado. Também em muitos deles era visível a emoção e o respeito perante a solenidade do momento. Ajudavam todos os que por ali passavam a colocar os ramos nos portões.

Os gestos de homenagem espalharam-se pela cidade de Londres. Numa das ruas mais movimentadas, um retrato da rainha ainda jovem era desenhado com giz. As montras de lojas trocaram a decoração por fotografias da monarca.

Longe dos portões, o ambiente tornava-se mais próximo da rotina habitual da cidade, apesar dos olhares atentos e do movimento. Nos arredores do St. James Park, ao lado do palácio, muitas pessoas sentavam-se no jardim a conviver. O ambiente era ali mais leve e de esperança.

O Big Ben marcava as 10h17, no quinto dia de cerimónias (12 de setembro), quando o rei Carlos III, acompanhado de Camila, rainha consorte, chegou a Westminster Hall para discursar e ouvir pela primeira vez no parlamento o novo hino “God save the King” (“Deus proteja o rei”). A multidão acompanhou a chegada com aplausos e gritos.

Nos dias seguintes, a cidade de Londres permaneceu silenciosa.

Às 14h22 do dia 14, ao som do Big Ben, o cortejo fúnebre saiu do Palácio de Buckingham em direção a Westminster. Milhares de pessoas saíram às ruas e esperaram algumas horas para poder ver de perto a procissão.

A multidão que não teve a sorte de conseguir um lugar junto às barreiras, impedida por portões instalados nas principais portas da cidade, permaneceu na rua. Os britânicos persistiram, choraram e viveram o momento juntos. Na Trafalgar Square, uma das principais avenidas, o silêncio predominava.

Subiam aos postes de iluminação e às típicas cabines de telefone na esperança de ver por cima dos portões. Mas ninguém perdeu o cortejo: as transmissões em direto nos telemóveis, ajudaram na vivência mais intensa do momento. E os bares estavam cheios, ninguém desviava o olhar da televisão.