A Casa Comum da Universidade do Porto acolhe a exposição "Todo o Abel Salazar". Esta é a primeira vez em que se reúne, de um modo tão abrangente, o legado do médico e professor Abel Salazar.

Exposição fica na Casa Comum até fevereiro de 2023. Foto: Joana Rita Cirne

Muitos já terão ouvido a frase que Abel Salazar (1889-1946) popularizou: “Um médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”. Um mote ajustado a uma figura que não se fez notar só no campo da Medicina. É a ela que a Universidade do Porto (UP) dedica agora a exposição “Todo o Abel Salazar”, na qual é possível ver tanto o seu material académico, quanto o artístico.

Uma “oportunidade de dar a conhecer a personagem multifacetada e uma das mais importantes figuras” da UP, como a classificou o reitor António de Sousa Pereira na inauguração, a 14 de novembro.

A mostra, com a curadoria de Alexandre Lourenço, visa compreender melhor o percurso profissional e pessoal de Abel Salazar.

Está dividida por três salas da Casa Comum da UP (Reitoria), cada uma dedicada a uma faceta de Abel Salazar, construindo, desta forma, a narrativa da sua vida.

A primeira sala é dedicada às suas diferentes valências: referências do Abel Salazar pintor, cientista, pedagogo, pensador, revolucionário e homem. Esta sala conta com peças do acervo da Casa Museu Abel Salazar e do Círculo Dr. José de Figueiredo. Material de pintura, desenhos científicos, cadeiras e até a escrivaninha que usava estão, agora, juntas num único lugar.

Na segunda sala, o foco incide sobre as caricaturas e autorretratos da figura central da exposição. “Há uma fase da sua vida em que ele está muito centrado em si mesmo. Esta segunda sala fala desse período de grande fechamento”, explicou Fátima Vieira, vice-reitora da Universidade do Porto para a Cultura, também na inauguração.

Ao chegar à última sala, é possível encontrar uma recriação do Salão Silva Porto. O Salão Silva Porto foi um centro de exposições, considerado o maior espaço de divulgação cultural e artística da cidade do Porto. Abriu em 1925, no número 285 da Rua de Cedofeita, e permaneceu em atividade até meados da década de 60. Foi neste espaço que Abel Salazar expôs os seus trabalhos e criações.

Aqui, a linguagem visual é claramente distinta. As peças de mobiliário e a decoração transportam-nos para os tempos em que viveu. São as paredes pintadas metade a verde seco e a castanho e as cadeiras aveludadas, que nos fazem entrar numa máquina do tempo, em direção aos anos 40. As molduras e cavaletes, em madeiras escuras, assim como a vasta quantidade de plantas, posicionadas meticulosamente, fazem-nos sentir como alguém, que naquela época, visitava uma exposição de Abel Salazar.

A inauguração teve casa cheia. Algumas pessoas já eram conhecedoras das várias facetas do percurso de Abel Salazar, e outras vieram à descoberta.

“Eu vim à exposição não só para perceber o lado médico, visto que me interessa porque sou estudante de medicina, mas também pelo seu lado artístico e humano”, refere, ao JPN, Emília Pinho, estudante na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). “Aquilo que mais me interessou e cativou foi compreender que como Abel Salazar dizia: ‘Um médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe’, e que este mote estava mesmo presente na sua vida”, acrescentou.

Já Luís Paulo, arquiteto disse ao JPN que esta exposição “faz todo o sentido” e que Abel Salazar “é uma figura muito relevante no panorama artístico do século XX”. Considerou ainda que, para quem não conhece esta figura, a exposição é “muito enriquecedora”.

Abel Salazar nasceu em Guimarães, no ano de 1889. Em 1915, concluiu, com 20 valores, o curso de Medicina na FMUP, ao apresentar a sua tese “Ensaio de Psicologia Filosófica”. Cinco anos depois, já enquanto professor catedrático, fundou o Instituto de Histologia e Embriologia da FMUP.

Entre os anos de 1919 e 1925, o seu trabalho recebeu reconhecimento internacional. Como consequência, passou a participar em vários congressos no estrangeiro e a ter os seus trabalhos publicados em diversas revistas científicas.
Problemas com a academia e perdas familiares levaram a que Abel Salazar tivesse um esgotamento e interrompesse a sua carreira durante cinco anos. Durante este afastamento forçado, o médico desenvolveu novos trabalhos em áreas de interesse distintas, nomeadamente nas Ciências, na Arte e na Filosofia.

Com entrada livre, “Todo o Abel Salazar” está aberta ao público de segunda a sexta-feira, entre as 10h00 e as 13h00 e das 14h30 às 17h30, e aos sábados, das 15h00 às 18h00, na Casa Comum da UP. Aos domingos e aos feriados, a exposição está encerrada. A exposição está patente até 17 de fevereiro de 2023.

Artigo editado por Filipa Silva