10. The Woman King – Gina Prince-Bythewood
Qualquer produção protagonizada por Viola Davis vai ser alvo de adoração e esta não é exceção. Baseado em factos verídicos, o filme dirigido por Gina Prince-Bythewood conta a história do exército feminino de Agoji do Reino de Daomé na luta contra as forças coloniais.
É uma película fundamental no sentido em que dá visibilidade às histórias incríveis de quem lutou contra os poderes opressivos e de quem tentou acabar com o mercado de escravos que circulava pelo continente africano. Com uma produção arrebatadora, Prince-Bythewood não fugiu às necessárias verdades históricas, apesar da romantização do conto.
O casting esteve à altura do que se pedia: Viola Davis é a estrela óbvia da fita, com uma atuação de cortar a respiração, mas Thuso Mbedu, que representa uma das Agoji, também tem lugar garantido nos holofotes.
“The Woman King” não é só um filme, é a história da emancipação da mulher negra.
9. Bones and All – Luca Guadagnino
“Bones and All”, filme vencedor do Festival de Veneza na categoria de “Melhor Realização”, faz com que Timothée Chalamet (protagonista) e Luca Guadagnino (realizador) se reencontrem cinco anos depois da película “Call me by your name”.
A realização do filme transmite-nos para o mundo do sonho, onde parece que estamos a olhar para um constante pôr do sol, o que contrasta com os temas centrais na narrativa. Taylor Russell e Timothée Chalamet interpretam perfeitamente os papéis de dois canibais (sim, leram bem) apaixonados, envolvidos numa relação e situação romantizada e bizarra, no mínimo.
Filme digno de um lugar entre os “Melhores Filmes do Ano”, este não é para os fracos de coração. Ainda que seja chocante e perturbador na mesma dose com que é romântico, a longa-metragem de Luca Guadagnino é uma experiência, acima de tudo, envolvente.
8. Worst Person in the World – Joachim Trier
“Worst Person in the World”, do norueguês Joachim Trier, é uma longa-metragem dividida em capítulos que acompanha alguns anos da vida da protagonista, Julie, interpretada por Renate Reinsve (que venceu o prémio de “Melhor Atriz”, em Cannes).
O filme extremamente realista coloca-nos na pele da protagonista e obriga-nos a questionar o papel que desempenhamos na nossa própria vida. Quem nunca se questionou constantemente sobre o que fazer com a vida? Quem nunca passou anos a tentar descobrir quem é?
Este é um filme que representa na perfeição a procura pelo sentido da vida, e que representa todos os espíritos livres que não se conformam com o mínimo, tentando sempre alcançar mais e mais.
Se estavam na dúvida entre deixar este filme na vossa watchlist ou pegar imediatamente no computador para o ir ver, será sensato escolherem a opção B.
7. The Batman – Matt Reeves
O Cavaleiro das Trevas volta a surpreender nesta nova adaptação. Matt Reeves conseguiu criar uma história que bate de frente com a trilogia de Christopher Nolan e que alude a grandes thrillers como “Se7en”, “Zodiac” e “Prisoners”.
A trama começa quando um homem misterioso, chamado de Riddler (Paul Dano), inicia uma perseguição a figuras poderosas da cidade de Gotham. O criminoso decide jogar ao jogo do gato e do rato com Batman, um vigilante que assombra as ruas da cidade há pouco mais de um ano. Por detrás da máscara encontra-se Bruce Wayne (Robert Pattinson), um jovem órfão bilionário que ainda não sabe o que fazer com o manto que criou e como ultrapassar o próprio passado. Com a ajuda de Selina Kyle (Zoe Kravitz) e com a sua influência, Bruce decide investigar o psicopata, descobrindo segredos sobre a construção da cidade e da queda da família.
É um thriller lento e muito bem pensado, com um elenco que se abraça à história e às suas personagens. Não é apenas “mais um filme de super-heróis”, é um filme sobre o que é a justiça, o luto e a vingança. Para além de uma boa soma às histórias de Bruce Wayne, é um bom filme e uma boa peça de cinema, mesmo se olhado isoladamente. Com uma das melhores cinematografias do ano e uma banda-sonora de arrepiar, “The Batman” foi, com certeza, das estreias mais aclamadas e o melhor filme de super-heróis do ano.
6. Fogo Fátuo – João Pedro Rodrigues
“Fogo-Fátuo”, realizado por João Pedro Rodrigues, retrata a história de um jovem príncipe que quebra as tradições monárquicas e torna-se bombeiro para auxiliar no combate aos incêndios. O musical procura evidenciar temas centrais na sociedade atual como os direitos LGBTI+ e as próprias alterações climáticas, de uma forma cómica e relaxada.
Com um elenco que conta com as interpretações de Mauro Costa, André Cabral e Margarida Vila-Nova, “Fogo-Fátuo” arrecadou o Prémio de Melhor Filme no Brussels International Film Festival e o Prémio Director’s Week no Sydney Film Festival, depois da aclamada estreia no Festival de Cannes. A co-produção luso-francesa entre a Terratreme Filmes, House on Fire e Filmes Fantasma parece ter colhido os seus frutos, com a obra cinematográfica em destaque num panorama internacional.
5. Nope – Jordan Peel
Jordan Peele volta a atacar no género do terror com uma visão única. Com a participação do adorado Daniel Kaluuya (protagonista no filme “Get Out”, do mesmo realizador) e a fantástica Keke Palmer, Peele traz-nos uma fita que, apesar de não superar os seus filmes anteriores, é intrigante e conta com uma representação igualmente brilhante.
Sem nunca esquecer o significado das mensagens que constrói dentro de cada uma das obras cinematográficas que cria, é-nos dada, mais uma vez, uma lição sobre a história da comunidade negra.
É sem dúvida um filme a não perder, que, por mais confusão que possa causar, conserva a coerência do realizador em manter os espectadores cativados e cismados. Depois dos créditos, “Nope” fica-nos na cabeça e na discussão.
4. Top Gun: Maverick – Joseph Kosinski
Desde pequenos que ouvimos falar do grande “Top Gun”, lançado em 1986. Para muitos, o filme de ação de Tom Cruise é um dos grandes clássicos do cinema e a necessidade de uma sequela sempre foi questionada.
A continuação foi assegurada em 2010 e “Top Gun: Maverick” só chegou às salas este ano, após muitos atrasos de produção e insistência em lançar o filme exclusivamente para os grandes ecrãs, depois da pandemia. E ainda bem que isso aconteceu, pois este é dos filmes que precisa do maior ecrã para brilhar e para nos mostrar que, numa era de blockbusters gigantes, ainda existem alguns com alma.
“Top Gun: Maverick” é o filme com maior bilheteira do ano e também o mais lucrativo da carreira de Tom Cruise. A história consegue ser nostálgica e, ainda assim, bastante fresca, em parte devido a contar com um elenco novo e carismático. É uma trama sobre enfrentar os fantasmas do passado e saber viver o presente, com uma ação bem conseguida e uma banda sonora que promete ficar no ouvido.
Sem dúvida um dos filmes que voou mais longe este ano, uma vez que se manteve em exibição o verão inteiro.
3. TÁR – Todd Field
Um filme dramático, denso, intelectual e psicológico sobre a queda de uma maestrina genial. É assim que Todd Field volta às grandes produções, numa película marcada pela exímia atuação de Cate Blanchett.
Este filme, que é um dos principais candidatos à vitória nesta temporada de premiações, fala-nos de uma mulher, Lydia Tár (Cate Blanchett) que conseguiu o sucesso porque jogou sempre dentro das regras do patriarcado. Apesar disto, a protagonista acredita fielmente que é a exceção a estas mesmas regras. Depois de observarmos o estilo de vida da artista e as relações com as outras personagens, ficamos perante a queda de uma mulher que desafiou o mundo da música clássica.
“TÁR” é um filme bastante atual que questiona os limites da moralidade e critica a cultura do cancelamento. O filme quase que obriga o espectador a uma segunda visualização para perceber as várias camadas da narrativa. Aliás, o próprio diretor (Todd Field) afirmou que vê sempre um filme novo de cada vez que assiste a esta obra.
2. Aftersun – Charlotte Wells
A A24 tem somado cada vez mais sucessos e 2022 foi dos anos em que obteve maior destaque. “Aftersun”, de Charlotte Wells, é um dos filmes mais aclamados do ano e um dos mais promissores na temporada de premiações que se avizinha.
A história é simples e curta. Um pai e uma filha, chamada Sophie, passam férias na Turquia. Como vê a filha poucas vezes, o jovem pai, interpretado por Paul Mescal, decide impressioná-la com as atividades que ela sempre gostou, enquanto luta para mostrar uma falsa estabilidade e segurança. No entanto, Sophie já não é a criança que era e está a entrar na adolescência, o que cria dissonância entre os dois
É um filme muito lento e com pouca história mas que nos derruba pela força das emoções que carrega. O que inicialmente parece um filme leve e nostálgico rapidamente se torna numa montanha russa de emoções e numa das longas-metragens mais fortes e emocionais dos últimos tempos. É uma história sobre crescimento, amor, memórias e sobre como não nos apercebemos do valor dos dias bons até acabarem. Com um elenco fenomenal, uma cinematografia admirável e uma história profundamente humana, “Aftersun” é das maiores surpresas do ano e claramente ainda dará muito que falar.
1. Everything, Everywhere, All At Once – Daniel Kwan e Daniel Scheinert
Tudo, num mesmo lugar ao mesmo tempo: este é um filme de Daniel Kwan e Daniel Scheinert que aborda uma imigrante chinesa que é inserida numa aventura insólita. Sozinha, a protagonista tem que salvar o planeta, entrando e conectando-se com outros universos e outras versões de si.
Um filme de multiversos que é completamente inovador e que questiona e quebra todas as regras, com um elenco fantástico liderado por Michelle Yeoh. A atriz, com um papel feito à sua medida, dá vida a Evelyn e entrega tudo de si.
Dirigido de forma brilhante e com um argumento original, estamos perante uma película intemporal, que junta dramas familiares num espaço e tempo indefinidos.
Provavelmente, o filme mais marcante do ano, “Everything, Everywhere, All At Once” marca, sobretudo, pela diferença. Tantas histórias ao mesmo tempo e todas conseguem fazer sentido, sendo que os escritores conseguiram colocar um fio condutor que nunca se perde, de forma exímia.
É uma produção ímpar, em que os Daniels desafiam todas as leis do cinema. “Everything, Everywhere, All At Once” é um filme monstruoso e complexo, baseado numa pessoa demasiado normal para aquilo que lhe está prestes a acontecer. O filme é tudo o que diz ser no título: é drama, comédia, thriller e ficção científica. Uma mistura que beira a perfeição.