Mulheres na frente de batalha, lutas passadas e presentes por uma sociedade mais igualitária. Esta sexta-feira, estreia no Teatro do Campo Alegre a mais recente produção da Aurora Negra.

“O 25 de Abril nasceu em África”. Foto: Lara Castro/JPN

Depois de ter passado por Coimbra e pelo Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, a peça “Missão da Missão” estreia esta sexta-feira (9) no Porto, no Teatro do Campo Alegre, onde estará em cena também amanhã. No espetáculo teatral da Aurora Negra, o coletivo de artistas mergulha nas vidas de sete mulheres que desafiaram o status quo, assumindo papéis de destaque na frente de guerra, durante os movimentos de libertação africana.

A peça original é de um dramaturgo alemão e versa sobre a libertação da Jamaica, mas foi adaptada pela Aurora Negra à luz da história de libertação das colónias portuguesas.

Rita Cruz, uma das atrizes, explicou ao JPN, à margem do ensaio geral, que a pesquisa histórica contou com o auxílio de Gisela Casimiro e Joacine Katar Moreira, buscando trazer à luz histórias concretas de mulheres africanas revolucionárias que assumiram a frente da batalha por vontade própria. A atriz Aisha Noir lembra que “o corpo masculino” é muito mais associado à guerra e que a peça serve para “invocar esse local feminino”, pouco referido ou lembrado na história.

Uma das ideias centrais da peça é vertida numa faixa que se abre em cena. Nela lê-se: “O 25 de Abril começou em África”, ou dito de outro modo, não teria havido revolução sem libertação dos povos.

O público pode esperar desta peça uma junção de histórias passadas que se misturam com as próprias experiências dos atores no seu presente. “Nós precisávamos dessa identificação, porque o texto original parecia um pouco distante daquilo que queríamos falar e do eco que faz nos nossos corpos”, explica Rita Cruz. Lutas passadas e presentes fundem-se naquele que é um espetáculo “missionário”, como Rita o nomeia.

“É preciso haver também estes tipos de espetáculos quase que missionários. É um dos pequenos passos. Até na própria cultura também, na questão da representatividade, na questão dos temas que são abordados, por quem é que são abordados. Que estereótipos é que são passados e quais é que são quebrados”, concluiu a atriz Rita Cruz.

“Estamos realizando sonhos hoje de mulheres do passado. Alguém sonhou. Reflete muito nossos corpos e a forma como apresentamos os nossos corpos”, prossegue Aisha Noir. Como eco do passado e presságio do futuro, a Aurora Negra honra as mulheres, continuando um caminho que se revela lento, mas que está a acontecer e em constante construção. Uma espécie de “utopia”, mas como refere Aisha Noir opina que a utopia “é um lugar que dá conforto, que dá uma sensação de lugar”. 

Sobre o futuro, o coletivo destaca a continuação do caminho iniciado por estas mulheres revolucionárias representadas. “Este espetáculo pode ser um símbolo de valores que foram conquistados. Ainda estamos, ainda assim, presos em muitos estigmas e preconceito”, afirma Rita Cruz. 

Ainda há bilhetes disponíveis para ambos os dias de espetáculo e o preço normal é de 9 euros. Para estudantes e adultos com mais de 65 anos o preço é 4,50 euros. A peça tem início às 19h30. O Teatro do Campo Alegre será o cenário desta “grande viagem teatral”, como Rita a chamou, onde narrativas do passado e presente se entrelaçam, oferecendo ao público uma experiência imersiva que aborda a evolução e representatividade.

Editado por Filipa Silva