Netanyahu recusa a contraproposta do Hamas de um cessar-fogo para troca de reféns e negociações sobre o fim da guerra, insistindo numa "vitória total".

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel.

O primeiro-ministro israelita não aceita a proposta do Hamas de um cessar-fogo no conflito da Faixa de Gaza por quatro meses e meio.  Netanyahu afirmou, esta quinta-feira (8), que não haverá um acordo de paz enquanto Israel não “vencer o Hamas”.

Israel rejeitou a proposta do grupo islamista – a 23 de janeiro tinha sido o Hamas a rejeitar a proposta de Israel – por considerar que com “rendição às exigências delirantes do Hamas” haveria possibilidade de “outro massacre e uma grande tragédia em Israel”. E acrescentou: “Israel não vai chegar a esses acordos, tratados de paz e normalização sem derrotar o Hamas”.

A proposta do movimento palestiniano é a resposta ao plano de cessar-fogo israelita, enviado na semana passada ao Hamas. A negociação contou com a mediação do Qatar e do Egito e teve aprovação de Israel e dos Estados Unidos.

O documento, confirmado por Muhammad Nazzal, dirigente do gabinete político do Hamas, propunha um cessar-fogo, dividido em três fases, cada uma com a duração de 45 dias.

De acordo com o documento a que a Reuters teve acesso, na primeira fase seriam libertados alguns dos reféns israelitas – mulheres, crianças (menores de 19 anos) “que não estejam alistados”, idosos e doentes.  Em troca, Israel deveria libertar 1.500 palestinianos, detidos nas prisões israelitas.

Para além disso, segundo o Al Jazeera, o Hamas pedia o envio de 500 comboios de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, bem como o regresso das populações deslocadas aos seus locais de origem e a garantia da liberdade de deslocações entre o norte e sul da faixa.

A proposta previa ainda o “início das obras de reconstrução de hospitais, casas e instalações em todas as áreas da Faixa de Gaza, e permitindo que as Nações Unidas e suas agências prestem serviços humanitários e estabeleçam campos de habitação para a população”, num total de 60 mil casas temporárias e 200 mil abrigos. O Hamas exige também o “cessar temporário das operações militares e reconhecimento aéreo, e a retirada das forças israelitas de áreas povoadas na Faixa de Gaza”, de modo a facilitar a troca de reféns.

Para a segunda fase, estava programada a “conclusão das negociações (indiretas) sobre os requisitos necessários para a continuação do cessar mútuo das operações militares e o retorno a um estado de completa calma.” Esta fase contaria, também, se os requisitos da primeira fase estivessem a ser cumpridos, com a troca dos reféns restantes (civis e militares).

Segundo fontes da Reuters, na terceira fase, para além da troca dos restos mortais das vítimas do conflito, o Hamas não exigiria uma garantia de cessar-fogo permanente, mas o fim do conflito deveria ser acordado antes da troca dos últimos reféns. Outra fonte revelou que o grupo armado impõe a garantia do Qatar, Egito e outros estados aliados, que o cessar-fogo não será violado após a troca de reféns.

Nazzal, em declarações à Al Jazeera, explica que nada no plano é negociável: “Desejamos que as forças de ocupação israelitas saiam da Faixa de Gaza completamente. A nossa resposta é realista e os nossos pedidos são razoáveis”, acrescenta.

O primeiro-ministro israelita, após um encontro com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, rejeitou a proposta e afirmou que é necessário manter a pressão militar para libertar os reféns e eliminar o Hamas. Netanyahu acredita que a vitória israelita será alcançada numa “questão de meses”.

Desde que Israel decretou guerra ao Hamas, em outubro, houve apenas um período de cessar-fogo no conflito, entre 24 e 30 de novembro de 2023, durante o qual foram libertados 105 reféns israelitas e de outras nacionalidades por troca pela libertação de 240 palestinianos detidos em Israel.

Editado por Filipa Silva