Quatro meses depois do ataque do Hamas a Israel, familiares dos israelitas com nacionalidade portuguesa que estão reféns em Gaza, estiveram no Porto para pedir apoio político e humanitário.
Não é com ânimo leve que os familiares de reféns luso-israelitas, presos em Gaza desde outubro do ano passado, contam o que aconteceu desde que perderam o contacto com os seus entes queridos. A incerteza e a preocupação é uma constante na vida das famílias, tornando cada dia uma angustiante espera por notícias sobre o paradeiro e o bem-estar dos reféns.
Juntamente com a associação “Bring Them Home Now”, um fórum que partilha informações sobre os desaparecidos, os familiares estiveram, esta terça-feira (6), em Lisboa, reunidos com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na tentativa de receber apoio humanitário e pedir mais pressão por parte de Portugal.
Numa conferência de imprensa, que decorreu no dia seguinte, quarta-feira (7), no Porto, foi reiterado o pedido feito ao chefe de Estado. “Peço ajuda ao Governo [português] para pressionar o Catar e o Egito, para chegar a um acordo”, apela Dalit Shtivi, mãe de Idan Shtivi, de 28 anos, raptado após tentar fugir do festival Supernova, que teve lugar junto à fronteira com a Faixa de Gaza, e que foi um dos primeiro locais por onde os membros do Hamas passaram a 7 de outubro.
Omer Shem Tov é outro dos israelitas raptados e cuja família está em Portugal para pedir ajuda. O irmão, Amit Shem Tov, relata que Omer está no processo para obtenção de cidadania portuguesa, pedindo ajuda para agilizar o procedimento. Sabe-se que o refém está em Gaza e que a última notícia sobre o seu paradeiro foi recebida no dia em que foi levado, a 7 de outubro, quando obtiveram um vídeo onde se podia ver Omer com as mãos amarradas na parte de trás de uma carrinha.
Também Michal Lavi explicou que o Hamas invadiu a casa de Omri Miran, seu cunhado, onde este se encontrava junto da esposa e das duas filhas, obrigando a família a sair do abrigo, para o qual tinham ido após ouvir os bombardeamentos.
Os militantes do Hamas capturaram Omri e levaram-no para a casa do vizinho, onde já se encontravam mais pessoas e local que mais tarde se tornaria uma espécie de quartel para a organização. Posteriormente, foi levado para a Faixa de Gaza. Visivelmente emocionada, Michal constata que estão todos a atravessar um momento difícil: “queremos que todos os reféns voltem para os nossos braços”, afirmou aos jornalistas presentes no Porto Palácio Hotel. “Ainda estamos presos no dia 7 de outubro. O dia 8 nunca chegou”, rematou.
“Isto não é sobre Israel”
Or Levy é um dos outros luso-israelitas que se encontra refém do grupo islâmico. Numa já segunda visita a Portugal, o irmão de Or, Michael Levy, afirma que a questão de recuperar os reféns “não é sobre política, não é sobre Israel ou sobre os Palestinianos, não é sobre o muro, é sobre pessoas, sobre o meu irmão, a mãe de alguém, o filho de alguém”.
Or e a esposa Eynav tinham decidido fazer uma pausa da rotina e deslocaram-se até ao festival de música Supernova na manhã do dia 7 de outubro. Quando chegaram, tiveram de correr para um abrigo, que acabou por ser atacado por um grupo de “monstros” que lançaram granadas sobre o espaço, detalha Michael. Eynav morreu durante o ataque e Or foi levado para Gaza. O irmão do refém pede que se recuperem os sequestrados. “Por favor, olhem para as caras e percebam que é sobre eles, precisamos de ajuda”.
Eli Sharabi é uma das pessoas com cidadania portuguesa que continua refém do Hamas. O homem israelita vivia com a mulher e as filhas perto da fronteira, tendo sido levado para Gaza quando o conflito começou. Sobre ele falou Hilla Maron, porta-voz da “Bring Them Home Now”, uma associação israelita criada logo após o ataque do Hamas em Israel que oferece às famílias das vítimas apoio médico e emocional, esteve presente na conferência de imprensa. Maron criticou fortemente a falta de apoio por parte das organizações humanitárias mundiais, realçando que Israel faz “parte das Nações Unidas” e que a principal prioridade é “dar a liberdade de volta às famílias”.
Frisando a falta de tempo para recuperar os reféns, Hilla Maron garante que “quando dizemos que não há mais tempo, é porque não há mais tempo”, referindo-se ao número de mortes em Gaza, que aumenta a cada dia que passa. Sobre a possibilidade de um cessar-fogo, decorrente da proposta apresentada na quarta-feira (7) pelo Hamas, que Israel recusou, a porta-voz garante que pensam sobre isso e sobre “o dia em que eles vão estar de volta”, na esperança de que “seja em breve”.
“Não interessa se é um homem ou uma mulher, queriam matar quantos mais podiam”, Dor Shapira, Embaixador de Israel em Portugal.
O representante oficial de Israel em Portugal, Dor Shapira, afirma que o resgate dos reféns “não é uma questão política” e que “estamos todos do mesmo lado, como devemos”. O embaixador começou por dizer que, na manhã de 7 de outubro, Israel acordou com um cenário de guerra, com “muitos terroristas a entrar pela fronteira do país”, em nome de “uma ideologia fanática e doida”. Shapira reitera que manter os cidadãos em cativeiro “é terrorismo, uma barbárie, tudo porque eles (os reféns) são israelitas e judeus”.
Após afirmar que a prioridade é “trazer os reféns de volta”, Shapira foi questionado sobre a negativa de Israel a um possível cessar-fogo, proposto pelo Hamas. “Como pode haver um cessar-fogo se os prisioneiros ainda não estão todos de volta a Israel?”, respondeu o diplomata. Acrescentou que o governo israelita tem de “ter a certeza que os objetivos são atingidos”, uma vez que se trata de um tema “muito difícil e muito sensível”.
Questionados sobre a reunião com Marcelo Rebelo de Sousa, Michael Levy diz que receberam “algum apoio” e que o presidente “foi muito atencioso”, realçando que “percebeu a situação” e que “entende” o que sentem. Michael Levy, em nome dos restantes familiares presentes, reiterou que agradecem o tempo com o chefe de Estado e “o facto de se ter mostrado disponível” para os receber.
Na manhã de quarta-feira (7), a agência Reuters avançou com uma notícia que dava conta de um plano, proposto pelo Hamas, para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, com nova troca de reféns por detidos palestinianos. Contudo, Israel recusou, horas depois, o acordo proposto pelo Hamas, salientando que o país está a caminho de, pelas palavras de Netanyahu, “uma vitória absoluta”.
No dia 7 de outubro, terão sido levados de Israel para Gaza à volta de 240 reféns. Cerca de um centena foi libertada durante uma pausa do conflito, em finais de novembro. Atualmente, permanecerão em Gaza 136 reféns. Destes, 31 terão morrido, tendo Israel comunicado já o facto às famílias.
Editado por Filipa Silva