O golpe militar que trouxe a democracia a solo nacional faz este ano meio século. A programação das comemorações oficiais foi divulgada no dia 7. De Lisboa para o resto do país, as atividades do 25 de Abril marcam o quarto mês de 2024.

O programa oficial de comemorações dos 50 anos do 25 de Abril foi apresentado no dia 7 de fevereiro, em Lisboa. Foto: Chay Tessari/Unsplash

Cinquenta anos depois, a revolução que derrubou a ditadura vai voltar às ruas de Lisboa. A programação apresentada, na quarta-feira (7), pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, inclui uma reconstituição da operação “viragem histórica” que se deu durante a madrugada de 24 de Abril de 1974. Na antiga Escola Prática de Cavalaria (EPC), será recriada a formação das tropas e a sua saída do quartel, comandadas pelo Capitão Salgueiro Maia. Depois, as viaturas militares da época vão desfilar nas ruas de Santarém.

No dia 25 de Abril, uma parada militar vai ocupar o Terreiro do Paço (um dos locais mais emblemáticos da operação “Fim Regime”) e vai dar seguimento a outros episódios que também vão ser reconstituídos: a chegada da coluna da EPC a Lisboa, com um desfile que tem início em Sacavém; a tomada do Terreiro do Paço; o confronto com as forças do Regimento de Cavalaria 7 e o cerco ao Quartel do Carmo, onde Marcelo Caetano se rendeu ao MFA. 

Em Elvas, junto ao Paiol da cidade, vai ser exposta a chaimite Bula – que transportou o presidente do conselho após a sua rendição.

Os temas e os momentos que vão ser evocados durante este ano passam pelo derrube da ditadura e o fim do colonialismo, o 25 de Abril e a sua preparação (desde o programa, o plano militar e o golpe das Caldas, que ocorreu a 16 de março), o primeiro Encontro da Canção Portuguesa (a 29 de março de 1974), a crise Palma Carlos, a lei 7/74 de 27 de julho e a descolonização. A manifestação, que se deu a 28 de setembro de 1974, em apoio ao Presidente da República General Spínola, a preparação do processo eleitoral e a dinamização cultural também fazem parte das evocações.

Exposições, pensamentos, reflexões

A Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril propõe criar uma rede de exposições e dossiês digitais, que vão servir como complemento e aprofundamento das temáticas. Também vai estar em marcha uma forte campanha nas escolas de todo o país em parceria com a Associação para a Promoção Cultural da Criança (APCC). 

Nas universidades, está prevista a realização de um colóquio académico, em Lisboa, entre 1 e 6 de setembro, acerca da transição política entre os militares e os cidadãos em eleições livres e justas.

De modo a promover a discussão do “futuro dos estudos sobre a Revolução”, vão ser organizados espetáculos e debates, entre eles, o Congresso Internacional 50 anos do 25 de Abril, que deverá realizar-se na Reitoria da Universidade de Lisboa entre 2 e 4 de maio.

“Preservar a liberdade e a democracia é um dever de todos, por isso pretendemos que 2024 seja um ano de festa e de evocação, mas também de aprendizagem, reflexão e ação”, afirmou Maria Inácia Rezola, comissária-executiva, na apresentação da programação comemorativa.

Já começaram as comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos Foto: Ângela Rodrigues Pereira/JPN

Na região Norte, com destaque para o Grande Porto, as celebrações dos 50 anos do 25 de Abril chegam com diversas atividades para todas as idades. Desde exposições a peças de teatro, a revolução que derrubou a ditadura de 48 anos, volta em força para relembrar os seus valores.

Porto

Para a cidade Invicta estão programadas exposições. Dentro desta vertente, vão ser apresentados, na Fundação Serralves, trabalhos como o “Pré/Pós Declinações Visuais do 25 de Abril”, patente do dia 23 de abril até 31 de outubro. Já “Manoel de Oliveira e o Cinema Português 2. A Revolução (1971-1990)” vai estar em exibição entre 18 de abril e 3 de novembro. 

O Fórum da Maia, entre 12 de abril e 5 de maio, vai acolher a exposição “Legado de Abril”. Para além desta, vai ser possível assistir no dia da revolução, a partir das 17h00, à obra “Retimbrar”, que se insere na vertente de música e cinema.

Estão planeadas também conferências e concursos tais como “A Arte em Ditadura, por José Maia”, dia 13 de março; “Jornalismo e Censura, por Alfredo Maia, no dia 9 de abril, e “O impacto do 25 de Abril de 1974 no posicionamento de Portugal no Sistema Internacional, no dia 17 de abril, por exemplo. 

Pelo Porto deve também passar a exposição itinerante “De Abril a Abril: 50 indicadores de mudança”, feita pela Comissão Comemorativa 50 Anos de 25 de Abril em parceria com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em data e local ainda a anunciar; e “A Democratização vivida” de 6 de junho deste ano até dia 31 de dezembro de 2025, no Museu Nacional Soares dos Reis.

Eventos em Braga, Aveiro e Viseu

De acordo com o site oficial da comissão comemorativa, estão ainda previstos eventos noutras cidades da região Norte no âmbito das comemorações. Em Viseu, por exemplo, passa a peça “Guião para um país possível”, de Cassandra, a subir ao palco entre os dias 19 e 20 de abril no Teatro Viriato.

Já Braga, no que toca a exposições, vai acolher “Quem és tu? – Um teatro nacional a olhar para o país”, do Teatro Nacional D. Maria II, mostra promovida pela Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de Abril e pelo Museu Nacional do Teatro e da Dança. Será na Galeria Municipal de Arte de 9 de abril a dia 2 de março, com entrada gratuita.

No que toca à vertente de teatro e dança, à semelhança do que acontece em Viseu, também em Braga Sara Barros Leitão vai apresentar o “Guião para um país possível”, na Casa das Artes de Famalicão, nos dias 15 e 16 de março.

Aveiro recebe no Centro de Arte Oliva, em São João da Madeira, de 29 de junho a 15 de setembro, a exposiçãoPortugal Ano Zero”, de Pierrot Le Fou.

No dia 26 de abril, o Grupo Poético de Aveiro, vai apresentar a iniciativa “Na Boca (H)à Liberdade”, no Círculo Experimental de Teatro de Aveiro.

Por Vila Real, tal como em Viseu e Braga, vai passar a peça “Guião para um país possível”, de Cassandra, no dia 10 de maio, no Teatro Municipal de Vila Real

Fora do país, nos dias 9 e 10 de maio, o antigo campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, vai dar lugar ao Encontro Internacional de Prisões Políticas do Estado Novo, onde se pretende reunir os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e promover a apresentação de projetos que vão estar expostos no museu do campo de concentração.

No site oficial das comemorações, estão também disponíveis recursos visuais gratuitos, ilustrações inéditas de AkaCorleone, Catarina Sobral, Nuno Saraiva e Matilde Horta, bem como uma agenda colaborativa, “Agenda 50×2”, com as iniciativas organizadas pelos municípios, organizações estatais e associações para celebrar a data.

A partir deste ano, e até 2026, as comemorações dos 50 anos do 25 de abril vão focar nos 3 D’s do MFA – Descolonizar, Democratizar e Desenvolver – para assim promover, segundo Maria Inácia Rezola, “uma sociedade mais participativa, plural e democrática”.

Editado por Filipa Silva