A vida, os medos, a alegria e a esperança relatados no diário de Anne Frank ganham vida no domingo (18) no palco do Coliseu Porto Ageas. O JPN conversou com o encenador de "Anne Frank - O Musical", Fernando Tavares, e com Beatriz Nery, que interpreta a adolescente alemã de origem judaica, vítima do Holocausto.

O cenário remete para o anexo secreto onde Anne Frank se escondeu. D.R.

Entre quatro paredes apertadas e um silêncio constante, os sonhos e as fantasias de Anne Frank continuam ensurdecedores. Os pensamentos da adolescente judia, relatos da sua sobrevivência e da sua família, fazem-se ouvir em diálogos e canções no musical que sobe ao palco do Coliseu Porto Ageas este domingo (18).

Perante o ambiente feroz da Segunda Guerra Mundial, que obriga a sua família a esconder-se no edifício da própria empresa, os olhos de Anne Frank conseguem transpor a luz que pode surgir por entre a dor e a aflição causadas pela perseguição nazi.

O cenário remete para o anexo secreto (hoje casa-museu) escondido atrás de uma estante, onde, mais tarde, a família Van Pels e Frtiz Pfeffer, um dentista, se juntam à família Frank.

À margem do ensaio geral, a que o JPN assistiu, o encenador Fernando Tavares explica que a peça cinge-se às palavras escritas por Anne Frank no diário, que adquire o nome “Kitty” e que são vistas como o seu refúgio entre 1942 e 1944.

“Quando começámos a pensar na peça, o nosso objetivo era pôr tudo o que está no diário, exclusivamente. Não falamos do que aconteceu depois nem antes do diário”, contou.

É então a coletânea destas páginas que serviram de base ao texto e às letras de Hélder Reis e às músicas de André Ramos. No entanto, o encenador admite que transformar a peça num musical não foi tarefa fácil devido à natureza do tema. “Estivemos a pensar até em fazer as peças clássicas para apresentar. Mas um dia acordei e disse que íamos fazer a Anne Frank. E então criámos esta primeira equipa e fomos começando até chegar aqui”, declarou.

“Nós, a Plateia D’ Emoções, trabalhamos essencialmente com musicais para a família. Não são infantis, damos-lhes a nossa própria imagem, a nossa própria linguagem. E é mais familiar do que até infantil. Só queríamos abranger mais públicos, sobretudo o público escolar do segundo, terceiro ciclo e secundário”, acrescentou.

Com base numa foto do pai de Anne, Otto Frank, a história tem um início imaginado por Fernando Tavares, que opta por um final “muito emocional que fará a ponte para os atuais contextos de intolerância e conflito”.

A “menina luz” é trazida para o espetáculo por Beatriz Nery. D.R.

A “menina luz” é encarnada no espetáculo por Beatriz Nery, que a descreve como “esperança” e “feliz enquanto está a viver numa fase horrível”. “Ela é de uma resiliência enorme, acredita que tudo vai acabar bem. E nós sabemos que não vai, que é a parte que custa mais de contar nesta história. É mostrar uma criança, uma jovem, a tornar-se adolescente e que acredita genuinamente que tudo vai acabar bem”, pronunciou.

“Temos de estar atentos para não deixar acontecer o que aconteceu e tem acontecido, como agora a guerra que está a acontecer. Isto é uma ode à paz, à resiliência, à esperança”

Depois da estreia no Coliseu do Porto, a companhia pretende apresentar-se às escolas no Grande Auditório do Vilar Oporto Hotel, entre os dias 20 de fevereiro e 1 de março, havendo sessões abertas ao público geral a 24 de fevereiro, às 21h30, e 25 de fevereiro, às 17h30.

A necessidade de alcançar os mais novos passa por “serem o futuro”, como diz Fernando Tavares, e “transmitir a mensagem de que temos de estar atentos para não deixar acontecer o que aconteceu e tem acontecido. Isto é uma ode à paz, à resiliência, à esperança”.

“A peça alerta exatamente para não voltar a cometer os mesmos erros que estamos a cometer, como a guerra na Ucrânia. Há uma pessoa que há dez anos anda em guerra, que há dez anos que anda a dizer o que vai fazer e ninguém acredita. Foi assim com Hitler. Deixaram andar cinco, seis, sete anos. Ao final de sete anos, ele começa a loucura. Isto não tem nada a ver com raças, não tem nada a ver com países. Isto é um exemplo que aconteceu e que não pode voltar a acontecer, seja com que identidade, com que nacionalidade for”, comenta o encenador.

Beatriz Nery, a protagonista, junta-se a estas declarações e afirma que “como ela [Anne Frank] diz, que sirva de alguma coisa contar esta história e que as pessoas possam refletir um bocadinho sobre o assunto e, quem sabe, até mudar alguma coisa”.

Os bilhetes variam entre 16 e 96 euros. Para obter bilhete de mobilidade reduzida, é necessário contactar a bilheteira do Coliseu Porto Ageas.

“Anne Frank – O Musical” é promovido pela Plateia d’Emoções e quer percorrer o país. Vai estar presente no Cine Teatro Messias, na Mealhada, no segundo semestre de 2024. Também estão agendadas sessões escolares no Centro Cultural de Tábua nos dias 4, 5 e 6 novembro, às 10h00 e às 14h30. Para 2025, a organização dá conta de que estará no Teatro Municipal de Bragança, no primeiro semestre.

Editado por Filipa Silva