A Câmara Municipal do Porto (CMP) anunciou a medida na apresentação da "Estratégia de base para a dispersão dos fluxos turísticos" para aliviar o turismo nas principais zonas turísticas da cidade do Porto.
A Câmara Municipal do Porto (CMP) anunciou na sexta-feira (15) a criação de oito quarteirões turísticos com o objetivo de aliviar a pressão do turismo no centro da cidade. O anúncio foi feito no âmbito da apresentação dos resultados de um estudo sobre a dispersão dos fluxos turísticos encomendado pela autarquia à empresa Ernest & Young Parthenon.
Os oitos quarteirões – Centro Histórico do Porto e de Gaia, Baixa do Porto, Foz-Matosinhos Sul, Boavista-Campo Alegre-Marginal do Douro, Bonfim e Lapa-República-Marquês, Asprela-Arca d’Água-Carvalhido-Ramalde e Campanhã-Antas – contemplam áreas contíguas dos municípios de Gaia e Matosinhos “numa ótica de ligação direta também com as cidades vizinhas”, explicou Hermano Rodrigues da empresa responsável pelo estudo.
Estes quarteirões foram classificados em três categorias – consolidados, em consolidação e emergentes. Os já consolidados são o Centro Histórico do Porto e de Gaia e a Baixa do Porto, onde se concentra mais de 70% da “oferta” e da “procura” turística. Em consolidação, são considerados os quarteirões da Foz-Matosinhos Sul; Boavista-Campo Alegre-Marginal do Douro e Bonfim. E “emergentes” – aqueles que têm “reduzido número de ativos turísticos, pouco explorados ou mesmo nenhuns” – que incluem a “Lapa-República-Marquês”; “Asprela-Arca d’Água-Carvalhido-Ramalde e Campanhã-Antas.
O relatório aponta que “71% da oferta turística”, medida através do número de empreendimentos turísticos, e “79% da procura turística”, medida pelo volume de operações na rede multibanco efetuadas por estrangeiros, ocorrem na zona do Centro Histórico e da Baixa do Porto, o que “sugere sinais de excesso de pressão turística nas zonas”, como se pode ler no documento.
Na sessão de apresentação do estudo, a vereadora responsável pelo pelouro do Turismo e da Internacionalização, Catarina Santos Cunha, referiu que este projeto surgiu da necessidade de “diversificar, descentralizar, ampliar” o fluxo turístico no Porto e de “criar novas oportunidades em todo o território” da cidade.
Para Catarina Santos Cunha, a estratégia foi criada com o objetivo de colocar “uma lupa sobre as diferentes cidades dentro da cidade, a identidade de cada bairro, a qualidade e a diferenciação da sua oferta, os seus fatores de competitividade e atratividade, as narrativas que se desdobram em cada quarteirão”.
A vereadora diz que já está a ser preparado um conjunto de iniciativas que vão envolver a população da cidade e os municípios vizinhos, além já estarem a começar a promoção internacional destes quarteirões.
O objetivo dos quarteirões é dispersar os turistas das zonas com elevada pressão e levá-los a outras zonas de maneira a desenvolve-las, “não é com o intuito de criar pressão noutros locais, mas efetivamente desenvolvimento económico noutros locais“.
“Não há turismo a mais, há Porto a menos”
A seguir à apresentação do estudo realizou-se um painel de discussão da estratégia de dispersão de fluxos turísticos. O painel contou com a participação do historiador Hélder Pacheco, do professor Carlos Brito da Faculdade de Economia do Porto , do curador cultural Simão Bolívar e da especialista da área de mobilidade Paula Teles. Membros do grupo de especialista que ajudaram a desenvolver o projeto.
Hélder Pacheco salientou, na sua intervenção, que a estratégia apresentada pela CMP está a dar resposta ao que chama de “Porto a menos”, relembrando a propósito um artigo de opinião que escreveu com o título “Não há turismo a mais, há Porto a menos”. O historiador diz que “o Porto a menos é o Porto de Campanhã, de Ramalde” por onde os turistas não passam.
Refere também que esse Porto tem muito a oferecer aos turistas, relembrando iniciativas como a Exposição de Camélias do Porto, que decorreu no início do mês no Parque de São Roque, a arquitetura de Ramalde, freguesia onde diz que existe “um dos melhores museus de farmácia da Europa”.
Já o professor Carlos Brito, da Faculdade de Economia do Porto, destacou a necessidade de equilibrar aqueles que são os quatro diferentes públicos da cidade: “Aqueles que visitam, aqueles que moram e aqueles que trabalham (…) E depois, aqueles que investem“. O docente admite que haja “algum excesso” de turismo no centro histórico, mas considera que, do ponto de vista do marketing, é de evitar “passar essa mensagem”. Ainda do ponto de vista da promoção da cidade, o também presidente da Associação Portuguesa de Managment alerta que os nomes dos quarteirões têm que “soar bem em várias línguas” e têm que “ter um significado”.
Simão Bolívar, curador cultural, fala da necessidade de apresentar uma oferta que deve ser vista a um “nível demográfico”. “As faixas etárias e o tipo de interesses que podem existir nas diferentes áreas da cidade são efetivamente uma forma de catalogar aquilo que se pode fazer”, afirmou.
A especialista da área de mobilidade Paula Teles começou a sua intervenção por parabenizar o plano, dizendo que este pode ser “implementado amanhã, daqui a 10 anos ou 20”. Destacou três “palavras-chave para o desenvolvimento sustentável das cidades”, que são a descarbonização, a humanização e a inclusão. E chamou a atenção para a taxa de motorização da cidade do Porto, onde “75% das pessoas anda de carro, muito pouco a pé e muito pouco de bicicleta”.
No âmbito da sessão de questões feitas pela a assistência depois do painel, Rui Saraiva, da administração da STCP do Porto, comentou que ainda falta muito turismo ao Porto: “Temos é mais Porto para mostrar e acho que é um pouco essa transformação, não é Porto a menos no turismo, temos é mais Porto para mostrar a quem nos visita, aos locais, àqueles que trabalham, àqueles que vivem cá”. Já sobre a questão dos transportes públicos refere que o Porto tem transportes públicos “devidamente articulados”, porém são pouco conhecidos e usados.
Editado por Filipa Silva