A menos de um mês da celebração dos 50 anos do 25 de Abril, os festejos no Coliseu do Porto começam através da celebração da revolução musical que antecedeu a revolução política. As portas do Salão Ático abrem-se para ouvir o renomado álbum de José Mário Branco, que em 1971, quando foi editado, já prenunciava o ímpeto de um povo reprimido: “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as vontades”.

Capa do álbum “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” de José Mário Branco.

A iniciativa faz parte de um projeto intitulado de “Aprende a Ouvir, Companheiro”, uma iniciativa do Coliseu em parceria com a editora Zigurate, de Carlos Vaz Marques. “Aprende a Ouvir, Companheiro” visa resgatar o encontro público com o propósito de escutar canções e refletir sobre elas. Neste caso, as de José Mário Branco.

A comentar o álbum de uma das principais vozes da revolução vão estar a cantora Capicua, o escritor de poemas e canções Carlos Tê e o jornalista Luís Freitas Branco.

Capicua sabe que o rap é arma de revolução. É umas das vozes femininas a convocar a reflexão cultural, social e política através da sua música. Carlos Tê escreveu alguns dos maiores clássicos da música portuguesa, grande parte deles interpretados por Rui Veloso. Já Luís Freitas Branco, além de marcar presença como jornalista e crítico musical, lançará também o seu primeiro livro, “A Revolução antes da Revolução”.

A obra, editada pela Zigurate, explora a revolução cultural que antecedeu a revolução política: a música portuguesa a reclamar as transformações decisivas e necessárias que levaram ao fim da ditadura. 

Luís Freitas Branco lança o livro “A Revolução antes da Revolução”. Foto: Coliseu Porto Ageas/D.R.

Além de ter sido o ano em que se editou “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, 1971 foi também o ano da revelação daquela que viria a ser a canção-senha da revolução, “Grândola, Vila Morena”. Foi o ano do golpe musical. José Mário Branco, Sérgio Godinho, Carlos Paredes, Tonicha, Amália Rodrigues protagonizavam o cenário de mudança cantado em versos. Neste trabalho de investigação de Luís Freitas Branco, é documentado quem e como se impactou o cenário cultural, social e político através da música popular portuguesa.

Para este livro foram entrevistadas 45 artistas da música portuguesa. Entre eles, Sérgio Godinho, José Cid, Marco Paulo, Manuel Alegre, familiares de José Mário Branco e Carlos Paredes. O autor do livro procurou um olhar atento e inédito sobre aquilo que foi a revolução antes da revolução.

Através da escuta comentada de “Mudam-se os Tempos e as Vontades” com apontamentos do livro “A Revolução antes da Revolução”, o evento pretende promover a reflexão sobre o modo como a revolução cultural ajudou Portugal a sair da ditadura, em 1974.

A entrada do evento é livre, mas o bilhete deve ser levantado previamente no coliseu do Porto. 

Editado por Filipa Silva