A Galeria Municipal do Porto inaugurou esta quinta-feira uma nova exposição integrada no projeto “Aquisições”, que visa o apoio aos artistas através da compra das obras. A arte contemporânea fundiu-se com outras obras resgatadas ao passado. Patrícia Coelho e Isabel Santiago, curadoras da exposição, estiveram à conversa com o JPN.

A mais recente exposição da Galeria Municipal do Porto, “Ensaio de uma coleção”, inclui 43 obras de 38 artistas, todas elas compradas ao abrigo do programa “Aquisições”, que procura apoiar artistas locais ao mesmo tempo que reforça a Coleção Municipal de Arte. Foi inaugurada na quinta-feira e é o resultado de uma seleção de um comité independente que este ano integrou o artista Mauro Cerqueira, o colecionador Pedro Álvares Ribeiro e o curador e historiador de arte Pedro de Llano.

Dispostas pelos dois níveis da galeria, o conjunto das obras remete para a memória, os afetos, a solidão, a busca pela identidade até à escrita representada como um molusco versátil. As metamorfoses da vida urbana em ruínas e a intervenção artística que isso implica. Indígenas com o cabelo em chamas e sereias mutantes invadem a galeria. Tudo isto permeia a nova exposição do “Aquisições”.

Com sala cheia na inauguração, a exposição  junta diferentes culturas, gerações, contextos e maneiras de fazer arte. Entre as obras, contam-se nove pinturas de Maria José Aguiar que foram censuradas no passado, um painel contemporâneo que usa ironicamente faixas policiais, cortinas que engolem o espectador em “nudez gráfica”, uma parede onde uma imagem mais decadente da cidade se compõe a partir de fragmentos de notícias e outros media. “Make Porto Podre Again”, lê-se num dos recortes.

A arte manifesta-se aqui sob forma de pintura, filme documental, artes plásticas, performance, fotografia e colagens. Numa paisagem coletiva, mutante e diversa, contemporânea e experimental, contam-se artistas como Ana Hatherly, Bruno Zhu, Kenny Berg, Ronaldo Rosas, Diana Policarpo e Xavier Paes. Títulos como “The Complete Guide to Nothingness”, “Vende-se Metadona a 5 Paus”, “A Transformação do mundo”, “Buraco” e “Um brinde aos cacos em pleno tremor de terra”, preenchem a Galeria inserida no edifício da Biblioteca Almeida Garrett.

Um “incentivo” para os artistas

As peças foram todas compradas pela Galeria Municipal do Porto. Além do apoio monetário dado aos artistas, Patrícia Coelho considera que é um incentivo mais amplo que vai para lá da compra. “Ao inserir uma peça de uma pessoa artista numa coleção, estamos a contribuir para o seu desenvolvimento do percurso artístico” e a “validar esses discursos dentro de um campo profissionalizante da arte”. Para a curadora da exposição inaugurada na quinta-feira, isto não só permite a circulação dessas obras, como dá visibilidade e reconhecimento para o artista e o seu trabalho.

A seleção das peças decorreu sob duas formas. Através de um processo de candidaturas, mas também de compra de obras a galerias comerciais da cidade. Não existiu propriamente um critério ou um fio condutor que ligasse as peças selecionadas, mas antes o objetivo de tornar o conjunto inclusivo e plural. As peças “não foram pensadas para estarem em diálogo no mesmo espaço”, mas antes no sentido de “amplificar a sua diversidade. Seja técnica, temática, transgeracional”, afirma ao JPN a curadora Patrícia Coelho.

“Mais que tecer um retrato do que seria a arte portuguesa contemporânea, é amplificar e perceber que questões são assinaladas no território global”, acrescentou Isabel Santiago, também curadora da exposição. E por isso, a mostra também dá voz àqueles que fazem reflexões sobre a cidade que habitam, independentemente da origem, isto é, se são de cá ou não.

A inauguração da exposição culminou com a performance de Xavier Paes. 

Programa “Aquisições” já tem inscrições abertas para o próximo ano

O programa “Aquisições” foi criado em 2018. O orçamento tem aumentado a cada ano e, por isso, o número de obras compradas também. A coleção conta até agora com mais de 180 obras de mais de 150 artistas e coletivos artísticos.

As novas aquisições da Coleção Municipal de Arte estão em exposição até dia 19 de maio e a entrada é gratuita. Já podem também ser submetidos os trabalhos para a próxima exposição do “Aquisições” até ao dia 26 de abril e cada artista pode submeter até duas obras artísticas.

Com um orçamento de 75 mil euros para a compra das obras, o Comité de Seleção deste ano é integrado por Carlos Antunes, que dirige o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, pelo artista venezuelano Juan Araujo e Maura Marvão, consultora de arte e professora de artes na Universidade Católica Portuguesa.

Editado por Filipa Silva