É na Rua da Picaria que se levanta a nova casa da Escola 42. A instituição, anteriormente localizada na Avenida dos Aliados, tem agora espaço para 600 alunos poderem aprender a programar gratuitamente. Beatriz Fernandes, diretora de operações, diz que 42 "pode mudar vidas”.

Presente desde junho de 2022 no Porto, a Escola 42 encontra agora uma nova localização na Invicta, trocando o Palácio dos Correios pelo antigo edifício da PT na Rua da Picaria. Presente em 30 países, a instituição tem agora novas instalações que aumentam a sua capacidade. No total, a escola pode agora acolher até 600 alunos interessados em aprender a programar de forma gratuita.

A mudança de espaço deveu-se, segundo a diretora de operações, Beatriz Fernandes, à “necessidade de crescer”. “Estávamos num edifício da Critical Techworks, mas a empresa tem estado a crescer. Nós também. Portanto, sentimos a necessidade de nos mudarmos para um sítio novo e a Altice ofereceu-nos a possibilidade de estar neste edifício e agora estamos aqui”, explica a responsável.

Para Beatriz Fernandes, diretora de operações na 42, no Porto “Isto é um modelo que eu acho que traz muito valor”. Foto: Lara Castro/JPN

Atualmente, a escola, que alberga 337 alunos ativos, passará a contar com mais uma centena neste mês de abril, fruto de um bootcamp intensivo. Mas as instalações da escola têm capacidade para mais: 600 estudantes no total. E há infraestrutura para todos, segundo a responsável: cerca de 200 computadores. “No fundo, um computador por cada três alunos”, no caso de todas as vagas estarem preenchidas, refere Beatriz Fernandes.

Sem salas de aula, sem horários e sem professores, este instituto está aberto 365 dias por ano, 24 horas por dia. Para a diretora de operações, esse aspeto faz da escola “especial”. “Acho isso muito especial na 42, tu és responsável pelo teu próprio ensino e pelas horas que pões aqui. Ninguém está a ver se vens todos os dias. Preocupamo-nos quando deixam de vir, claro, mas se não vens um dia, se não vens outro, não chateamos”, conta Beatriz Fernandes ao JPN.

Para a responsável, o espírito de “comunidade” estabelecido entre os alunos é algo que “traz muito valor”: “Acho que é muito transformador perceber que aprendemos a fazer perguntas, a explicar aos outros, e que os outros também aprendem com as nossas explicações. Criar aqui este fluxo, quase esta livraria humana de informação é muito transformador de ver, porque há dias em que uns são professores, há dias em que outros são professores. Isto é um modelo que eu acho que traz muito valor”.

Porquê “42”?
“Isto vem de um livro chamado ‘The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy’. É um livro, no fundo, de computadores. Alguém faz uma pergunta ao computador durante anos e anos e o livro desenrola-se todo à volta disso. No final, ele dá o número 42, que é a resposta do universo, da vida e para todas as coisas. No fundo, é um número que vai aparecendo muito em programação. Há alguma coisa mística no mundo dos programadores com este número”, explicou Beatriz Fernandes.

O ensino é gratuito e o trabalho é organizado em função de deadlines. “Eles têm deadlines. Ou seja, para cada projeto que entregam têm uma deadline máxima para a entrega. Se não chegarem a cumprir essa deadline, o percurso deles acaba, e eles têm sempre de passar em exames durante o curso. A parte diferenciadora no modelo de educação é que têm de passar com 100%. Mas podem sempre repetir, até conseguirem”, explica Beatriz Fernandes.  

O corpo estudantil da 42 é também bastante “diverso”, a média de idades dos alunos ronda os 27 anos. “Não só de idade, vai dos 18 aos 62, mas mesmo nas nacionalidades: 35% não são portugueses. Depois, ao nível de áreas, temos mais ou menos um terço que fez uma licenciatura, um terço que não tem licenciatura. Portanto, é super diverso e temos desde músicos, bailarinos, médicos”, refere a diretora de operações.

Luís Carvalho, de 28 anos, ingressou na 42 em outubro de 2023. Seguiu química medicinal, mas despediu-se para perseguir o interesse pela programação. Quando questionado sobre o que mais gosta na escola, menciona a “interação com as pessoas” e o “método de aprendizagem”. “É necessário estar aqui a comunicar com elas e quando comunicas aprendes muito mais depressa. Se tens dúvidas, são logo esclarecidas”, afirma o estudante.

Diogo Pinheiro entrou na 42 igualmente em outubro e criou o clube de robótica na escola. “Notei que havia várias pessoas interessadas na parte eletrónica e o meu background é na parte de automação, eletrónica e robótica. Então, decidi juntar o útil ao agradável. Tenho gosto de ensinar e de participar em competições de robótica, portanto, decidi fazer uma equipa. Estamos a ganhar experiência não só na parte digital, na parte abstrata, mas também na parte física de hardware, através de componentes, circuitagem, coisas desse género”, esclarece o estudante.

A admissão no curso – que dura em média um ano meio a dois anos –, não exige experiência prévia em programação. Na verdade, 70% dos alunos não tinham qualquer histórico de programação, segundo os responsáveis pela escola, bastando para a candidatura ter pelo menos 18 anos ou o 12.º ano concluído. “Primeiro registam-se no site, fazem os jogos online de lógica e memória. Depois, se passarem, são convidados a vir à escola para algo como um dia aberto, onde explicamos a dinâmica. Eles ouvem também alunos a falarem sobre o curso e, numa fase a seguir, são convidados a fazer os bootcamps, que são 26 dias intensivos de imersão na programação”, explica Beatriz Fernandes.

Agora, com a mudança de instalações, surgem também novos objetivos e desafios pelo caminho. Para a responsável, a 42 “pode mudar vidas”. “Queremos chegar a mais gente, ter mais alunos. Acreditamos no projeto e acreditamos que realmente podemos aqui mudar vidas e trazer novas oportunidades a tantos novos alunos”, conclui Beatriz Fernandes.

Editado por Filipa Silva