As consultas de psiquiatria aos estudantes da Universidade do Porto têm aumentado muito em função da crise económica que atinge o país. O medo em relação ao futuro, o pagamento das propinas e os graves problemas financeiros são os principais razões a levar muitos jovens a recorrer ao apoio psiquiátrico promovido pelos Serviços de Integração e Acção Social Escolar (SIEAS) da UP.

Adelaide Telles, do SIEAS, revelou ao JPN que o número de pedidos de consultas ” aumentou imenso”. “Há casos em que nós próprios temos de comprar os medicamentos para os alunos iniciarem a terapêuticas porque eles não podem naquela altura financeiramente.”, acrescenta.

O apoio é dado caso a caso, mas a grande maioria, revela, ” não sabe que há apoios sociais” a que pode concorrer. Adelaide Telles admite ainda que existem casos extremos de depressão e de tendências para o suicídio.

Serviço para todos os estudantes

Destinadas a todos os estudantes da Universidade do Porto, as consultas de psiquiatria promovidas pelo SIEAS decorrem à quarta-feira, entre as 14h30 e as 18h30. Todas as consultas obedecem a marcação prévia por telefone (22 040 82 35, ext: 3314), ou através do e-mail: [email protected].

A orientação é dada no sentido de que os estudantes da UP tenham conhecimento das possibilidades e saídas que lhes permitam ultrapassar os problemas financeiros. Uma das alternativas é propor ao aluno um trabalho em part-time ou indicar-lhe um apoio social dado pelo governo.

“Ainda não estamos em cima da crise”

De acordo com o Diário de Notícias, a procura de consultas de psiquiatria cresceu em todo o país devido ao aumento do desemprego. Ansiedade e depressão serão os problemas mais citados, fazendo com que cada vez mais portugueses recorram a consultas e a medicação psiquiátricas.

António Pacheco Palha, director do serviço de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, trabalha actualmente numa clínica privada e revelou ao JPN que ainda não notou qualquer aumento devido à crise. ” Ainda não estamos em cima da crise”, revela.

Embora o Plano Nacional de Saúde Mental revele que as consultas de psiquiatria estão a aumentar, o professor da FMUP afirma que o que leva as pessoas às consultas “são os sintomas de ansiedade, angústia e inquietação” em relação ao que vai acontecer no futuro. ” As pessoas preocupam-se com o que vai acontecer no futuro, se vão manter o emprego ou não”, acrescenta.

O director do serviço de psiquiatria da FMUP admite também que o desemprego é um dos motivos que leve as pessoas às consultas de psiquiatria. O medo de perder o emprego é notório e existem “muitos casos de professores” que recorrem a consultas.

O apoio dado nestes casos é no sentido de tranquilizar as pessoas para que ” a inquietação não se transforme em doença.” A ansiedade e o medo são para o médico psiquiatra os motivos das consultas que não têm aumentado, na sua opinião. Quanto a casos extremos, ” não há riscos de suícidio. Há sim muitas situações de precariedade que levam ao medo e à angústia existencial”. afirma o professor da FMUP, para logo desmistificar: “A crise que ainda não é marcadamente vísivel. Não havendo guerra, nem violência, ela há-de passar”, conclui.