Os extensos corredores de cor cinzenta característicos da Casa da Música contrastavam com as purpurinas, dourados e prateados das bailarinas. Em dia de Gala de Bailado Jovem, promovida pelo Centro de Dança do Porto a 1 de Novembro, antes do início do espectáculo dezenas de bailarinos e aspirantes à profissão espalham-se pelos bastidores, o “refúgio” de todos os artistas.

Ao verdadeiro estilo das estrelas de Hollywood, os espelhos cobrem todas as paredes das salas. Cinco lâmpadas em forma de globo prateado tornam o ambiente ainda mais profissional.

No ar sente-se nervosismo, ansiedade, felicidade. Há uma certa curiosidade por trás do olhar das bailarinas. As sabrinas de ballet, também conhecidas como sapatos de pontas, já se encontram gastas de tanto uso, mas não é por isso que não sobem ao palco. Enquanto o espectáculo não começa, a concentração. Fazem-se os últimos alongamentos, alguns pliés, voltas, saltos, pois, como se ouvia no ar, “não há mais nenhuma oportunidade!”.

Um ritmo “frenético”

Joana Tojal ainda não se considera bailarina, mas estuda dança desde os três anos de idade. Hoje, dança do Instituto “Alicia Alonso” da Universidade Rei Juan Carlos de Madrid e reconhece os bastidores como um local de estado imprevisível. “Nunca sabemos muito bem como estamos nos bastidores. Se as coisas correrem mal, o ambiente não é nada bom, mas se correrem bem estamos todos felizes e a sorrir”.

“Frenética” é a palavra que Marta Macedo, professora e bailarina de Ballet, utiliza para descrever a vivência nos camarins. Diz que falta sempre “algum pormenor”. Marta dança desde os três anos e diz que esta arte é “indispensável” na sua vida. Não se consegue recordar nitidamente do ambiente dos primeiros bastidores, mas lembra que adorava “mais velhos a entrar em palco”. “Ficava fascinada”, confessa, com um brilho nos olhos.

Hoje, a bailarina actua principalmente com crianças, pelo que expressão mais utilizada nos bastidores é o típico “Shhh!!!”. Tal como Joana Tojal, Marta diz que o ambiente vai variando, mas é com certeza que afirma que “os bastidores são um lugar tão mágico como o palco, senão mais ainda”.

A magia do espectáculo

Quando há espectáculos, os bailarinos nem sentem as horas passar. Andressa Oliveira, bailarina sediada em Berlim, diz que são sempre dias “mágicos”. Pela manhã são feitos alguns aquecimentos para evitar lesões e, pela tarde, treina-se minuciosamente todo o espectáculo. Para Andressa, a magia reside no facto de estar todo o dia a trabalhar para umas horas de espectáculo, em que finalmente tem a oportunidade de “expor as emoções”, mostrando ao público a sua “verdadeira paixão”.

Quando as cortinas fecham, vêm os suspiros, os olhares de alívio, a sensação de objectivo cumprido. Aos poucos e poucos, a sala de espectáculos esvazia-se. Nos bastidores, as bailarinas trocam as sabrinas por botas, os collants por jeans. Finalmente, saem da sala. Sabem que todo o dia de preparação, exercícios e nervosismo se resumiu apenas a uma só certeza: a paixão pelo ballet.