Os últimos dados publicados pela Reitoria da Universidade do Porto, referentes ao período entre 2006 e 2010, revelam que a produção científica tem crescido a uma média anual de 13,1%, superior à média nacional (9,5%). A Universidade do Porto produziu, durante o período referido, mais de um quinto (21,8%) dos artigos científicos publicados em Portugal e cerca de 43% do trabalho realizado pela universidade conta com colaboração internacional.

São números relevantes e representam um ótimo indício do trabalho feito pela UP que é, de resto, a maior instituição de produção científica a nível nacional. O vice-reitor da UP, Jorge Gonçalves, afirma que os responsáveis se sentem muito satisfeitos com este crescimento, mas ressalva que “o mérito pertence à comunidade científica da UP, aos investigadores, que dão o seu máximo para conseguir financiamento e fazer um trabalho cada vez melhor”.

Mas este crescimento pode estar em risco. A crise atual levou a vários cortes nas despesas com as universidades e o financiamento de projetos de investigação e desenvolvimento tem vindo a diminuir, algo que dificulta o trabalho das faculdades.

Aparecimento de novos projetos em risco com cortes de financiamento

A Faculdade de Ciências (FCUP) é a que mais produz a nível científico na UP. Uma aposta forte na investigação tornou-se uma das imagens de marca da FCUP, mas o crescimento considerável que se tem verificado nos últimos anos pode estar em risco.

António Fernando, diretor da faculdade, não tem dúvidas quanto às dificuldades resultantes do menor investimento feito nas áreas de investigação. “Tivemos, por exemplo, o congelamento de uma parte do saldo do ano passado”, avança António Fernando. O investigador da área da Bioquímica diz mesmo que a dificuldade em financiar a investigação “vai acabar por desmotivar as pessoas a concorrer a novos projetos”.

Para tentar contornar este obstáculo, o diretor da FCUP explica que foi criado uma espécie de fundo de apoio à investigação, que funciona através de empréstimos aos investigadores, empréstimo esse que é reembolsado mais tarde através do retorno financeiro aos investigadores pela participação em outros projetos.

Procurar investimento estrangeiro é uma das soluções

Na Faculdade de Medicina (FMUP) vive-se uma situação idêntica. A vice-presidente do Conselho Científico da faculdade, Raquel Soares, admite que todos têm muito receio da diminuição de verbas. “Não temos dúvidas de que estas restrições vão ser prejudiciais para a investigação”, refere.

A investigadora garante que a faculdade e a UP estão à procura de alternativas ao financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, a única instituição pública no país de apoio à investigação e de onde chega a maior parte do financiamento. “Estamos, por exemplo, a tentar fazer mais ligações a instituições estrangeiras para conseguir o financiamento da União Europeia, porque aqui está cada vez mais complicado”, conta Raquel Soares.

Jorge Gonçalves confirma a tendência negativa do apoio à investigação. Apesar dos esforços de contenção, o vice-reitor afirma que “não há milagres”. Segundo o responsável pela área de inovação, investigação e desenvolvimento da universidade, “áreas essenciais como o ensino e a investigação vão sofrer vários cortes”, em consequência do atual quadro económico nacional e europeu.

O vice-reitor confessa que o mais dificil é convencer a opinião pública. “É muito complicado dizer às pessoas, que estão a ser penalizados com tantos cortes transversais, que vão ter de sofrer mais um bocado para continuar a financiar a investigação de forma a sairmos mais fortes da crise”, completa.