Em jogo contar para a 24.ª jornada da Primeira Liga, o Bessa foi palco de uma disputa entre duas formações a tentarem escapar às últimas posições da tabela. Numa partida onde nunca conseguiu impor critério no seu futebol, o Boavista FC saiu derrotado pelo Farense, que assinou uma das melhores exibições da época e passou a somar 22 pontos, ganhando uma importante batalha e alento para continuar a figurar entre o principal escalão do futebol português.

Em relação ao encontro da jornada anterior, na derrota por 2-0, diante do SL Benfica, Jesualdo Ferreira escalou duas alterações no onze inicial com as entradas de Hamache e Adil Rami para os lugares de Chidozie, a cumprir castigo, e Sebastián Perez.

Já a formação de Jorge Costa, que também procurava o sabor da vitória, depois da derrota caseira frente ao Belenenses SAD, apresentou quatro alterações. Beto assumiu a baliza no seu regresso à Primeira Liga, após ter assinado contrato no decorrer da semana para colmatar a lesão de Rafael Defendi. Abner e César Martins regressaram à titularidade na defesa e Bilel entrou para o lugar de Fabrício Isidoro.

Leão algarvio domestica a pantera

Foi na longínqua época de 2001/02 que o Bessa presenciou o último encontro entre estas duas formações. 19 anos volvidos, voltou a receber um importante encontro entre dois adversários com objetivos bem definidos: vencer e fugir aos últimos lugares.

O encontro começou com uma toada intensa, e, desde cedo, o SC Farense tomou as rédeas do encontro, encontrando espaço para jogar tanto por dentro como pelos corredores laterais. Esta evidente superioridade teve efeitos imediatos e logo ao segundo minuto, após displicência de Devenish, Javi Garcia cometeu falta sobre o criativo da formação algarvia Ryan Gauld e Hugo Miguel não teve dúvidas e assinalou penálti.

Na cobrança do castigo máximo, o escocês disferiu um remate colocado ao ângulo inferior esquerdo da baliza de Leo Jardim, mas, com uma monumental defesa, o guardião brasileiro impediu o golo forasteiro. Com uma entrada forte na partida, o Farense impunha o seu futebol e encostava o Boavista às cordas e as oportunidades sucediam-se.

Aos 6 minutos, numa jogada de envolvência na meia direita do ataque algarvio, Tomás Tavares receciona a bola, entrega a Bilel e este, com um cruzamento certeiro, coloca o esférico em Pedro Henrique. Já no interior da área, o avançado brasileiro cabeceia para nova defesa de Léo Jardim.

O domínio algarvio ia pautando o ritmo do jogo, perante a ineficácia da estrutura montada por Jesualdo Ferreira. O 4-3-3 apresentado pelos axadrezados, com Hamache a fazer de interior esquerdo, auxiliado por Paulinho na meia direita e Angel Gomes e Gustavo Sauer nas alas, mostrava-se insuficiente para beliscar a estratégia de Jorge Costa. De referir que no momento defensivo, Hamache ocupava a ala esquerda e Ricardo Mangas fechava mais ao centro. Esta alternância posicional ia abrindo espaços no corredor central do Boavista, que iam sendo aproveitados pelo Farense.

Aos 12 minutos, novo ataque do algarvios com um passe de César Martins para a zona central para Pedro Henrique que, após amortecer para Ryan Gauld, vê nova tentativa ser travada pelas luvas de Léo Jardim, que se ia evidenciando como a figura em destaque na parte inicial.

O ímpeto ofensivo dos algarvios parecia imparável e foi materializado em golo aos 25 minutos.  Uma vez mais, a ala direita da formação de Jorge Costa muito interventiva no encontro e a aliança Tomás Tavares/Bilel a causar novamente calafrios à defensiva boavisteira. O extremo argelino cruzou para o interior da área e após tentativa de corte falhada por Devenish, Licá não desperdiçou e adiantou os algarvios no marcador.

Com o avançar dos minutos, a Pantera conseguiu retaliar e começou a ter alguma posse de bola no meio-campo contrário. Faltou-lhe, contudo, ser mais agressiva no ataque à baliza de Beto e apenas somou um remate na primeira parte, por Sauer, que o estreante guarda-redes travou com relativa facilidade. Sem grandes ocorrências até ao apito para o intervalo, ficou na retina um primeiro tempo dominado pelo Farense e marcado pelo desacerto axadrezado.

Equilíbrio de forças

Jesualdo Ferreira mostrava-se insatisfeito com o decurso dos acontecimentos e para a segunda parte mexeu no tabuleiro ao fazer cair Hamache, que, com uma exibição apagada, não correspondeu à chamada ao onze e para o seu lugar entrou o angolano Show. Com esta alteração, o Boavista passou a atuar em 4-2-3-1, com um duplo pivot, com Javi Garcia e Show, a darem mais estabilidade ao meio campo caseiro, apoiados por Angel Gomes, mais adiantado no terreno. Quanto a Sauer mudou-se para a esquerda e Paulinho abriu na ala direita.

Com esta mudança, Jesualdo pretendeu libertar Angel Gomes e potenciar mais criatividade e movimentos de rutura na zona nevrálgica do terreno, algo que não se verificou no primeiro tempo.

As mudanças deram resultado, com aparentes melhorias para o lado boavisteiro, que se apesentou bastante mais ativo no encontro. O primeiro lance de real perigo para as redes da baliza à guarda de Beto aconteceu aos 59 minutos. Livre em boa posição para Sauer – o mais inconformado do lado boavisteiro -, mas, após desviar na barreira, o esférico sobrou para o interior da área onde apareceu Alberth Elis a rematar para defesa segura do internacional português Beto.

Ainda que não tenha exibido a superioridade do primeiro tempo, o Farense conseguiu, a espaços, criar calafrios e aos 61 minutos esteve muito perto de dilatar a vantagem. Desconcentração de Javi Garcia a perder a bola no reduto defensivo e a deixar o Farense em boa posição para marcar. Bilel entrega em Gauld, que com um forte remate vê as suas pretensões esbarrarem contra a trave. De seguida, a bola sobra para Licá que acerta no poste.

Maior protagonismo, mas escasso em oportunidades

Em busca do golo, o Boavista continuou a ser a equipa que mais tentou cercar a baliza oponente, privilegiando o jogo exterior, mas o Farense mostrou-se sempre compacto e bastante concentrado em todos os momentos do jogo.

Com o aproximar do apito final, o “pressing” dos boavisteiros intensificou-se e carregou numa formação algarvia que apesar de recuar as linhas, não desfez o 4x2x3x1. Ainda que Jesualdo tenha acrescentado poder de fogo ao ataque com a entrada de Benguché, a falta de clarividência e definição no último terço foi uma constante e o melhor que os axadrezados conseguiram fazer foi colocar algumas bolas na área, sem criar perigo.

Já com o Boavista em contrapé e a correr atrás do prejuízo, as melhores ocasiões pertenceram ao Farense, sempre a espreitar o contra-ataque. Em ambas Léo Jardim respondeu à altura, assinando uma grande exibição, apesar do desaire coletivo.

Numa segunda parte marcada pelo marasmo ofensivo e pela escassez de oportunidades, o Farense conseguiu resistir e leva três preciosos pontos para Faro na fuga à despromoção, quebrando, assim, um ciclo de cinco jogos sem vencer. Esta foi a terceira partida e a terceira vitória de Jorge Costa enquanto treinador no Estádio do Bessa Séc. XXI, mantendo assim a invencibilidade como técnico principal na visita ao refúgio das Panteras. Em sentido contrário, o Boavista somou a segunda derrota consecutiva, sendo ultrapassado pelo Farense e pelo FC Famalicão que venceu nos Barreiros o Marítimo por 4 bolas a zero.

Jesualdo Ferreira reconhece mau primeiro tempo

Na análise à partida, Jesualdo Ferreira teceu críticas à sua equipa e reconheceu que foi a pior primeira parte, desde que assumiu o controlo dos boavisteiros: “O que o Farense teve em termos de atitude, de agressividade, de crer, conquista, de à vontade e confiança, nós tivemos exatamente o contrário”.

O técnico destacou igualmente que, numa segunda parte onde a formação caseira esteve melhor, o jogo ficou marcado por “muito coração e pouca cabeça e discernimento”. Jesualdo Ferreira reconheceu ainda a superioridade do Farense, assumindo total responsabilidade do desaire, mas deixou em aberto a luta pela manutenção.

Jorge Costa destaca resposta positiva dos jogadores em situação de pressão

Quanto a Jorge Costa, técnico do SC Farense, elogiou os seus jogadores pela capacidade de resposta num momento de pressão e afirmou que “esta exibição tem de ser recordada”. Salientou ainda o domínio evidenciado pela sua equipa e realçou estar otimista com os duelos que se avizinham. “Neste momento sou um treinador feliz porque ganhamos, pela forma como ganhamos e sou um treinador feliz e otimista em relação ao futuro”.

Na próxima jornada do campeonato, disputada após o compromisso de Seleções, o Boavista FC deslocar-se-á ao terreno do Belenenses SAD, num jogo de elevada importância na luta pela manutenção, ao passo que o SC Farense receberá o Sporting Clube de Braga no Estádio São Luís. As duas partidas ainda não têm data e hora marcada.

Artigo editado por João Malheiro