É a mais recente iniciativa do dirigente líbio, Muhamar Kadhafi, com o objectivo de se aproximar ao Ocidente. Esta é também a primeira visita de Kadhafi à Europa depois de 15 anos de isolamento. O líder da Líbia chegou terça-feira a Bruxelas para reunir-se com o presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi.

Graças a estas tentativas de aproximação, Kadhafi já conseguiu fazer com que os Estados Unidos reduzissem algumas das sanções internacionais que estão previstas há anos contra o regime líbio. A renúncia ao programa nuclear e às armas de destruição maciça foi umas das grandes estratégias adoptadas por Tripoli para tentar uma aproximação a Londres e Washington. Depois disto, o líder líbio tem-se desdobrado em iniciativas para conquistar a confiança do Ocidente.

A estratégia parece estar a dar resultados, pois, no início deste mês, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, deslocou-se à Líbia, num gesto simbólico de apoio à decisão de Tripoli de abandonar o terrorismo.

O que aconteceu durante a visita?

O líder líbio encontrou-se com o presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, para oficializar o pedido de entrada da Líbia no Processo de Barcelona. Além da reunião com Prodi, Kadhafi vai encontrar-se também com o primeiro-ministro belga, Guy Verhosftadt. Em cima da mesa de discussão estará, entre outros assuntos, o embargo ao comércio de armamento contra a Líbia.

No entanto, a questão mais relevante em discussão foi, certamente, o pedido de entrada da Líbia no Processo de Barcelona.

Processo de Barcelona: princípio do fim do isolamento da Líbia?

O chamado Processo de Barcelona consiste numa parceria estabelecida entre a União Europeia (UE) e vários países do Sul do Mediterrâneo. O grande objectivo deste processo é a cooperação política e económica entre a Europa e a zona do Norte de África e Médio Oriente.

Para além da análise do papel da Líbia na estabilidade nas áreas do Mediterrâneo, África e Médio Oriente, a nova estratégia de Tripoli face ao Ocidente será outro dos assuntos abordados durante o encontro entre Prodi e Kadhafi.

Apesar dos compromissos com os comissários europeus, Kadhafi deverá encontrar-se ainda esta tarde com o alto representante da Política Externa e de Segurança, Javier Solana.

Mais um passo em direcção ao Ocidente

Esta é a primeira vez, desde 1989, que o líder da Líbia se desloca para fora de África e sem ser com destino ao Médio Oriente. Kadhafi tenta agora, a todo o custo, uma aproximação ao Ocidente, pondo fim a 15 anos de isolamento internacional e libertando-se da imagem de patrocinador do terrorismo.

Recorde-se que, entre outros crimes, Muhamar Kadhafi é responsável pelo atentado contra um avião da Pan Am, em Lockerbie, na Escócia que, em 1988, fez 270 mortos. Apesar de Kadhafi ter assumido a responsabilidade pelo atentado e ter-se comprometido a pagar 2700 milhões de dólares de indemnização, a Europa está ainda longe de se reconciliar com o líder líbio. A Alemanha, por exemplo, exige ser compensada pelo ataque à bomba contra uma discoteca em Berlim em 1986.

Embargos à Líbia mantêm-se

Um deles é o embargo económico que está relacionado com as sanções impostas pelos Estados Unidos por a Líbia apoiar o terrorismo. Por outro lado, o embargo comercial imposto pela Europa após o atentado de Lockerbie foi levantado em 1999, quando a Líbia entregou os dois suspeitos pelo atentado.

No entanto, a Europa parece não ceder quanto ao embargo à venda de armas para a Líbia.

A visita de Kadhafi à Bélgica continua hoje, prevendo-se mais conversações com responsáveis da União Europeia.

Ana Correia Costa