O JornalismoPortoNet visitou algumas discotecas para falar com jovens frequentadores do meio e consumidores de álcool. Da viagem pela noite, ficou a certeza: os jovens conduzem sob o efeito do álcool.

O limite que a taxa de alcoolemia permite é motivo de queixa para os jovens da Universidade do Porto. “Repare… se eu beber três cervejas fico, pelo código da estrada, impedido de conduzir, e nem por isso sinto as minhas capacidades diminuir”, queixa-se Paulo Morgado, estudante de Arquitectura na Universidade Lusíada.

Luís Ribas, que concluiu o curso há dois anos, partilha dessa opinião: “os limites do corpo são muito maiores do que aqueles que nos querem impor”. O mesmo aluno vai mais longe: “hoje já bebi bem mais do que isso e vou levar o carro para casa. Confio mais em mim bêbedo do que noutra pessoa qualquer.”

“A solução deste problema passa por todos nós”

Mas nem todos são iguais. José Alves, aluno da Faculdade de Engenharia, recusa-se a beber quando sai de carro e explica o porquê: “Numa altura em que o consumo de álcool parece aumentar a cada dia que passa e em que o alcoolismo se manifesta cada vez mais cedo, é importante a consciencialização de cada um, de que os consequências do consumo excessivo de álcool não se restringem ao consumidor”. Para este aluno, o príncipio de não conduzir quando se bebe fica ao critério de cada um, mas há algumas medidas que podiam ser tomadas por pessoas de outras responsabilidades: “se o Porto tivesse uma rede de transportes públicos mais rápida, eficaz e mais vasta à noite, se calhar as pessoas não se importavam de deixar o carro em casa…”.

Esta afirmação serviu de mote ao resto das entrevistas. E a verdade é que parece não passar por aí a solução. O comodismo que o automóvel possibilita não abre espaços a qualquer outro tipo de transportes.
Carla Martins, licenciada em Psicologia, mas também frequentadora assídua da noite, não considera que as autoridades nacionais tenham obrigação de criar soluções, nem acredita que isso seja possível “A solução deste problema passa, exclusivamente, por todos nós e não por medidas de nenhum tipo. Todos nós podemos e devemos evitar que haja acidentes provocados pelo álcool, abstendo-nos de beber quando conduzimos ou vice-versa”.

Distinção entre limites do Código da Estrada e consciência

Desta incursão pela noite do Porto, o JornalismoPortoNet chega ainda a outra conclusão. As pessoas alcoolizadas não têm, grande parte das vezes, consciência do verdadeiro estado em que se encontram. A maioria delas justifica o acto de conduzir embriagado com o desconhecimento do seu estado, considerando as doses de álcool ingerias próprias para conduzir.

Das conversas mantidas durante a noite, ficamos com essa certeza: as pessoas fazem uma distinção entre os limites que o Código da Estrada permite e aqueles que são ditados pelas próprias consciências. À pergunta “Achas que estás em condições de conduzir?”, a resposta não variava muito. A grande maioria dos alunos entrevistados sentia-se bem para conduzir, mesmo sabendo que acusaria uma taxa de alcoolemia excessiva no teste do balão.

Carla Martins considera que é nesta questão que está o cerne do problema. “Qualquer dose de álcool retira discernimento às pessoas e diminui-lhe os reflexos. É pena é que só a partir de determinada quantidade estas se apercebam disso.”

“As punições deviam ser exemplares”

Curioso foi constatar que mesmo a maioria esmagadora dos jovens que bebem e conduzem defendem punições mais duras para quem for “apanhado” com álcool, a mais, no sangue. “As punições deviam ser exemplares” afirma Luís Ribas. Ao seu lado, a namorada Ana Rodrigues, corrobora com um sorriso: “não por porem em risco a própria vida, mas sim a vida daqueles que não têm culpa da nossa irresponsabilidade”.

No final da noite ou, se preferirem, já no princípio da manhã, foi fácil verificar aquilo que as várias conversas que mantivemos faziam prever. Sentar-se ao volante de um automóvel é prática comum para jovens alcoolizados. Mesmo não tendo um balão como forma de fazer o teste de alcoolemia, há estados que não enganam.

André Morais