Após o 25 de Abril de 1974, Joaquim Fidalgo seguiu o sonho antigo de se tornar jornalista. A Revolução dos Cravos trouxe enormes benefícios para o jornalismo, mas também alguns problemas com que hoje se debate. Falámos com Joaquim Fidalgo, jornalista e professor do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho. Fidalgo não esquece os tempos em que era preciso ir ao estrangeiro ou ouvir a BBC para conseguir informação sem censura sobre o estado da nação.

Como viveu o 25 de Abril?

Tenho recordações muito fortes e muito intensas. Nessa altura já tinha 20 anos, já andava na Faculdade. Portanto era uma altura em que eu já andava muito cá por fora e por isso vivi com uma alegria muito forte, na rua.

Nessa altura já estava a estudar jornalismo?

Não, não estava. Porque mesmo que quisesse não podia estar a tirar jornalismo. Estava na altura na Faculdade de Letras na Universidade do Porto e estava a tirar Germânicas. Nessa altura nem sequer pensava em vir a ser jornalista e se quisesse ter estudado jornalismo não podia porque nessa altura não havia cursos de jornalismo em Portugal.

O final da ditadura incentivou-o a tornar-se jornalista?

Não teve uma influência directa. Incentivou-me e julgo que nos incentivou a todos a participarmos mais. E de facto, as minhas experiências no jornalismo apareceram de uma maneira amadora, não-profissional, precisamente nessa altura, mais concretamente na terra onde eu morava, em Espinho. Na sequência do 25 de Abril passou a haver uma possibilidade maior de fazer jornalismo em jornais regionais. Eu comecei por fazer jornalismo num jornal regional que nasceu numa cooperativa que também nasceu depois do 25 de Abril.
Foi uma altura em que apareceram muitos jornais, jornais regionais, jornais fruto da sociedade civil, de associações, de grupos e eu comecei a escrever em jornais nessa altura. Mas continuei a fazer o meu curso de Germânicas calmamente e em termos profissionais estava longe de imaginar que me iria tornar jornalista. Essa questão não se punha, era um sonho antigo. Entretanto, como não existiam cursos de Jornalismo acabei por fazer o meu curso na Faculdade de Letras, fui dar aulas como professor de Português-Inglês durante 4 ou 5 anos até que, de repente, resolvi ser jornalista sem curso.

Daniel Brandão