O Irão anunciou hoje, terça-feira, que vai retomar “certas actividades nucleares” que tinha suspendido. No entanto, assegurou ainda que manterá inactivo o programa de enriquecimento de urânio e que as negociações com a União Europeia sobre esta matéria irão continuar.

“Uma parte das nossas actividades [nucleares] vai certamente ser retomada; estamos a discutir para saber quais as actividades [a retomar], mas não dizem respeito ao enriquecimento [de urânio]”, declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hamid Reza Assefi.

As negociações com a União Europeia “mantêm-se pelo que a suspensão do enriquecimento [de urânio] continua”, acrescentou ainda. A Alemanha tinha alertado ontem, segunda-feira, para uma eventual ruptura nas negociações entre o Irão e a UE, caso Teerão retomasse o programa de enriquecimento de urânio. O enriquecimento de matéria-prima radioactiva como o urânio ou o plutónio é fundamental para o fabrico de uma arma nuclear.

Kofi Annan considera actual TNP obsoleto

“A verdade é que o actual regime [de não-proliferação] não seguiu o ritmo da tecnologia e da globalização e que muitos acontecimentos destes últimos anos o ameaçam de obsolescência”, advertiu Annan no seu discurso de abertura de uma conferência que visa revigorar o Tratado de Não-proliferação Nuclear (TNP).

Esta conferência realiza-se sob um clima de tensão após as recentes posições de Irão (acusado pelos Estados Unidos de desenvolverem secretamente a bomba atómica) e Coreia do Norte (afirma já a possuir) em matéria nuclear. Annan recomenda um reforço da “credibilidade do tratado, em particular face à primeira retirada anunciada por um Estado” [a Coreia do Norte]. O regime de não-proliferação “não será credível se mais Estados desenvolverem as fases mais sensíveis do ciclo do combustível nuclear e se se dotarem da tecnologia para produzir uma arma em pouco tempo”, afirmou Annan referindo-se aos dois países.

O secretário-geral da ONU defendeu ainda que a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) deve ter mais autoridade para inspeccionar os programas nucleares dos estados membros do TNP. O tratado foi enfraquecido pela descoberta de programas nucleares secretos. Annan apela ainda aos estados que já possuem a arma nuclear para assumirem as suas próprias responsabilidades face ao TNP e a progredirem para o desarmamento. “Uma etapa importante seria que os antigos rivais de Guerra Fria se comprometessem juntos, de forma irreversível, a efectuar novos cortes nos seus arsenais, de forma a que as ogivas nucleares se contem por centenas e não por milhares”, disse.

Daniel Brandão