“Narrar é estar disponível para morrer, é uma forma de decomposição total e de morte”. Mesmo quando os escritores são jovens já se estão a preparar para morrer, pois ao contarem as histórias são arrastados para o passado, desintegram-se com as personagens mortas. Foi com este estilo polémico que Juan Hernández falou ontem, quinta-feira, nas instalações do curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto.

O professor de Comunicação Audiovisual na Universidade de Santiago Compostela ligou o cinema e a literatura, tendo como ponto de partida a obra de Orson Welles. Começou por afirmar que os cineastas filmam argumentos, mas as histórias são muito mais amplas. “Os filmes de Godard têm pouco argumento, mas muita história”, disse Juan Hernández. Já Orson Welles, extremamente culto e inteligente, conseguiu criar um estilo próprio ao adaptar obras literárias ao cinema. Por exemplo, “O 4º Mandamento” colhe o sentido do romance de Tarkington, mas anda apenas ao redor da história original. Também “Macbeth”, segundo Juan Hernández, não é a adaptação da personagem Macbeth, mas sim do próprio Shakespeare.

juanhernandez2.jpgJuan Hernández, autor do livro “Cinema e Literatura – A metáfora visual”, estabelece pontes entre as obras de escritores e cineastas, tornando-se polémico precisamente no ponto em que afirma “o verdadeiro conhecedor da história é o narrador, que se deixa arrastar pelos personagens para o passado”. O espectador nunca conhecerá a história.

Durante a conferência, Juan Hernández teve como linha orientadora a obra de Orson Welles para proferir afirmações polémicas, que careceram quase sempre de explicação. O especialista atingiu o cume da controvérsia ao declarar que “a vida é pura ficção, pois as pessoas são personagens na sociedade, só que grande parte delas ainda não tem consciência disso”.

Texto e foto: Joana Beleza