O presidente dos EUA, George W. Bush, chegou ontem, quinta-feira, à noite, a Mar del Plata na Argentina, para a Cimeira das Américas, onde vai tentar convencer os líderes de 34 países americanos a avançar com uma área de comércio livre das Américas, que iria desde o Alaska até à Argentina.

Numa das piores semanas que já viveu enquanto presidente, Bush prepara-se, agora, para enfrentar contestação também fora do seu país.

Um forte movimento anti-globalização, encabeçado por figuras como o antigo futebolista, Diego Maradona, e o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, já está organizado para se manifestar contra o comércio livre e contra a liderança do presidente norte-americano.

O presidente cubano Fidel Castro não vai estar presente já que os organizadores não consideram Cuba uma democracia. Os presidentes do Panamá e das Honduras foram os únicos a recusar o convite.

Hugo Chavez, que, por ausência de Castro, se torna o principal adversário de Bush na cimeira, afirmou esta semana que o seu objectivo principal no encontro é o de “enterrar definitivamente” a proposta para a área de comércio livre.

O Brasil e a Argentina também já contestaram a existência desta proposta, que em tempos foi dos principais objectivos económicos do presidente norte-americano.

O próprio George W. Bush já admitiu que as negociações para este acordo estão paradas. Citado pela AP, o secretário de Estado assistente para os assuntos inter-americanos, Thomas Shannon, garantiu que, apesar das negociações para a área de comércio livre terem “desacelerado” os “EUA estão à procura de acordos regionais e bilaterais para movimentar a agenda de comércio livre do presidente”.

Esta semana, o presidente norte-americano assumiu que o seu principal objectivo económico neste momento é a reactivação das negociações na Ronda de Doha pela Organização Mundial do Comércio, que têm como objectivo liberalizar o comércio mundial.

Contra-cimeira com Maradona e Nobel da Paz

Em paralelo à Cimeira das Américas está a decorrer a Cimeira dos Povos, uma contra-cimeira, organizada por críticos anti-globalização, que vai ter o seu auge hoje, numa marcha liderada por Diego Maradona e pelo Prémio Nobel da Paz, Alfonso Pérez Esquivel. O realizador jugoslavo Emir Kusturica também vai participar.

Hugo Chavez vai ser o orador principal da sessão de encerramento da contra-cimeira. Foram destacados oito mil agentes policiais, apesar dos manifestantes terem garantido que as marchas vão ser pacíficas.

Existem, actualmente, 96 milhões de pessoas em situação de miséria extrema na América Latina e nas Caraíbas. Nos EUA, o número de pobres atinge os 37 milhões.

Tiago Dias
Foto: DR