Foi dado mais um passo para a compreensão da relação entre a obesidade e o cancro. O investigador do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO) Rui Medeiros, em conjunto com Ricardo Ribeiro, aluno do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), demonstraram que o risco de cancro da próstata aumenta em função dos níveis de leptina, hormona que informa o cérebro sobre o estado das reservas energéticas de gordura.

Segundo a investigação, esta hormona pode também simular a existência de obesidade em indivíduos não obesos. Desta forma, “a obesidade é muito importante” na formação de cancro da próstata, mas a doença pode também atingir homens magros porque há “alterações no genoma” que aumentam os níveis de leptina no sangue, explicou ao JPN Rui Medeiros.

Estas variações genéticas são “determinantes” para a formação de cancro da próstata: aumentam três vezes o risco do indivíduo vir a ter a doença e cinco vezes a possibilidade do cancro atacar de forma muito agressiva. As alterações podem acontecer antes do indivíduo nascer mas também originar-se ou agravar-se pela má alimentação.

O estudo permite prever precocemente a agressividade do cancro da próstata, um dos tumores mais comuns. A doença é curável, mas a sua detecção precoce, essencial à cura, é complicada devido à falta de sintomas. Em Portugal, surgem cerca de quatro mil casos por ano, o que representa à volta de 19% do total dos tumores.

A investigação de Rui Medeiros e Ricardo Ribeiro começou em 2003 vai prosseguir, com “novos estudos sobre outras hormonas”. O trabalho sobre a leptina teve em conta uma investigação anterior, de Pedro Von Hafe e Henrique Barros, do Hospital de S. João e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que demonstrou que a gordura visceral (concentrada na zona do abdómen) pode levar ao desenvolvimento de cancro da próstata.

Pedro Rios
prr @ icicom.up.pt
Foto: IPO – Porto