Dedicou toda a sua vida ao futebol. Com 56 anos, Manuel Cajuda vive uma das melhores fases da sua longa carreira como treinador. Depois de ter ajudado o Vitória de Guimarães a subir de divisão, orienta agora a equipa na principal liga do campeonato português.

O terceiro lugar fá-lo sorrir, mas encara o bom momento da equipa sem euforia.

Tem 20 anos de carreira enquanto treinador. Esta é a melhor fase da carreira?

Não diria que seja a melhor, mas provavelmente é capaz de ser. Porque já passei por fases excelentes, só que era mais jovem, menos maduro, experiente e realista. Pode parecer um auto-elogio, mas hoje sou muito melhor do que era há 10 anos atrás. Estou mais maduro e tenho aquilo que ninguém pode ter mais cedo, que é experiência.

Diz que se sente mais preparado do que nunca para treinar um grande. É a sua grande ambição?

Sempre foi a minha ambição. Geri a minha carreira de forma muito inteligente. Repare: quando eu começei não havia o marketing que há agora. Eu tinha de dizer uma série de asneiras para me fazer notar. Não tive marketing que me pudesse ajudar e se há 10 anos eu tivesse chegado a um grande era derretido e seria um fracasso como o foram muitos que eu conheci pela carreira. Hoje não. Hoje tenho aquilo que não tinha há 10 anos. Hoje eu estou em condições.

Como surgiu o seu interesse pelo futebol?

Penso que é um interesse normal de gerações. No meu tempo havia mais espaços, jogava-se mais na rua, brincava-se mais. Não havia tantos brinquedos, computadores, e, portanto, passávamos muito tempo na rua a brincar com aquilo que era mais fácil – jogar futebol. Isso cresceu naturalmente em mim. Depois, vaidosamente, achava que tinha jeitinho e fui jogando.

Enquanto treinador o que mudaria no futebol português?

A “clubite” e o amor cego pelo resultado. Sem isso o futebol era uma profissão aliciante. Era e é, apesar disso. É fantástica. Porque esconde muitas outras coisas da realidade do que é ser treinador de futebol. As pessoas pensam só que é 4x3x3, 4x3x4, só questões tácticas, mas não. Aquilo que é verdadeiramente fantástico é a gestão de uma máquina heterógenea feita por peças humanas.

Profissionalmente, é mais movido pela razão ou pela emoção?

Pela razão. Emocionalmente, sou muito frio. Raramente festejo um golo, porque no minuto seguinte posso sofrer um.

É caracterizado como um homem de convicções, paixões e sem meias palavras. Continua o mesmo?

Hoje não disparo com tanta facilidade como disparava há uns 10 anos atrás. Por qualquer coisa eu ía à guerra; hoje penso sempre, antes não.

Foi obrigado a perder o seu idealismo para sobreviver no meio?

Não. Continuo a ter a mesma forma de idealismo, acho que não perdi nada. Se perdesse, teria sido muito mau.