Comparar os dados relacionados com os nascimentos em Portugal antes de 1974 com os actuais leva a uma pergunta comum: “São dados do mesmo país?”. A discrepância é acentuada e a especialista na área de natalidade e demografia, Ana Aroso, explica algumas razões que levam as mulheres e os casais de hoje a não terem mais filhos.
Até há trinta anos atrás, a idade preferida para um casal ter o primeiro filho situava-se entre os 20 e os 24 anos. Nos últimos anos, ser mãe ou pai tem-se tornado um objectivo cada vez mais tardio e, segundo estudos actuais, é possível verificar que, em média, os casais têm o primeiro filho entre os 30 e os 34 anos.
E a crise acentua-se de ano para ano. Prova disso são os números de 2005 e 2006. Em 2005, nasceram em Portugal 105 mil crianças, enquanto em 2006 nasceram apenas 101 mil – um decréscimo de quatro mil nascimentos.
Num estudo da Associação Portuguesa de Demografia são apontados os cinco factores decisivos para esta crise demográfica. O principal motivo é a entrada da mulher no mundo do trabalho, com a consequente falta de tempo para tomar conta de um filho.
Os factores que se seguem na lista são a “dedicação à vida profissional, que leva a uma maior falta de tempo”, “a falta de incentivos fiscais por parte do Governo e de grande parte das autarquias e que provem que ter um filho não significa, obrigatoriamente, ter encargos excessivos”, “os preços altos das creches e o pagamento de várias taxas para dar aos filhos actividades suplementares” e “a falta de espaço que grande parte dos casais enfrenta ao adquirir casa antes de pensar no processo de paternidade”.
Actualmente a média de filhos por casal é de apenas 1,38, mas Ana Aroso relembra que para assegurar o processo de substituição das gerações era necessário que essa média atingisse os dois filhos por casal. Uma fasquia que parece difícil de alcançar, mas que o Governo pretende atingir no decorrer da próxima década.