Os terrenos a jusante da Ponte do Infante, na escarpa da Serra do Pilar, propriedade do Ministério das Finanças, vão ser requalificados. A operação implica o realojamento da população local numa outra zona residencial de Gaia, em Vila d’Este. A localização não tem aceitação unânime.

Há cerca de 30 anos, várias pessoas construíram ilegalmente na escarpa gaiense. São 58 as habitações que a Câmara de Gaia vai demolir na zona, argumentando que são casas ilegais que ocupam terrenos públicos.

Depois da notificação recebida a 23 de Janeiro, os habitantes, em conjunto com a Centro Social e Cultural da Escarpa da Serra do Pilar, responderam colectivamente à câmara, manifestando vontade de não abandonar o local.

Até ao momento, encontram-se à espera da resposta da autarquia. Sérgio Paiva, presidente da associação, referiu que “a lei de uso capião não se aplica, uma vez que era o Estado que se queria apropriar dos terrenos [nos anos 80]”. Uma condição que, segundo Sérgio Paiva, inviabiliza o processo iniciado pela câmara.

Críticas ao processo

Sérgio Paiva faz também alguns reparos à condução do processo. “Não existem habitações suficientes em Vila d’Este” e “estão ainda em construção”, afirma. Apesar de reconhecer a falta de segurança, o presidente da Centro Social e Cultural da Escarpa da Serra do Pilar, defende que não era necessário tomar uma medida tão radical.

Moradores na Escarpa do PilarOs habitantes, que já receberam ordem de expulsão, estão insatisfeitos com todo o processo. “Não é assim que se fazem estas coisas”, atira Felícia Santos, que construiu com o marido a casa que ambos habitam. Residente na Escarpa há 31 anos, reconhece a ilegalidade da construção, mas afirma que a habitação “foi construída de dia, não foi de noite”, numa alusão ao conhecimento que as autoridades tinham das obras.

O executivo municipal aponta o perigo de derrocada como principal motivo para a intervenção de requalificação. A câmara gaiense apresentou um estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), no qual a entidade alerta para a falta de segurança.

Justificações que não convencem os habitantes. Felícia Santos questiona: “Só agora é que se lembraram que são ilegais? Ao fim de 31 anos? Daqui a algum tempo têm outras coisas construídas”. Um argumento desmentido pela autarquia que assegurou que a intervenção irá permitir “a monotorização e consolidação da escarpa, a drenagem de águas e a requalificação paisagística”.

Há também três décadas na escarpa, Maria Ferreira diz não encontrar perigo de derrocada, enquanto que a sua vizinha, Maria Santos, igualmente afectada pela decisão, refere que no passado ninguém se preocupou com a situação.

O Plano de Acção para a Zona da Escarpa da Serra do Pilar prevê um investimento geral de 11,1 milhões de euros. O concurso de projectos para as obras de requalificação já foi iniciado. O JPN tentou sem sucesso obter esclarecimentos da Câmara de Gaia.