“Um bom jogador é sempre bem-vindo para a selecção portuguesa”. A afirmação é de Eusébio da Silva Ferreira, símbolo maior do futebol português, à margem do último Fórum Internacional de Futebol, em Brasília, no qual se discutiu a globalização do desporto-rei.
Em Portugal, o tema tem estado na ordem do dia desde que Deco (em 2003) e Pepe (em 2008) adquiriram a nacionalidade portuguesa e acabaram por ser convocados para a selecção nacional. Numa altura em que se debate a naturalização de Liedson, a discussão volta à praça pública, com muitas opiniões divergentes e sem um consenso generalizado.
Por ocasião do vigésimo aniversário da conquista do mundial de juniores de Riade por Portugal, em 1989, o Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) anunciou que iria apresentar uma proposta à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para se começar a regular a entrada de estrangeiros na selecção, como medida para combater aquilo que denomina de “perda de identidade das selecções nacionais”.
O que propõe o SJPF? Joaquim Evangelista, presidente do sindicato, explicou ao JPN que a solução passa por limitar a entrada de estrangeiros com uma escolha criteriosa, elaborada por uma “direcção técnica nacional”, e através da imposição de não mais do que dois atletas estrangeiros na selecção em cada momento. Até porque, na de Evangelista, “as naturalizações, hoje em dia, sucedem-se no plano desportivo porque os jogadores querem jogar futebol e não ser portugueses”.
Na voz do presidente do SJPF, esta proposta parte de um contexto português (que o é também mundial) onde há mais estrangeiros a alinhar na Liga Portuguesa do que jogadores nacionais e onde é necessário dar “equilíbrio à competição”. Por isso, o representante máximo dos jogadores profissionais em Portugal concorda com a regra «6+5» (seis jogadores nacionais e cinco estrangeiros em cada «11» inicial de uma equipa de futebol) que a FIFA quer ver implementada, já que transmite “uma ideia de consensualidade e equilíbrio nas competições”.
Do Rádio Clube Português (RCP) chega uma perspectiva bem mais radical. Carlos Dolbeth, jornalista, de “batota” a presença de jogadores naturalizados em qualquer selecção nacional, realçando que essa aposta por parte das federações serve apenas para alcançar “resultados desportivos”, alterando a própria “verdade desportiva”. Dolbeth dá o exemplo da selecção italiana de futsal italiana em que a grande maioria de jogadores são brasileiros.
A identificação com o país
Do outro lado da barricada encontra-se Manuel Fernandes. O antigo jogador do Sporting é “apologista” de jogadores estrangeiros na selecção nacional, desde que “devidamente identificados com Portugal e com o nosso futebol, como são os casos do Deco, do Pepe e do próprio Liedson”.
No entanto, o histórico avançado leonino ainda que, para merecer uma convocatória para o lote de convocados das «quinas», um jogador de outra nacionalidade deve ser, no mínimo, um “craque, como o Deco ou o Pepe, por exemplo”.
Para fazer valer o seu ponto de vista, o agora treinador da U. Leiria relembra o caso de Marcos Senna, jogador brasileiro do Villareal que adquiriu a nacionalidade espanhola e é um dos titulares indiscutíveis da selecção espanhola. “A selecção campeã da Europa tem jogadores fabulosos como o Fabregas. No entanto, ele é suplente do Marcos Senna que é imprescindível”, relembra Manuel Fernandes.