É uma realidade muitas vezes fechada entre quatro paredes. Basta um computador com Internet e uma webcam para começar uma conversa que se a princípio é inocente, no final acaba por não ter um final feliz.

Uma adolescente que se expõe, sem medo, porque pensa ter conhecido o príncipe encantado. Um rapaz que, sozinho em casa, decide aventurar-se pelos meandros das redes sociais. De olhos postos no écran do computador ou do telemóvel, trocam mensagens, vídeos e fotografias que podem vir a integrar sites de pornografia infantil. Depois, o encontro.

Chega o tão esperado dia e, de repente, há mais um caso de rapto, de violação, de pedofilia que quebra a aparente inércia de uma qualquer localidade. Nem sempre os mais jovens, claros adeptos das redes sociais, sabem como manter a privacidade na Internet. Pelo contrário. “Querem mostrar-se, querem ser estrelas”, explana Clara Guerra, do “Dadus”, um projecto que tenta alertar os jovens para os perigos da falta de privacidade na Internet.

Se é verdade que a sociedade está, em geral, cada vez mais alerta para esta realidade em Portugal, por outro lado, ao que o JPN apurou em conversas com encarregados de educação, os pais preferem confiar no bom senso dos filhos ao invés de restringir as navegações na Internet.

António Amaral tem um filho de 14 anos e admite que não verifica os sites que o adolescente visita, por exemplo. “Sei quantas horas o meu filho passa na Internet e desde muito cedo o meu filho está habituado a cumprir determinado tipo de regras e está consciente de todos os perigos e condicionalismos.” O controlo, revela, não é preciso: “Ele já está consciente.”

“De vez em quando vou olhando e não tenho razões de queixa”, declara José Pinto de Sousa relativamente à utilização da Internet pelo seu filho, também de 14 anos. O rapaz, no entanto, não fala sobre os sites que visita e o computador também não tem instalado qualquer programa de controlo.

Muitos jovens admitem ligar webcam para falar com estranhos

Um estudo realizado pelo projecto “Tu e a Internet” apurou que a grande maioria dos inquiridos numa amostra de idades entre os 12 e os 14 anos admite ligar a webcam para falar com estranhos. São dados que preocupam Filipa Falcão Reis, líder do projecto, que quer alertar os jovens para os perigos da Internet, uma vez que estes “são muito vulneráveis em questões de privacidade”.

Para além deste projecto existe, há cerca de um ano, o “Dadus“, que pretende sensibilizar os jovens para os perigos da divulgação de dados pessoais na Internet.

A maioria não “pensa nos riscos gravíssimos que estão a correr” ao criar perfis em redes sociais, por exemplo. “São [sites] gratuitos e portanto eles podem fazer ali o seu website fantástico cheio de fotos”, diz a responsável, afirmando-se como preocupada com a realidade “mediatizada” dos dias de hoje.