“É uma pessoa tímida, de uma grande timidez, muito humilde, muito simples, muito afável no trato, muito próximo, uma pessoa com muito sentido de humor”, diz a jornalista Aura Miguel sobre o Papa, na apresentação da sua obra “As Razões de Bento XVI”, realizada sexta-feira, no Porto. A oito dias de Bento XVI fazer uma visita de quatro dias a Portugal, a vaticanista portuguesa apresenta a obra na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto.

“Quando nós convidamos uma pessoa para vir a nossa casa é bom conhecermos essa pessoa melhor”, explica Aura Miguel. O actual líder dos cristãos não reúne consenso por entre todos os católicos porque “a tendência é para comparar com o Papa anterior”, quando ambas as pessoas são diferentes. “Os seus feitios e estilos são completamente diferentes e até é saudável que este Papa não tenha querido imitar o outro”, evidencia Aura Miguel.

O “pensamento fascinante”, a escrita e a exposição “absolutamente clara” das suas “preocupações ou indicações de caminho” são algumas das características principais de Bento XVI e que, na opinião da única jornalista portuguesa que acompanha as viagens do Papa, o tornam “tão querido”. Lamenta, por isso, que esse não seja a opinião do público em geral.

A vaticanista que, para além de acompanhar as viagens papais, se dedica ao estudo de homilias, de discursos, encíclicas e dos mais variados documentos sobre o Papa, dá a conhecer no seu livro o percurso profissional de Joseph Ratzinger desde a sua eleição pelo conclave em 2005, as principais preocupações do seu pontífice, a relação que tem com Portugal, bem como a sua personalidade. “Tenho a certeza que quando o conhecerem vão passar a gostar mais dele do que imaginam”, confidencia a autora.

Um livro “que faltava” no panorama português

Presente na apresentação esteve, também, o Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, que afirmou que “As Razões de Bento XVI” era um livro que faltava no panorama da leitura portuguesa”, mesmo para quem exerça a actividade jornalística, pois dá meios para interpretar Bento XVI. “É um belíssimo subsídio para quem tiver de o acompanhar, não só em geral, mas também como jornalista.”

Para além disso, o facto de a autora ser vaticanista e de acompanhar de perto a vida do Papa é uma “vantagem” e algo que não é comum poder fazer-se. “É alguém que não só conhece muito bem os factos porque acompanha as visitas papais já há muitos anos, mas também tem um conhecimento na doutrina e isso nem sempre é fácil nos vários tipos de jornalismo”, argumenta o Bispo do Porto.

“Vive-se numa situação de anestesia”

Na cerimónia de apresentação do livro de Aura Miguel “As Razões de Bento XVI”, a autora afirmou que uma das grandes preocupações do Papa é que o facto de “os cristãos na Europa estarem muito acomodados, vivendo de maneira rotineira, não usando a inteligência”. O Papa não se cansa de pedir, por isso, para se aprofundarem as razões da fé. A vaticanista adiantou mesmo que Bento XVI afirma que “vivem de uma forma infantil”.

As recentes críticas e acusações na Igreja em casos de pedofilia não abonam em favor da instituição e a jornalista evidenciou o facto de ser cada vez maior o número de pessoas não praticantes na Europa. “Acho que os portugueses não fogem à regra”, comenta Aura Miguel. “Vive-se numa situação de anestesia e esta preocupação o Papa já tinha alertado os bispos portugueses.”

A opinião de D. Manuel Clemente não é tão dramática. “Há realidades meio adormecidas ou talvez mais distraídas”, afirma o Bispo do Porto, apontando o problema para a rotina diária. “Hoje em dia qualquer um de nós como cidadão é atordoado por tanta coisa, coisas que tem de fazer, coisas que lhe pedem, que lhe dizem, que podemos ficar um pouco desnorteados e um pouco indefinidos”, explica o Bispo do Porto.

Críticas e acusações “podem afectar” a vinda do Papa

O Papa chega a Portugal a Lisboa dia 11 de Maio e vai fazer uma visita ao país durante quatro dias, numa visita em que o Bispo do Porto “espera tudo, positivamente falando”. D. Manuel Clemente tem, no entanto, a consciência que as recentes acusações a Bento XVI por alegado encobrimento de casos de pedofilia na Igreja “podem afectar” a visita.

“As pessoas não são imunes àquilo que se possa dizer”, evidencia D. Manuel Clemente. No entanto, espera que a “determinação” que caracteriza este Papa seja preponderante “para levar para a frente a resolução do problema”.

Questionada sobre estas críticas, Aura Miguel, também é optimista. “Esta gravidade que estamos agora a conhecer, que bastava um só caso para ser igualmente grave, vai ser uma espécie de purga purificadora, ou seja, pode levar a vir ao de cima quem é que permanece verdadeiramente na Igreja”, esclarece a vaticanista.