“Casamento molhado, casamento abençoado”. Depois da chuva ter estragado os planos aos festivaleiros na primeira noite, o segundo dia de Marés Vivas estava destinado a uma das grandes enchentes da oitava edição do festival. Desde cedo, eram muitos os que não queriam perder os concertos da noite. Quando os Placebo entraram em palco era já limitado o espaço para assistir ao concerto. No entanto, eram muitos os que ainda entravam no recinto e corriam para conseguirem encontrar o melhor lugar (possível) para assistirem ao concerto de Brian Molko e companhia.

O novo álbum, “Battle for the Sun”, serviu de pretexto para a actuação dos Placebo em Vila Nova de Gaia. Mas um dos grandes sucessos da banda, “Nancy Boy”, fazia prever um concerto com algumas incursões ao passado.
Com um público entusiasmado e cheio de energia, os cânticos dividiam-se entre os novos temas, como “Breathe Underwater”, e os sucessos do passado, “Every You, Every Me” ou “Special Needs”.

Ao longo de um concerto em que a maior parte dos agradecimentos eram feitos em português, os Placebo recordaram ainda “All Apologies”, dos Nirvana, e levaram a audiência ao rubro. Já bem perto do final e ao som de “Song To Say Goodbye”, Bryan Molko, com sentido de humor, pede ao público para não ir já para casa. O pedido foi aceite e deixou os festivaleiros ainda mais eufóricos quando os Placebo tocaram um dos grandes sucessos do trio, “Bitter End”. Já com a banda fora do palco o público não se cansa de bater palmas e de gritar pelo colectivo. É então que Brian Molko regressa para um encore que termina ao som de “Infra-Red” e “Taste In Men”. Uma actuação que não desiludiu e que apagou, para quem ainda tinha dúvidas, as memórias monótonas da noite anterior.

“Jesus caminhou pela água, Peaches caminha sobre vocês”

Com o final do concerto dos Placebo, era a vez da canadiana Peaches subir ao palco. Meia-hora depois do previsto, à 01h30, ouvem-se os primeiros sons do “concerto-surpresa” da noite. Os que até então já não se encontravam perto do palco voltaram para assistirem a
um espectáculo de luz, som e muita irreverência.

Sempre pouco convencional Peaches entra em cena totalmente coberta com um manto que fazia lembrar uma esfregona. Camaleónica, a artista canadiana trocou de indumentária várias vezes ao longo do concerto e não deu espaço para momentos de descanso.
Os temas sempre carregados com uma forte componente sexual levavam a artista e o público ao rubro.

Energética do início ao fim, Peaches subiu grades, pediu para que a festa começasse, e ao som de “Take You On” fez crowdsurfing sobre a audiência. Com “Show Stopper”, Peaches lembra que Jesus caminha sobre a água, mas é a canadiana que consegue caminhar sobre o público. Com “You Love It”, o público tem direito a um banho de champanhe e, já no final do concerto, ouvem-se os já clássicos “Fuck The Pain Away” e “Kick It”, antes do encore

No final, Peaches prometeu eleger o público do Marés Vivas “muito mais hardcore” que o do Alive, onde actuou no passado sábado. Com o grito “shirts off!” a canadiana deixa o palco enquanto centenas de t-shirts são, efusivamente, levantadas no ar. Com muita energia,
Peaches deixa a praia de Cabedelo com uma das grandes actuações da noite e fecha com chave de ouro os concertos no palco TMN do segundo dia de Marés Vivas.

“Um concerto que tão cedo não vamos esquecer”

Mas nem só de Peaches vivem os festivaleiros. Antes, às 20h45, os britânicos A Silent Film abriram as actuações no palco principal.
Ao longo de todo o concerto, a banda fez questão de elogiar o cenário natural do Marés Vivas e agradeceu a todas as pessoas que já se encontravam no local. Na mala trouxeram, além da boa disposição, o álbum de estreia “The City That Sleeps”, muito bem recebido pelo público que já se juntava em frente ao palco.

Ao pôr-do-sol, o vocalista Robert Stevenson lembra o quão sortudos os A Silent Film são por actuarem àquela hora. Para o final, numa espécie de agradecimento e homenagem ao público nortenho, ouviu-se “You Will Leave a Mark”.

Depois da pausa habitual entre concertos, David Fonseca entrou em grande no Marés Vivas. Em palco eram bem visíveis os ecrãs LED, que coloriram toda a actuação do cantor de Leiria, e a cabine telefónica onde o cantor começou o espectáculo. Com muita energia, David Fonseca agarrou todos os que já estavam no recinto e incendiou o Marés Vivas com uma actuação onde não faltaram os coros em uníssono com “A Cry 4 Love” ou “Kiss Me Oh Kiss Me”.

Mas foi ao som do primeiro sucesso a solo do ex-Silence 4, “Someone That Cannot Love”, que o público do segundo dia de Marés Vivas mostrou não ter medo de cantar e gritar bem alto pelos seus artistas favoritos. Depois de “Stop 4 a Minute” e “Superstars”, David Fonseca
dedicou um tema a todas as mulheres presentes na praia de Cabedelo. “Girls Just Wanna Have Fun” serviu ainda para lançar sobre o público uma chuva de confettis para lembrar que a actuação de David Fonseca é, sem dúvida, uma autêntica celebração.

Mas as surpresas ainda não tinham terminado. Embalado pelos sons do electro e techno, David Fonseca termina a actuação ao som de “This Rage Lightning” e “Silent Void”, antes
do final apoteótico onde nem faltou o fogo de artifício para fechar em grande um dos concertos da noite.

Antes, no palco TMN Moche, o segundo dia de festival arrancou com as actuações de André Indiana e Mónica Ferraz. A vocalista dos Mesa, que agora tem um projecto a solo, associou-se ao autor do sucesso “Electric Mind” para a “Love Tour”. Mais tarde, foi a vez dos Azeitonas contagiarem o público com a energia e boa-disposição da banda. O palco TMN Moche só voltou a encher mais tarde, já bem perto das 03h00, com as actuações dos Noite Gare e dos Cais 447.

Para o último dia do festival Marés Vivas está prevista mais uma enchente na praia de Cabedelo com as actuações de dEUS, Editors e do tão aguardado Ben Harper.