“Já há alguns anos que os jornais procuram fugir à redacção comum de um jornal, usando a reformulação gráfica para conquistar novos leitores, mas isso por si só não é suficiente”. Começou assim a apresentação do jornalista Amílcar Correia, presente no II Congresso Internacional de Ciberjornalismo para apresentar um modelo de negócio “emergente”. O órgão de comunicação social de que é sudirector (Público) arrisca, assim, uma nova solução, com o nome de “P3”.
O P3 é um site dirigido aos mais jovens, com o objectivo de colmatar pretensões a que os jornais tradicionais não podem responder. Fruto de um consórcio entre o jornal Público, a Universidade do Porto e o INESC Porto, o P3 será financiado pelo QREN.
Este site “protótipo” vai agregar conteúdos dos vários suportes do Público, juntamente com algum conteúdo dos meios de comunicação da UP (JPN e JPR), numa lógica “não de modelo de negócio”, mas “de parceria”. No entanto, a principal preocupação passa pela produção de conteúdos próprios, aliada a um jornalismo sério e credível com uma atitude provocadora e irreverente.
O P3 foi inicialmente pensado como mais uma parte do jornal impresso, tal como o P2, mas a ideia foi colocada de lado, pois “não era um modelo de negócio muito convincente”, até porque “era mais papel e o mercado estava um bocado farto de papel”, afirma o jornalista. Nesta fase de lançamento, Amílcar Correia não divulga mais pormenores, até porque o projecto ainda está a ser formulado.
Esta iniciativa surge à semelhança de outras experiências bem sucedidas levadas a cabo nos Estados Unidos e na Europa e que servem de modelo para o futuro P3.
Novos modelos de negócios para combater “uma indústria em declínio”
O jornalista esteve presente na mesa de debate com o tema “Novos projectos, novos serviços, novos suportes. Novos modelos de negócio?”, ao lado de Pedro Rios do Porto24, David Pontes da Lusa e Pedro Leal, da Rádio Renascença.
Em entrevista ao JPN, Amílcar Correia afirma que este debate surgiu para “responder a um dos enigmas do jornalismo hoje em dia”, que é “como conseguir obter novos modelos negócios numa indústria que tem estado em declínio”.
“Os jornais ainda vivem com a tradição de ter as principais receitas nas suas edições em papel, e ter um número bastante superior de leitores nas suas versões digitais, apesar de estas representarem em média apenas 10% das receitas das empresas”, afirma Amílcar.
Assim, estes novos modelos tratam-se essencialmente de “tentar encontrar um ponto de confluência entre leitores e receitas publicitárias”.
É possível, ainda, que jornalismo possa “evoluir através das ferramentas tecnológicas que hoje estão ao seu dispor” e, “desse ponto de vista, isso pode significar melhor comunicação, melhor jornalismo”. E melhor jornalismo implica, por si só, acesso a melhor informação e melhor democracia.
O II Congresso Internacional de Ciberjornalismo começou ontem, quinta-feira, com um anfiteatro lotado. Entre as várias comunicações, discutiu-se o aproveitamento das capacidades do online e os novos modelos de negócio na imprensa.
Helder Bastos, docente da Universidade do Porto, apresentou, ainda, o livro “Origens e Evolução do Ciberjornalismo em Portugal: Os Primeiros Quinze Anos (1995-2010)”.