Não é possível tirar conclusões claras da “nuvem de palavras” do CDS-PP, afirma Luísa Neto, professora de Ciência Política da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP). “Não parecem surgir, de modo destacado, expressões que enunciem objectivos claros sobre a reforma do Estado”, diz ao JPN.

Isto leva a professora a crer que o programa eleitoral dos populares “surge como aparente compromisso entre linhas de orientação distintas”. “A aparente prudência e reserva em assumir uma linha clara” pode resultar da necessidade de compactuar com outros interesses, “no contexto de eventuais futuras coligações”.

Veja as “nuvens de palavras” dos cinco principais partidos:

BE aposta nas medidas económicas
-Programa do CDS-PP apresenta objectivos “pouco claros”
CDU destaca políticas sociais
PS tem o discurso mais optimista
PSD apresenta matriz social e liberal

As palavras que se destacam na proposta eleitoral do CDS-PP não revelam “a força ideológica” do partido nem explicitam as suas opções económicas, isto é, se defende a economia de mercado ou a autonomia dos sectores público e privado.

Na análise de José Palmeira, professor na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, o CDS-PP parece querer colocar-se à esquerda do PSD, enfatizando aspectos ligados ao “trabalho” e ao “social”, o que, em teoria, pode significar passar de um conservadorismo ideológico para um centrismo democrata-cristão ou, até mesmo, cristão social.

Contudo, Luísa Neto alerta para o facto de, a par destas palavras ligadas ao sector social, surgirem referências às “Empresas” e ao “Estado”. “Não resultam claras fortes tendências liberalizadoras, ainda que se realce a palavra “fiscal” que parece pressupor a utilização da política tributária como factor de decisão”, afirma a professora.

Luísa Neto diz, ainda, ser “curioso” o peso que a palavra “segurança” assume nas linhas de orientação dos populares, estando de acordo com a posição pública defendida pelo partido.