Entre os 5403 estudantes do ensino superior inquiridos para o estudo [PDF] de Aurora Teixeira, 69,3% afirma copiar nos exames, sendo que, destes, apenas 3,4% foram apanhados em flagrante pelos docentes. Os números são assustadores mas não são, de todo, inesperados, já que a professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) tinha feito, há uns anos, um outro estudo que aprofundou agora. “Não fiquei supreendida”, confessa ao JPN.
Copiar é já um ato considerado pelos alunos “normal” e um problema “pouco grave”. Pedro, estudante na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), confessa cabular com alguma frequência e com meios bastante arriscados. “Costumo copiar principalmente naqueles exames mais difíceis ou então em exames que aparecem no meio de uma semana muito preenchida”, diz. Como é que faz? “Normalmente não recorro a papéis nos bolsos nem ao telemóvel, nem a nada de sofisticado. Levo folhas A4 para a sala e meto-as entre as folhas de rascunho sem que o professor se aperceba”, explica, sem hesitações.
Apesar de copiar de vez em quando, o jovem aluno assume que nem sempre os resultados são excelentes. “Não tiro grandes notas por copiar. Consigo safar-me mas é só isso. Dá para um 10, um 11 ou 12”, conta, acrescentando que já é um veterano na matéria, já que é adepto dos auxiliares de memória desde o 5.º ano. E é precisamente isso que as cábulas significam para Pedro. O estudante diz que aprende sempre que faz os seus “auxiliares de memória” e, como tal, “não é uma questão de ser ou não ‘burro'”. Curioso, no mínimo, é querer ser professor.
Contudo, ou por uma questão de boa educação ou por apenas não querer perder tempo a consultar os auxiliares, há quem opte pela autenticidade de uma prestação num exame. É o caso de João e Rita, dois estudantes da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP). “Nunca pensei em copiar. As coisas correm-me bem normalmente e, além disso, perde-se muito tempo durante o exame a copiar. Além disso, é preciso estar preocupado com o professor, por isso prefiro não copiar”, explica João. Rita, de acordo com o colega, prefere realçar a injustiça de ver alguém com melhor nota tendo utilizado meios pouco ortodoxos para o conseguir.
Ana estuda na FLUP e também se enquadra no lote dos que não copiam. Ao JPN, a aluna diz que nunca o fez e não é agora que o fará. “Nunca copiei. Nem no básico, nem no secundário. Os meus pais sempre me ensinaram a ser honesta e verdadeira”, afirma. “Já tive colegas que viram as suas provas anuladas”, diz, alertando ainda para o risco que é copiar pelo colega do lado em determinadas ocasiões, pois “nem sempre o que copiamos está correto”.
Obrigados a anular provas
Sejam quais forem as razões que levam os alunos à fraude, a atitude do docente deve ser a mesma: anular o exame. Pelo menos é essa a opinião de dois professores com quem falou o JPN. O docente britânico Nicolas Hurst, há muitos anos em Portugal, já se deparou com algumas situações em que se viu obrigado a anular exames. Diz que o melhor é os docentes adotarem o sistema de “exames com duas versões e ordem de questões diferentes”, um método que, acredita, pode contribuir para a redução das fraudes, uma vez que os alunos sabem de antemão que o colega do lado tem um teste diferente.
É, de resto, uma opinião partilhada por Nicole Vareta, que há dois anos abandonou a docência na FLUP. A antiga professora lamenta os números apresentados no estudo de Aurora Teixeira, mas não deixa de relembrar que “copiar é já uma prática muito antiga”. Sobre os 3,4% que confirmam terem sido apanhados, Nicole Vareta assume “alguma falta de atenção dos professores”. Mas também recorda que nos anfiteatros, que chegam a estar repletos de estudantes, é impossível o docente estar atento a toda a gente. Alunos que, do seu ponto de vista, vêm já “mal preparados dos níveis de ensino anteriores” e, por isso, recorrem às fraudes durante os exames.
Softwares não são suficientes para resolver o problema
“A tendência é para crescer”, afirma Aurora Teixeira, referindo-se ao número de pessoas que copiam nos exames. Por agora o que é preciso fazer é tentar contrariar os números e isso, diz a autora do estudo, não passa por criar softwares que detetem plágios, como o Turnitin, por exemplo. O mais importante é “o diálogo e a pedagogia entre os docentes e os alunos”, até porque, sublinha, “muitas vezes os alunos deixam-se copiar pelos colegas por questões de amizade e altruísmo”.
Trata-se de um flagelo que, de acordo com alguns professores, pode comprometer o futuro dos estudantes. Diz a docente da FEP que “enquanto isto for normal para os estudantes vai ser difícil mudar”.