Após o encerramento do Mercado do Bom Sucesso no dia 3 de junho de 2011, os comerciantes que já lá trabalhavam há várias dezenas de anos ficaram sem trabalho e sem local onde exercer a profissão. Assim, viram-se obrigados a procurar soluções, mas baixar os braços não foi o que fizeram.

Além de lutar para que o mercado em questão não fechasse portas, os vendedores juntaram-se e criaram um novo sítio onde podem ainda apregoar e vender aos fregueses: o mercado Bom Sucesso de Agramonte. Atualmente, encontram-se neste mercado 15 dos antigos trabalhadores do Bom Sucesso.

A iniciativa da “reabertura” do mercado do Bom Sucesso partiu de todos os comerciantes, mas o maior responsável foi José Cardoso, produtor e vendedor de produtos hortícolas e frutas. “A única hipótese de escoamento dos produtos era reconstruirmos o mercado e foi isso que eu fiz”, conta. “Fiz isto mesmo por necessidade”, afirma. José Cardoso lembra que em Agramonte tudo está organizado de acordo com o comércio tradicional e no antigo mercado “já não era tanto assim”, refere.

Novo mercado, nova vida

O mercado Bom Sucesso de Agramonte está aberto das 04h00 até as 18h00, todos os dias, excetuando ao domingo. Os produtores e comerciantes do mesmo fornecem quase todos os restaurantes e lojas na zona envolvente de onde está localizado. Todas as pessoas que iam ao antigo Bom Sucesso continuaram a ir ao novo mercado mas, mesmo assim, José Cardoso diz que tem muita gente nova que apoiou e gostou da ideia.

Vendedores antigos e novos clientes

A principal diferença apontada pelos comerciantes entre o novo mercado e o antigo é o tamanho. Ainda assim, estes referem o facto de estarem contentes com o novo espaço e se encontrarem bem localizados. “Tentamos regredir no método de venda, mas dinamizar. E este mercado tem um dinamismo muito eficaz”, adianta o mentor do projeto. O novo mercado situa-se na rua de Agramonte, em frente ao cemitério com o mesmo nome, num antigo armazém de vinhos que tem, agora, seis licenças.

Odete Paço vende produtos hortícolas há 28 anos e diz que “os fregueses são os mesmos”, não os abandonaram. A vendedora gosta do local onde se encontra e, mesmo que pudesse, não trocaria. Odete aponta a boa localização e o estacionamento como bons fatores para o (bom) sucesso do mercado. “Ainda éramos muito novos para abandonar a nossa vida, temos contas para pagar, assim continuamos de cabeça erguida”, afirma.

Maria da Glória tem 50 anos e vende pão e broa de milho no mercado. “A pequena indemnização que nos deram não deu para nada”, diz. “Pensei sempre que nos poriam num mercado provisório para podermos trabalhar, sempre fui uma das pessoas que quis ficar no Bom Sucesso”, declara. A padeira sente muita falta do antigo mercado e diz que “os nossos governantes estão interessados em que os mercados acabem”. “O Rui Rio foi um dos responsáveis pelo mercado do Bom Sucesso fechar”, acusa.

José Cardoso diz que a iniciativa que teve “é o caminho para o próprio país”. “Temos um clima muito propício à produção de frutas e hortaliças”, ressalva. O produtor de fruta refere que há, ainda, vontade por parte dos jovens de trabalhar na agricultura, já que as gerações foram transmitindo conhecimentos entre si, de avós para filhos, pais para filhos e assim sucessivamente.

Segundo o vendedor, o novo mercado dá trabalho a mais de duzentas pessoas, tendo em conta as pessoas que trabalham nas propriedades agrícolas para produzir tudo o que se vende no mercado. “Só por isso já constitui um ato de cidadania e acho que é um exemplo a seguir”, remata.