Perante uma sala Guilhermina Suggia completamente lotada, Miguel Araújo começou por “dar música” aos fãs com os temas “Sete Passos (Carolina)”, “Canção do Clico Preparatório” e “Matérias do Coração”. Foi este domingo, na Casa da Música, que o artista apresentou alguns inéditos como “Cartório”, que vai integrar o próximo álbum provisoriamente intitulado “Disco de Crónicas”, e “Jardim”, sonoridade que ainda nem sequer está registada.

Para impedir que o público perdesse o fio à meada em algumas canções, as letras passaram em rodapé durante todo o espetáculo, mesmo por baixo dos pés de Miguel Araújo. Mas foi em temas como “Fizz Limão”, “Capitão Fantástico” e “Os Maridos das Outras” (momento alto da noite), que a audiência cantou de olhos fechados (sem precisar de recorrer a cábulas).

Sempre acompanhado pela sua guitarra, Miguel Araújo homenageou a banda a que pertence – Os Azeitonas – e cantou, juntamente com um coro de jovens, a famosa “Cantiga de Embalar”. Também em tom de homenagem, o artista portuense agarrou no cavaquinho e entoou a “Rosa da Minha Rua”, recordando os tempos em que vivia na Rua da Rosa, em Lisboa. A “Autopsicodiagnose” fechou a primeira parte do espetáculo.

Artistas de peso em palco

Ainda no início do concerto, nem as vozes estavam aquecidas, Miguel Araújo chamou ao palco Samuel Úria para o primeiro dueto da noite. Juntos cantaram o tema “Império”, de 2009, original de Úria. “Todos os dias me roo de inveja de não ter sido eu a fazê-la”, brincou Araújo. O segundo dueto da noite chegou já a meio do espetáculo. António Zambujo trouxe o fado à Casa da Música e, com Miguel Araújo, deu voz à “Lambreta” e aqueceu muitos corações.

Era então chegada a hora do trio. Araújo, Úria e Zambujo cantaram “Triunvirato”, um tema do artista de Tondela que recorda nomes como Leonard Cohen, Bob Dylan e Johnny Cash.

Ainda que ausente, mas representada pelo seu baterista Mário Costa, Ana Moura foi várias vezes referenciada no palco da Sala Suggia. O tema “E tu gostavas de mim”, encomendado para o álbum “Desfado”, foi um dos que mais animou o público. Afinal, fazer com que um amor seja retribuído é, de facto, uma coisa maravilhosa.

Despedida com sotaque portuense

Depois de uma ausência breve e de aplausos sem fim, Araújo voltou ao palco para cantar a “Desdita”, a primeira música que “fez na vida”. Seguiram-se “Vocês sabem lá”, um clássico da música portuguesa, e “Reader’s Digest”, um tema bem animado que escreveu para António Zambujo.

Tudo indicava que o concerto acabava ali. Já o público estava de pé, a preparar-se para sair, quando Miguel Araújo voltou a subir ao palco para o segundo (e derradeiro) encore da noite. O mesmo não aconteceu em Lisboa, quatro dias antes, no concerto que Miguel Araújo deu no Teatro Rivoli. No Porto, o espetáculo não podia acabar sem a música “O Pica do Sete”, tema que, na capital, não fazia sentido. “Em Lisboa, o pessoal nem sabe o que quer dizer pica”, brincou Miguel Araújo.

Todos os intervenientes no espetáculo subiram ao palco para agradecer ao público. Do outro lado do palco, o público agradeceu-lhes a noite bem passada. Fê-lo com palmas, gritos e pele de galinha.