A Queima das Fitas começou à hora marcada do dia marcado, mas não deixou passar incólume a morte de Marlon. O estudante finalista do Mestrado em Desporto foi homenageado na Monumental Serenata, à 00h01 de domingo, com um discurso do dux facultis da FADEUP, que ainda pediu aos presentes – muitos, de luto académico – um minuto de silêncio – um momento de respeito que não foi respeitado por todos, ainda que o tenha sido pela maioria.
No mesmo dia, no Queimódromo, mais um minuto de silêncio, à 01h00. Mas foi Gabriel o Pensador quem prestou a homenagem mais sentida, dedicando a Marlon a música “Pra Onde Vai Você”. Já na Missa da Benção das Pastas, Américo Martins, dux veteranorum, e o bispo do Porto relembraram também o “trágico acontecimento”. Américo citou o poeta Agostinho da Silva: “Jamais perdi um amigo / Só a morte o levou”.
Funeral ainda sem data
Quanto ao funeral de Marlon Correia, que se deve realizar na igreja de Arcozelo, ainda não se conhece data definitiva. O corpo, depois da autópsia, deve ficar em câmara ardente no pavilhão do Arcozelo. De acordo com a página nas redes sociais, dirigida pela amiga Carolina Alves, está previsto para “terça ou quarta-feira”. A estudante apela aos amigos e conhecidos do Marlon para que compareçam nesse momento. Devem levar as capas para estender no chão e uma rosa vermelha (uma referência à bandeira da Venezuela).
No Cortejo, que decorre a partir das 14h da próxima terça-feira, 6 de maio, Marlon também não vai ser esquecido. Não se sabe ainda o que prepara a Federação Académica do Porto (FAP), mas os alunos de Arquitetura da Universidade Lusíada do Porto já apelaram aos colegas: todos os finalistas devem levar “nas bengalas umas fitas castanhas”, “porque nesta semana, nenhuma cor académica se sobrepõe à solidariedade para com família e amigos e ao manifesto contra a violência”. Para quem não é finalista, pede-se que “seja criativo”: “Levem as fitas no vosso kit, mas não deixem passar a oportunidade de homenagear este nosso amigo”, lê-se no evento do Facebook.
As homenagens têm-se multiplicado e chegaram mesmo à Universidade de Aveiro, que para além de ter feito a Bênção dos Finalistas com os estudantes de luto, cancelou todas as atividades praxísticas, de 4 a 7 de maio.
“Não tiveram coragem para contrariar a diversão”
No entanto, há quem ache que na Academia do Porto, devia ter-se ido mais longe. O diretor da Faculdade de Desporto, Jorge Olímpio Bento, que já tinha pedido a abstenção aos festejos, voltou a defender a sua posição. Num comunicado em nome da direção, divulgado este domingo, diz que “a gravidade do acontecimento exigia uma reacção correspondente, drástica e radical”. Assim, defendem que “a FAP podia e devia ter feito outra escolha”.
O diretor sublinha que o Queimódromo “devia ter sido encerrado, nem que fosse uma noite”. “Mas não, a festa (?!) e o negócio prosseguiram indiferentes ao facto de nele ter sido ceifada a vida de um jovem carregado de sonhos”, lê-se. “A FAP e a AE FADEUP podiam ter escolhido o luto, mas não tiveram coragem para contrariar a diversão”.
Classificando a atitude das associações como uma “chocante opção”, lamenta ainda que “uma e outra” tenham ficado “aquém das causas e ideais que é suposto representarem”. O JPN tentou entrar em contacto com a AE FADEUP e a FAP, mas não obteve resposta.
No primeiro dia da Queima, no entanto, a barraquinha do curso de Desporto, no recinto, esteve encerrada em forma de luto. “O céu ganhou uma estrela que está a sorrir para nós”, lê-se, na fachada.
Marlon Correia, estudante de 24 anos, foi morto no Queimódromo, na madrugada de sábado, dia 4 de maio, na sequência de um assalto ao cofre da FAP, que continha a receita das bilheteiras.