Alberto Silva, gondomarense de 20 anos, confessa que o Dia da Defesa Nacional (entretanto extinto) fez com que aquele “bichinho” aparecesse, mas, para além disso, contribuíram os vários amigos e familiares que o aconselharam a “optar pela vida militar”. Já Gustavo Santos Rodrigues, oriundo da Maia, tem 18 anos e sempre se interessou por aviação. Candidatou-se logo que soube que “era possível fazê-lo através do site da força aérea”.

Quando questionados sobre a escolha da opção militar em detrimento de um trabalho na vida civil, as motivações são ligeiramente diferentes. Gustavo diz que ser piloto de avião sempre foi uma das suas opções de possíveis carreiras e que a Força Aérea “combina a oportunidade de fazer aquilo de que se gosta com a possibilidade de ter uma participação ativa na defesa do país e dos seus interesses”.

Por outro lado, Alberto admite que o contexto do país também influenciou a sua decisão: “Esta opção aparece um pouco como salvação. O trabalho na vida civil escasseia e eu, estando a tirar o curso de Ciências de Comunicação no ISMAI, por amor à arte, não via grande futuro no mundo jornalístico”. Para além do curso, Alberto trabalhava num supermercado e ainda dava explicações num ATL. “Vendo que mais cedo ou mais tarde acabaria por não conseguir suportar os custos do curso, optei pela carreira militar”, conclui.

Estar disponível “24 horas e 365 dias por ano”

Hoje em dia, a carreira militar “é vista com outros olhos por jovens que não tiveram oportunidades desejadas para prosseguir estudos ou um emprego que lhes garantisse sustentabilidade”, diz Alberto. Ainda assim, de acordo com Gustavo, quem está de fora não percebe bem o que significa esta opção de vida: “Acho apenas que não sabem do que falam, porque nunca passaram por uma experiência do género”. Alberto concorda: “De facto, existe um pouco de preconceito para com a vida militar”.

A adaptação ao rigor do mundo militar não foi fácil para nenhum dos dois jovens. “Foi complicado, confesso”, diz Alberto. “De um momento para o outro ficar sem a família e amigos, conhecer novas pessoas e toda uma outra realidade foi, durante a primeira semana, um pequeno choque”, acrescenta.

“No início é bastante complicado, mas quem gosta não tem grandes problemas”, afirma Gustavo. Em relação à rotina, Gustavo tem de estar sempre disponível para o serviço, “24 horas e 365 dias por ano”, sendo que passa a maior parte do tempo na academia. Alberto tem uma rotina semelhante: “Neste momento, em que sou recruta, passo a semana toda na Unidade. Apresento-me no domingo à noite e sexta, ao meio dia, já estou dispensado para regressar”.

Uma vida diferente, difícil, rotineira, mas que, “gradualmente, se vai tornando num gosto enorme”, conclui Alberto Silva.