A partir desta quinta-feira quem estiver pelo Porto vai poder visitar clones perfeitos das principais jóias da cartografia portuguesa e dos manuscritos iluminados mais importantes da Europa. ”A arte e o génio ao serviço do poder” vai estar em exposição no Palácio da Bolsa até dia 1 de maio.
São grandes jóias da cultura universal que estão sob custódia dos principais museus do mundo como o Metropolitan Museum of Art, Bibliothèque Nationale de France, o Museu Fundação Calouste Gulbenkian e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo que foram clonados por um dos mais prestigiados editores e restauradores do mundo, Manuel Moleiro. “Vamos encontrar nesta exposição uma viagem no tempo. Desde o segundo século antes de Cristo até à obra mais recente em 1582. São sete séculos de história. Considero uma visita a esta exposição um verdadeiro privilégio”, contou ao JPN, Manuel Moleiro.
Quem visitar o primeiro andar do Palácio da Bolsa vai poder viajar por 30 clones de códices completos. Mapas como o Atlas Miller que é considerado “por muitos autores como o mais bonito e o mais importante da história da cartografia” e o Atlas Universal de Fernão Vaz Dourado, que está em Portugal, são algumas das obras de destaque. Os visitantes vão poder ainda folhear textos sobre o “Tratado de Medicina” e outros como “O Livro da Felicidade”, um manuscrito iluminado realizado no Império Otomano.
A Universidade do Porto (UP), a Universidade Nova de Lisboa (UNL) e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo participaram neste projeto ao dar um contributo importante na produção do livro “Atlas Universal de Fernando Vaz Dourado” editado por M.Moleiro. Pela primeira vez, o atlas vê a luz do dia e “fica difícil perceber o que é original e o que é réplica”, confessa Manuel Moleiro. O tato, a espessura e até o odor foram reproduzidos para fazer o visitante ir até à época dos navegadores portugueses. Todo o trabalho está compilado neste livro que para além dos mapas, traz um contexto histórico e iconográfico dos documentos.
João Carlos Garcia, geógrafo da UP e coordenador do projeto, que data 1571, contou ao JPN que foi reunida uma equipa de investigadores das mais diversas áreas com o objetivo de ter “diferentes leituras da mesma obra”. “Tivemos geógrafos e historiadores da cultura e da arte. Químicos da UNL que explicam de forma sucinta a análise que foi feita dos pigmentos das tintas dos originais que estão na Torre do Tombo”, explica João Carlos Garcia.
Moleiro revela ainda que correu as bibliotecas do mundo com o que de melhor tinham para a realização deste trabalho e que está no Porto, movido por uma vontade particular. “É de contar nos dedos das mãos, e mesmo assim sobrariam muitos, as pessoas no Porto que viram os originais destas obras. Estava na hora de lhes proporcionar isso”, comenta o restaurador.
A exposição está no Palácio da Bolsa, no Claustro e na Galeria dos Presidentes, a partir desta quinta-feira até dia 1 de maio das 9h00 às 18h30. O preço do bilhete é de 8€ ou 4,5€ para estudantes.
Como o mundo era visto
Destaque ainda para dois mapas extraídos do “Atlas Universal de Fernando Vaz Dourado”. O primeiro (em cima na foto) é do Oriente: “Ainda estamos no tempo em que as viagens eram todas marítimas. Aqui vemos um itinerário em direção à China e ao Japão. Como não se conhece o que está para a esquerda e nem para a direita é como se fosse um corredor de circulação em que o que estava a volta os navegantes não sabiam se eram continentes ou ilhas”, conta João Carlos Gacia diante do mapa do Oriente.
O outro é da América do Sul: “Na costa brasileira há uma densidade muito grande de topónimos e à medida que nos afastamos para o Rio da Prata há cada vez menos. Isso porque a Norte temos a parte mais colonizada, onde havia mais viagens. Esses rios da Bacia do Prata, ninguém sabia se se juntavam algures no interior com os afluentes do rio Amazonas. No século XVII desapareceria a ideia de que o Brasil era uma ilha e esses rios que desciam para o Amazonas, juntar-se-iam no interior numa grande lagoa, tal facto não será completamente errado se pensarmos no Pantanal”, conta João Carlos Garcia diante do mapa da América do Sul.
Artigo editado por Filipa Silva