As “máscaras” reproduzem rostos de cadáveres, homens, mulheres e crianças, mortos por enforcamento entre 1913 e 1943. São 25 peças feitas em gesso, parte de uma coleção centenária até agora esquecida nos arquivos do Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses (IMLCF) de Lisboa. Estão desde novembro expostas na Reitoria da Universidade do Porto e foram esta quinta-feira apresentadas pelo curador Carlos Branco.

A origem destas “máscaras” está relacionada com um estudo realizado por João Azevedo Neves, médico e primeiro diretor do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, para provar uma teoria que relacionava a expressão facial post mortem com a causa da morte – dolorosa ou tranquila – tema discutido internacionalmente na altura.

Nesta coleção portuguesa “inédita, profunda e exaustivamente documentada”, “cada uma destas máscaras corresponde a uma pessoa que existiu na verdade”, afirma Carlos Branco, curador da exposição.

Peças da exposição "Facis Mortis"

Peças da exposição “Facis Mortis” Foto: Camila Ribeiro Moutinho | Filipa Fonseca

Caraterizada pelo elevado número de peças, pelo bom estado de conservação das máscaras e pela inclusão de vítimas de homicídio e suicído, a maior particularidade está na riqueza dos documentos associados a cada peça, que nos permitem identificar cada uma das 280 vítimas que integram o total da coleção, e convertê-las de rostos ou meros objetos científicos em pessoas.

“Poderá uma morte tranquila desencadear, no cadáver, uma face tranquila ou até sorridente? Em oposição, será que uma morte violenta coloca no cadáver um rosto de tristeza, dor ou medo?”. A resposta é que a causa – o enforcamento, neste caso – não é tão determinante para a expressão quanto a circunstância da morte – se se trata de um suicídio ou de um assassinato, por exemplo.

As perguntas são propostas ao longo do percurso que passa por cinco áreas. Na primeira, são apresentadas as cinco expressões da morte que o autor do estudo identificou, organizadas como um “expressómetro”, uma espécie de escala: tranquila, inexpressiva, tristeza, dor e terror.

De seguida são exibidas partes do estudo documental: desenhos técnicos, fotografias, relatórios de autópsias, tecidos de roupas, fragmentos de pele, objetos utilizados pela vítima e objetos envolvidos na sua morte.

Em terceiro lugar são apresentadas “Três histórias de vida e três rostos da morte | Dois rostos da morte e duas histórias de vida”, área onde podemos conhecer algumas das histórias destes rostos. Um dos exemplo mais marcantes é o de uma menina de seis anos, estrangulada pelo pai, “era uma criança pobre, o pai tinha várias dependências, não conseguia garantir o sustento da filha e decidiu estrangulá-la.”, conta Carlos Branco.

Carlos Brancos, curador, e João Pinheiro, do INMLCF.

Carlos Brancos, curador, e João Pinheiro, do INMLCF. Foto: Camila Ribeiro Moutinho | Filipa Fonseca

Noutra secção, 20 máscaras estão suspensas à altura real dos donos daqueles rostos. No centro está suspensa uma corda, o que liga todas aquelas pessoas, uma “Vida suspensa | Morte por suspensão”.

Por último é exibido um filme de Pedro Mesquita, pois aos olhos de Carlos Branco e João Pinheiro, estas máscaras são um simbolo da relação da ciência com a arte, algo que consideram importante reforçar. De resto toda a exposição tem em conta essa dimensão e interpretação artística.

A exposição chegou ao Porto por incentivo de Fernanda Rodrigues, da Delegação Norte do instituto, após uma versão mais reduzida que teve lugar em Coimbra.

João Pinheiro, vice-presidente do IMLCF, sublinha o interesse museológico e cultural, conferido pela documentação da coleção, e alude ao arquivo que o instituto tem e que deve ser dado a conhecer a toda a comunidade. Nesse sentido, podemos esperar algumas exposições do género, estando já pensada uma para Lisboa que integra o espólio de tatuagens em tecido humano de que dispõe o Instituto.

Entre as 10h00 e as 18h00, de segunda a sexta-feira, até 27 de janeiro, a exposição “Facis Mortis – Histórias de Vida e Rostos de Morte está na Reitoria da Universidade do Porto. A entrada é gratuita.

Artigo editado por Filipa Silva