Foi um jogo intenso e rodeado de alguma polémica aquele que se viu no Estádio do Dragão, esta sexta-feira, depois de uma pausa nas competições de clubes.

Houve destaques individuais positivos e negativos do lado do FC Porto, perante um Chaves que, apesar de ter de sofrer em alguns momentos, sempre se mostrou à altura dos acontecimentos.

O empate a um golo com que terminou a contenda acaba por se aceitar e resta, agora, aos treinadores mudarem o chip do seu plantel para o campeonato. O Desportivo, na próxima semana, regressa ao Porto mas para jogar no Bessa e o FC Porto desloca-se ao Bonfim.

Semana atípica

Depois de uma semana de pausa para compromissos de seleções, qualquer jogo tem contornos muito sui generis. Foi com muitos condicionalismos que Sérgio Conceição e Daniel Ramos se viram obrigados a preparar a estreia na fase de grupos da Allianz Cup.

Do lado do Desportivo de Chaves, a defesa habitualmente titular estava desfeita pelas lesões de Maras, Djavan e Paulinho e, também no meio campo, as ausências do influente Bressan e do pêndulo Eustáquio deixavam o treinador flaviense obrigado a confiar em elementos como Bruno Gallo ou Ghazaryan que, apesar da muita qualidade técnica, podiam claudicar no momento defensivo.

Sérgio Conceição, antes do jogo, lembrara o grupo de que, na época anterior e para a mesma competição, a sobranceria havia custado aos dragões dois pontos em casa frente ao Leixões.

O onze do FC Porto estava também envolto nalgumas dúvidas. Se o treinador havia garantido que não faria uma revolução no onze, também havia a expectativa de perceber se este seria o momento de Adrián López. O avançado espanhol, em função dos problemas físicos de Soares, Aboubakar e André Pereira, podia ver aqui uma janela de oportunidade. Também era provável que o guarda-redes Vaná tivesse, na Taça da Liga, a sua oportunidade.

Surpresas nos onzes

A provável ausência de Eustáquio, do lado do Chaves, não se confirmou. Com apenas um treino de preparação para o jogo, o médio defensivo foi titular. Assim, Daniel Ramos formou um meio campo composto por Eustáquio, Jefferson e Gallo, bem mais responsável defensivamente do que o previsto. Brigues e Luís Martins foram os laterais obrigados a ir a jogo.

Do lado do FC Porto, as eventuais titularidades de Adrián e Vaná confirmaram-se, mas as maiores surpresas estavam reservadas para a linha defensiva. João Pedro, que ainda não tinha sido utilizado esta temporada, assumiu a lateral direita e o central Diogo Leite voltava a ter uma oportunidade ao lado do “Xerife” Felipe.

Mais à frente, nota de destaque para a titularidade de Corona (primeira desta época) e, claro, para o regresso de Danilo ao onze inicial. O “Comendador” formou dupla com Herrera no meio campo, dupla essa que deve ser praticamente intocável ao longo da época.

Dragão dominador no início

O Dragão ainda estava a acabar de cantar a música que marcou o campeonato passado e já o FC Porto criara a primeira grande oportunidade de golo do jogo.

Foi o central Felipe quem, à boca da baliza, tentou um golaço de calcanhar, mas ficou-se pela intenção. O FC Porto parecia querer partir para uma exibição ao nível do que habituou os portistas na época anterior. Intensidade foi a nota dominante dos primeiros 20 minutos: intensidade na recuperação, na condução e no ataque à baliza adversária. O ponto forte do FC Porto passava mesmo pela velocidade com que, quer os extremos, quer os médios, conseguiam recuperar a bola em momentos em que o adversário estava desequilibrado.

As oportunidades de golo (sempre perto da baliza de António Filipe) não eram flagrantes, mas aconteciam. Depois do calcanhar de Felipe, eram quase sempre os cruzamentos de Alex Telles, quer de bola parada, quer de bola corrida, que assustavam uma equipa do Chaves que, aos 18 minutos, teve o seu primeiro remate num lance em que Luís Martins não tinha mais opções.

O que parecia, numa fase inicial, faltar ao FC Porto era um pouco mais de acutilância dos avançados. Um par de arrancadas de Marega e uma boa jogada de entendimento entre o maliano e Adrián não chegavam ainda para marcar.

Dragão a arder

À passagem da meia-hora, o Chaves pareceu acertar melhor as marcações. Depois de aguentar um período em que o FC Porto foi acutilante, os flavienses começaram a conseguir não perder a bola tão rapidamente, apesar de ainda não conseguirem assustar Vaná. O FC Porto continuava a controlar o jogo, mas já não o dominava.

Para os comandados de Daniel Ramos interessava, nesta fase, esperar sem sobressaltos o momento de ferir o dragão. Bruno Gallo aproveitou uma segunda bola, nascida de um contra-ataque conduzido por Perdigão para aos, 40 minutos, fazer o primeiro remate à baliza do FC Porto.

Até ao final da primeira parte, os dragões podiam ter marcado por Herrera depois de uma grande jogada de Jesús Corona, mas parecia evidente que, depois de não ter conseguido marcar no seu melhor período, o FC Porto deixou de ser avassalador.

O ambiente no Estádio do Dragão foi muito tenso nos minutos finais da primeira parte. Os jogadores do Desportivo de Chaves retardavam o jogo a cada paragem e o árbitro, Vítor Ferreira, nunca sancionou a atitude. No entender do tribunal portista, este foi motivo mais do que suficiente para um coro de assobios ensurdecedor à equipa de arbitragem aquando da sua saída para os balneários.

Chaves mais ambicioso

O intervalo não trouxe substituições mas havia alguma expectativa para perceber se, nas duas equipas, alguns jogadores que estiveram em sub-rendimento apareceriam na segunda parte. Quem já não apareceu nessa altura foi Sérgio Conceição. O treinador portista foi expulso ao intervalo.

Se Sérgio Conceição e os portistas imaginavam uma entrada ao nível do que sucedeu na primeira parte, desenganaram-se logo nos primeiros minutos da segunda parte. As linhas dos flavienses pareciam ligeiramente mais subidas e o jogo mais aberto. É certo que Daniel Ramos estava a arriscar e que Danilo, de pé esquerdo e de fora da área, podia ter marcado aos 52 minutos, mas o espetáculo no Dragão podia vir a beneficiar com esta abordagem dos transmontanos.

Neste momento, o golo nunca tinha estado tão perto mas podia surgir em qualquer baliza. Depois de Danilo, foi Perdigão quem ameaçou de fora da área.

Sérgio Conceição sentiu que chegara o momento de abanar o jogo e lançar o primeiro trunfo.

O herói inesperado

Não surpreendeu que entrasse Brahimi, mas talvez tenha surpreendido que não fosse Adrián a sair. O espanhol não estava a aproveitar a sua oportunidade e Corona estava bem melhor no jogo. De qualquer das formas, a entrada do argelino mexeu com o jogo e o FC Porto, ainda que não estivesse a ser eficaz, voltava a estar por cima.

A bola estava agora do lado de Daniel Ramos que, a cada minuto que passava, via o FC Porto mais perto da vantagem.

Pouco mais de 20 minutos faltavam para o fim do jogo quando Avto foi lançado do lado do Chaves. Com a entrada do georgiano pareceu evidente que Daniel Ramos queria ganhar o jogo, mas não arriscando tudo. O substituído foi Niltinho e o Chaves tinha agora um extremo mais fresco para manter a defesa do FC Porto em sentido.

Apesar do nulo se manter, ambos os treinadores pareciam querer ganhar o jogo.

Com dois minutos em campo, o recém-entrado Hernâni fez mais do que Adrián López em todo o jogo. Pouco depois de assistir Marega para um golo falhado, marcou ele próprio pleno de oportunidade, aos 74 minutos. O ambiente no Dragão estava muito tenso até então e o que se seguiu foi uma explosão como há muito não se via na Taça da Liga.

Golpe de teatro

Quem pensava que o resultado estava decidido foi surpreendido poucos minutos depois. Na sequência de uma jogada conduzida por Avto, Stephen Eustáquio (um dos melhores jogadores dos flavienses), cabeceia ao segundo poste para o fundo da baliza de Vaná.

Faltavam sete minutos para o final e a resposta dos treinadores foi instantânea: Daniel Ramos tira o ponta-de-lança William e lança o trinco Felipe Melo, abdicando de atacar. Sérgio Conceição arrisca tudo com a entrada de Aboubakar.

Depois de um jogo de nervos à flor da pele, o Dragão voltou a explodir de alegria e depois de raiva. Golo anulado a Aboubakar no último lance do jogo, por mão do camaronês. Um lance bem anulado. Ainda assim, a arbitragem de Vítor Ferreira foi, ao longo de todo o jogo, muito contestada pelos dragões. Na retina ficam dois lances na área do Chaves já perto do fim que deixam muitas dúvidas por entradas sobre Brahimi e Aboubakar.

O FC Porto e o Desportivo de Chaves acabaram por levar para casa apenas um ponto, num grupo que ainda conta com o Varzim e o Belenenses. O resultado é bem melhor para os transmontanos, como admitiu o técnico Daniel Ramos em conferência de imprensa após o jogo. Sérgio Conceição estava visivelmente agastado com a prestação da equipa de abritragem.

“Vi um árbitro com pouca personalidade”

Se estava mal por causa do resultado, o treinador do FC Porto, Sérgio Conceição, ficou pior com a primeira pergunta da conferência de imprensa, que foi relativa à sua expulsão. “À frente de 12 ou 15 testemunhas, o árbitro expulsou-me porque eu disse que o tempo útil do jogo tinha sido muito curto. Pareceu-me um árbitro com pouca personalidade, pouco caráter e pouco seguro do que estava a fazer. Se calhar, seria interessante trazer o VAR para esta competição também”, afirmou.

Questionado sobre a exibição da sua equipa, Sérgio Conceição fez uma análise completa: “Não acho que tenha sido um grande jogo do Chaves, nem que tenham feito falta alguns habituais titulares. Houve alguma falta de eficácia nossa e alguma lentidão na circulação de bola na primeira parte, o que tentámos corrigir ao intervalo. Sem termos feito um grande jogo, penso que criámos algumas oportunidades e que merecíamos a vitória. Estamos a levar esta competição muito a sério. Eu quero ganhá-la”, conclui.

“O enervar faz parte”

Já Daniel Ramos mostrou-se satisfeito com a exibição do Chaves: “Tivemos uma postura boa, a melhor para nós: compacta, sólida, solidária e com sentido de entre-ajuda. Sabíamos que íamos sofrer”.

Depois de ter sido goleado no Dragão na primeira jornada do campeonato, para o seu treinador, o Chaves “deu uma imagem bem diferente desse jogo. Houve mais mérito do Chaves e não demérito do FC Porto. Sempre vi um FC Porto a querer ser intenso e resolver o jogo cedo”.

O técnico justificou ainda as sucessivas perdas de tempo na primeira parte: “O enervar e o jogar com o relógio faz parte do jogo também. A nossa equipa soube ser matreira e isso também é importante”.

Artigo editado por Filipa Silva